Wednesday 19 December 2007

Escritores Fantasmas



Há pouco tempo o "Times" trazia um artigo sobre os escritores fantasma, que estão a dominar cada vez mais o mercado dos livros na Grã-Bretanha. Isto por causa do sucesso das biografias de celebridades que contratam jornalistas ou escritores pouco conhecidos para "transcrever" as suas memórias, mesmo quando ainda quase não têm idade para as ter. Aqui não há cão nem gato, participantes do "Big Brother" e do "X Factor", futebolistas, membros de grupos musicais pré-fabricados, apresentadores de rádio e televisão, modelos de Página 3 (raparigas normalmente despidas e de cabelos oxigenados com peitos salientes) que não impinja a sua biografia ao público.


A verdade é que não é muito difícil impingir livros que o público quer comprar e que se tornam "bestsellers". O equivalente ao Zé Povinho britânico, o John Smith entretem-se, emociona-se e inspira-se com as histórias da vida destas personagens chamadas "Z list celebrities", ou seja pessoas famosas de quarta ou quinta categoria. Mas porquê?


Vamos analisar casos. São normalmente jovens de origens humildes que triunfam materialmente apesar de não terem críticas positivas ao seu "trabalho", que consiste em "tentar ser famoso". A infância e adolescência deve ser miserável e escabrosa com episódios de abuso sexual, drogas, dependência face ao sexo, desordens alimentares e timidez crónica. Depois tem que haver o triunfo sobre a adversidade e a epifania do que realmente é importante na vida: ser um sucesso e ganhar muito dinheiro, comprar mansões de mau gosto e vestir-se de Gucci da cabeça aos pés e ser um "role model". Que alguém possa considerar as "Spice Girls" um modelo de comportamento a seguir é um mistério, mas o próprio "Secretário de Estado para as Crianças" (sim, existe) do governo Gordon Brown sugeriu isso mesmo: As "Spice Girls" devem servir de inspiração às crianças britânicas.


Desde cantoras tipo Victoria Beckham (com vários livros escritos pela sua pena não existente) à modelo Jordan (célebre pelo tamanho do peito) que agora também escreve romances que vendem mais que os autores seleccionados para o prémio Booker todos os juntos, a futebolistas quase analfabetos, a cozinheiros com mais jeito para souflés do que para escrever há muitos candidatos à procura de um bom escritor fantasma. Publicar um livro tornou-se tão necessário como ser vonvidado em "chat shows", fazer anúncios, lançar um perfume: faz parte do "branding".


O escritor fantasma ideal deve ser ultra-discreto e assinar documentos de confidencialidade, além de conseguir reproduzir a "voz", o "espírito" da pessoa que vai retratar na auto-biografia.


Para os que aspiram a escrever mas não têm ideias e um ego capaz de ficar nos bastidores é a melhor opção. Segundo o "Times" existem cinco ou seis escritores fnatasmas que ganham a vida é até podem ficar ricos no actual mercado.


O termo escrita fantasma data dos anos 20 nos Estados Unidos, quando jogadores de baseball começaram a publicar colunas nos jornais escritas por outras pessoas enquanto eles passavam o tempo no relvado com um boné, um bastão e calças justas.


Um problema que pode ocorrer nesta dúbia transacção entre autor e sujeito é que a celebridade pode convencer-se que o livro foi escrito por ela. Outros mais modestos como Ronald Reagan insinuam que não escreveram uma única palavra. Quando um jornalista lhe pediu para comentar o seu livro" An American Life", o ex-actor, ex-presidente respondeu: "I hear it's a terrific book"..."qualquer dia vou-lê-lo".


Também os políticos estão demasiado ocupados para escrever as suas biografias, outros livros, colunas e artigos em jornais e manter blogues, recorrendo aos serviços de profissionais. No entanto os escritores fantasmas permanecem invisíveis, se calhar a planear uma revolta ou uma greve como os guionistas de Holywood...quem vai escrever as memórias das Paris Hiltons deste mundo?

Friday 14 December 2007

O Natal em Londres



Eça de Queiroz, que como diz a minha avó é uma referência fundamental onde se encontram pensamentos, divagações e lições sobre todos os temas (ou quase todos) e que pode ser consultado como uma enciclopédia da contemporaneidade, escreve nas Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres sobre o Natal.
“O Natal, a grande festa doméstica da Inglaterra, foi este ano triste (...) o que nos estragou o Natal, não foram decerto as preocpaçãoes políticas (...) as desgraças públicas nunca impedem que os cidadãos jantem com apetite e misérias da pátria, enquanto não são tangíveis e se não apresentam sob a forma flamejante de obuses rebentando numa cidade sitiada, não tirarão jamais o sono ao patriota.
Não, o que estragou o Natal foi simplesmente a falta de neve. (...) um natal sem neve, um Natal sem casacos de peles, parece tão insípido e tão desconsolado como seria em Portugal a noite de S. João, noite de fogueiras e descantes, se houvesse no chão três palmos de neve e caísse por cima o granizo até de madrugada! Um desapontamento nacional”.
A obsessão britânia com o “White Christmas” tem no entanto diminuido nos últimos anos, talvez devido à inconturnável realidade do malfadado aquecimento global. Hoje de manhã, por exemplo, havia geada nas ruas, partículas brilhantes e folhas geladas como se tivessem sido polvilhadas com acuçar cristalizado. A relva do jardim estava coberta com uma fina camada branca, mas não há sinais de neve.
Na televisão já não se ouve falar tanto na possibilidade de neve no Natal, mas sim das flores que, confusas com as alterações climatéricas, decidem florescer meses antes da Primavera, dos pássaros que não sabem a quantas andam e cujas trajectórias migratórias foram modificadas por temperaturas mais amenas no norte da Europa.
Assim como a questão fascinante de qual disco será "número 1" no top na altura do Natal, fazem-se apostas se haverá ou não neve a completar o quadro nostálgico da época natalícia (que oscila entre o estilo rústico vitoriano por um lado e os anos 50 do género Bing Crosby por outro).
Mas há outro Natal que espantaria o Eça: o Natal “kitsch” das festas de escritório, das senhoras de sandálias com menos 2 graus centígrados, dos tontos que andam vestidos de pais natais ou de alces ou elfos ou com decorações a enfeitar a roupa, brincos em forma de árvore de natal, camisolas de lã com bonecos de neve, das casas cobertas de luzes por fora, das canções dos anos 80.

Voltando ao Eça (e volta-se sempre ao Eça) esta pequena crónica do Natal começa muito bem a descrever a falta de neve e a magia e encanto da festa cristã: "e por corredores e salas, as crianças, os bébés, com os cabelso ao vento, vestidos de branco e cor-de-rosa, correm, cantam, riem, vão a cada momento espreitar os ponteiros do relógio monumental, porque à meia noite chega Santo Claus, o venerável Santo Claus que tem três mil anos de idade e um coração de pomba (...). Mas não se iludam os que pensam que o Natal subiu à cabeça do Eça e o romantismo lhe turvou a mente lúcida. A verdade é que esta crónica cedo descamba para o cinismo, a crítica social e o desprezo e desilusão causada pela condição humana. Depois de falar das criancinhas e do "Papá Natal", o "respeitável ancião", o escritor lembra que a ausência da neve tem um ponto positivo: "resta a consolação que os pobres tiveram menos frio". E daí não há como estancar a tinta na pena cáustica do Eça que logo nos descreve o lado miserável da Inglaterra no fim do século XIX, das crainças com fome e da caridade sazonal, dos trabalhadores famintos na Irlanda revoltosa:"Donde se prova que esta humanidade é o maior erro que Deus jamais cometeu (...) de facto, pode-se dizer que o homem nem sequer é superior ao seu venerável pai, o macaco: excepto em duas coisas temerosas-o sofrimento moral e o sofrimento social."

Ora eu acredito que o Eça tenha iniciado a crónica com boa vontade, mas o instinto crítico e a consciência foram mais fortes que os lugares-comuns sobre a nevezina, os bébés de cor-de-rosa e o Santo Claus.


Sunday 2 December 2007

Londres-um guia pessoal e transmissível

Greenwich


Por onde começar?
Um dos meus blogs preferidos "The Greenwich Phantom" explica que "Greenwich is one of the coolest "uncool" places there is in London". Ou seja é um bairro que não está na moda, não é "hip", em "trendy" nem "happening"e é aí que reside o seu encanto.
Na psico-geografia de Londres, Greenwich é considerado "fora de mão", longe do centro, um local onde vão os turistas ou onde se vai passar o dia, porque está distante do epicentro da cidade, de Soho, de Covent Garden, do "West End" e de Notting Hill. A viagem para os que lá não moram ou costumam frequentar parece interminável, tem que se apanhar um comboio de Charring Cross (20 minutos) ou o DLR, uma extensão do metro à superfície que passa por Canary Wharf e pelas docas, arranha-céus, apartamentos de luxo e parques indsutriais.
A verdade é esta: Greenwich fica na margem sul do Tamisa. E toda a gente sabe que Londres se divide entre norte e sul do rio. Quem mora no norte nunca, em nenhuma circunstância vai ao sul. E quem mora no sul, quando muito vai ao centro. Há uma enorme rivalidade entre as duas facções ou tribos urbanas. Mas não nos adiantemos a examinar a dicotomia norte-sul, a mais importante, com paralelos com a guerra civil norte-americana, em termos de lealdades, não em termos de plantações de algodão, escravatura e tudo o vento levou.
Esta gigantesca metrópole de 10 milhões de almas é composta de aldeias e "pockets" de pobreza ao lado de bairros de bilionários (geralmente russos e árabes que adoram o Harrods e as vantagens que o governo britânico lhe dá). O oeste em geral é a zona mais chique, que se estende de Notting Hill, a Kensington, Chelsea, Fulham, Chiswick a Richmond. Depois há um leste que é o território "cockney" e "Working class", industrial e do "East End". O norte da cidade é muito mais bem cotado do que o sul. É no norte que fica Hampstead, Highgate, Islington e Camden (um bairro de mau nome que foi reabilitado). O sul foi mais severamente bombardeado na II Guerra Mundial, por isso tem um planeamento urbano duvidoso ou inexistente, com crateras metafóricas urbanísticas. Não há continuidade, há zonas industriais, misturadas com bairros residenciais, com baldios, fábricas e edifícios vitorianos no meio. . Tem paisagens de uma agressividade estética estonteante. Basicamente o sul não faz sentido.
E é neste contexto que surgem pérolas como Dulwich, Camberell, Blackheath e Greenwich.

(continua)

Friday 30 November 2007

Um "Crumble " que Não Estraga a Dieta


Crumble Star Aniseed

Tendo passados os últimos 20 anos em dietas, especializei-me na adaptação de dietas engordativas em algo que possa satisfazer o apetite com menos calorias, gorduras e açucar. Nem sempre é fácil e acho que tenho tal fobia de açucar que os meus bolos não são os mais apetitosos do mundo. Mas não se pode ter tudo.


Nunca sou capaz de seguir receitas, tiro e adiciono ingredientes, modifico e invento, conforme as minhas restrições alimentícias e de maneira a que o prato final seja saudável, agradàvel à vista e saboroso.


Este "crumble" é delicioso e fácil de fazer e "engana", quem quer uma sobremesa mas está de dieta. Como sempre convem comer porções pequenas. Eu sirvo-o numas taças muito pequenas, brancas que podem ir ao forno.

Ingredientes
Frutos silvestres
maças reinetas
canela
gengibre em pó
mel
adoçante
erva-doce
"Star aniseed"
Casca ralada de laranja
amêndoa em pó (um óptimo substituto de farinha para vários pratos)
aveia em flocos
manteiga sem sal
xerez, vinho do porto ou moscatel ( tem que ser alcoólico e ultra doce!)
Método
Começa-se por fazer uma compota com os frutos silvestres numa colher ou duas de água, com o mel, as especiarias e com o vinho doce. À parte mistura-se as amêndoas raladas com a manteiga, oa aveia, o adoçante e mais canela, de maneira a formar uma consistência de areia grossa.
Coloca-se as maças cortadas às fatias grossas no fundo da travessa para ir ao forno. Cobre-se com a compota e depois cobre-se com as amêndoas-aveia. Vai ao forno duranye 30 ou 40 minutos.




Wednesday 28 November 2007

Duas Receitas Simples de Bacalhau Fresco

Couscous Con Pesce
Bacalhau com Grão


Couscous con Pesce

Ingredientes
Couscous
Bacalhau
300 gr de camarões
Caldo de peixe
2 cebolas médias
alho
100 gr de amêndoas
3 tomates maduros
1 chili
1 pau de canela
1 pitada de colorau
louro
1 copo de vinho branco
Salsa
Azeite

Método
Deita-se o caldo de peixe a fever num recipente com os couscous cobrindo-os acima com 4 dedos (o líquido é completamente absorvido). Faz-se um refogado com azeite, alho, a cebola, o pau de canela, o louro e as amêndoas. Junta-se aos couscous que entretanto já estão cozidos. Separadamente frita-se o bacalhau e os camarões em azeite durante cinco minutos, deita-se o vinho. Tapa-se e deiza-se cozer durante 10 ou 15 minutos, deita-se a salsa.
Serve-se o peixe em cima do couscous.

Bacalhau com Grão à Espanhola
Ingredientes
Bacalhau
Grão de lata
Salsa
Caldo de peixe
Azeite
Tomate enlatado
Cebola
Alho
Copo de vinho branco

Método
Faz-se um refogado com alho, cebola e azeite, frita-se o bacalhau, deita-se os tomates em lata, o caldo de peixe e o vinho branco. Quando o bacalhau está cozido, deita-se o grão, deixa-se cozer durante 10 minutos e serve-se com salsa

Tuesday 27 November 2007

Daphne de Maurier: o espírito indomável



Festival de Literatura de Cheltenham

Os leitores mais atentos devem estar a magicar: Como pode a pobre Daphne du Maurier ter estado em Cheltenham se faleceu em 1989?
A verdade é que o festival celebra aniversários e acolhe lançamentos de biografias e estudos sobre autores do passado. Por exemplo, Arthur Conan Doyle esteve também em espírito num debate sobre o seu fascínio pelo sobrenatural, fadas e a convocação das almas, apesar de ter sido médico e supostamente racional.
A Daphne du Maurier era uma mulher mais prática e é principalmente conhecida por duas obras que foram adaptadas ao cinema por Alfred Hitchcock: "Rebecca" e "The Birds".
O evento foi apresentado por Helen Taylor, biógrafa de Daphe du Maurier que publicou "Daphne du Maurier: A companion" para assinalar o centenário do seu nascimento. Neste livro vários escritores falam da vida de Du Maurier e defendem uma obra preferida.
Vamos começar com "Rebecca", que acabei de ler há pouco tempo e que é perturbante, sombrio e sinistro, mesmo quando não acontece nada, há uma sensação de algo profundamente maligno.
Em sinopse: a protagonista (cujo nome nunca é revelado) é jovem, naive e orfã, trabalhando como "dama de companhia" de uma senhora americana que a trata como a uma criada e humilha constantemente. De férias na Rivieira francesa, a heroína conhece e apaixona-se por homem com o dobro da idade, o misterioso e "socialmente superior" Max de Winter, dono da mítica mansão de Manderley no oeste de Inglaterra. Sabendo apenas que ele era viúvo e sem qualquer experiência, a protagonista casa com ele em França. Quando chega a Mandeley começa a sentir que o marido muda de humores rapidamente, que os criados não a respeitam e que a casa está cheia de segredos, incluindo o quarto da primeira mulher, Rebecca.
De repente, Rebecca começa a dominar Mandeley, a sua presença é mantida viva pela temível governanta, Mrs Denvers que gere a casa como se Rebecca fosse a patroa. O casal começa a discutir, a protagonista vai descobrindo mais detalhes, a pouco e pouco a obsessão com Rebecca começa a crescer. É isso é que é interessante. Daphne du Maurier que ficou famosa após a publicação deste livro odiava que a considerassem uma "autora romântica", tendo afirmado que esta obra que se tornou uma espécie de presente envenenado, que que du Maurier não conseguia fugir (nenhum dos livros posteriores teve o mesmo sucesso) era "um estudo sobre o ciúme".
Há algo de profundamente feminino na relação entre as três mulheres: a protagonista, Rebecca e Mrs Denvers (até alusões a que a governanta, mais do que obcecada estava apaixonada pela electrizante Rebecca). Por outro lado há uma personagem que também tem um papel muito importante a desempenhar e que é Manderley, a casa, os jardins, a pequena praia privada, a cabana onde Rebecca costumava ir. A paisagem agreste do sudoeste inglês, inspirada pela Cornualha para onde se mudou Daphne du Maurier é central na acção narrativa.
A certa altura é descoberto o corpo de Rebecca e que a mulher enterrada não era ela. Surgem suspeitas de assassínio que recaem sobre Max de Winter, que é levado a tribunal.
O que é interessante no trabalho de Daphne de Maurier é o que fica por dizer. Tudo é insinuado e há uma constante corrente subterrânea de "suspense" que capta o leitor.
(O filme "Rebecca" de Alfred Hitchcock (1940) com Laurence Olivier e Joan Fontaine tem um fim muito mais satisfatório para as audiências do cinema e para os fãs de Olivier, apesar da atmosfera sombria).
A autobiografia da infância e juventude de Daphne du Maurier mostra a sua determinação em escrever, em fazer as suas próprias escolhas e distanciar-se da família e das expectativas face ao seu sexo e condição social. Desde nova, que Daphne preferia passar temporadas sozinha na Cornualha a passear e a andar de barco do que ir a festas e bailes em Londres. Desde cedo, uma imaginação fértil e algo macabra combinada uma enorme persistência e um talento nato tornararam-na numa das escritoras com amis sucesso e mais admiradas do século XX.

Wednesday 14 November 2007

Livraria Arcadia



No Inverno de 97 trabalhei numa livraria antiquário, em frente ao Museu britânico. Propriedade de um casal americano aterrorizante que nunca cheguei a conhecer e que geria pessoalmente e com rédea curta esta loja assim como a livraria-mãe (faz lembrar a "Star Death" da Guerra das Estrelas, ou seja a nave-mãe) no coração de Manhattan. O estabelecimento londrino tinha um nome vagamente grego ou latim para evocar erudição e nunca poderia ser confundido com um mero alfarrabista ou livraria em segunda-mão. O edifício datava do século XIX e a livraria ocupava a cave, primeiro e segundo andar, com austeras escadas de madeira que rangiam como num filme de terror. Os livros não estavam agrupados por temas, épocas, autores ou qualquer outro sistema que pudesse facilitar o cliente, mas sim por vendedor a quem tinham sido comprados (os "dealers", que mais uma vez faz lembrar "drug dealers"). Assim as estantes tinham os apelidos destes homens misteriosos e extremamente excêntricos. Cada um deles tinha um portfólio e uma especialidade. Um, por exemplo vendia primeiras edições modernas, outro livros para crianças, outro livros científicos e por ai fora. De vez em quando apareciam na Arcadia (vamos chamar à livraria, Arcadia) com malas ou caixas cheias de livros que tinham que ser inspeccionados e catalogados. Um deles vestia uma garbardina beije e sebenta e tinha o cabelo ralo mas comprido. Havia algo de sórdido e quase desonesto nos "dealers", apesar de serem apenas homens que viviam para comprar e vender livros. Como os coleccionadores ficavam excitados quando tocavam nas páginas de livros raros e esgotados, cuja caça era a sua única razão de existir. Fui contratada num ápice, apesar de não ter experiência nenhuma de livrarias, nem de comércio, nem nunca ter processado uma transacção comercial. Como todos os outros empregados à excepção de uma pessoa, eu tinha as qualificações necessárias para um salário muito abaixo do mínimo nacional e do que ganham as empregadas domésticas em Londres: era ultra-qualificada, ou seja era preciso ter um mestrado, pós-graduação ou mesmo doutoramento. E é imperativo que passe agora à descrição dos meus colegas. O gerente era o Steve (os nomes são fictícios não para proteger a identidade dos participantes, mas porque não me recordo dos nomes verdadeiros de todos eles), um inglês típico de meia idade e aspirações intelectuais com cabelo grisalho sobre o comprido, óculos, camisolas de lã grossa a tapar inedequadamente a barriga protuberante. Era um fraco e um canalha, sem espinha dorsal, sempre a abusar da sua posição de gerente e a dar graxa aos americanos ao telefone que o tratavam como a um cão vadio (e com isto não quero dizer com compaixão e respeito). Na complexa hierarquia desta instituição, havia duas pessoas que eram coronéis do General Steve, um crítico e outro leal: Rachel, uma escosesa da minha idade, com um doutoramento em egiptologia e o intrigante e lacónico russo, Vladimir, o único que não tinha qualificações discerníveis. A Rachel era muito simpática e bonita com o cabelo ruivo e sardas e uma aparência que nada tinha a ver com o seu carácter marcado, personalidade crítica e extrema perspicácia. Cedo, nos tornamos compinchas, contra o Steve, cuja voz pegajosa e exigências absurdas nos irritavam e contra o russo que desconfiávamos ser um "buffo" e espião do Steve.
Estão a seguir a trama?
Pois bem, depois havia o Ben que era um jovem borbulhento de óculos de lentes grossas e aros pretos (género Peter Sellers) e franja estudada, muito magrinho de calças justas e sapatos bicudos, que no contexto do revivalismo dos anos 60 que se atravessava naquela altura era considerado "bem parecido". O problema principal com o Ben era o cabelo oleoso e o ar encardido de quem tinha acabado de vir de um motim nas ruas de Paris em Maio de 68. Mas era um alma poética que coleccionava Tennysons, bem intencionado e divertido, apesar de "não acreditar no sabão". O Ben tinha uma namoradinha inglesinha e moderninha de quem falava todo o tempo e isto é relevante porque havia mais uma personagem na Arcadia que era a Amy, mulher quarentona que desenvolveu por ele uma paixão galopante. A Amy era americana com um doutoramento em literatura, frequentava psiquiatras e parecia saída de um filme da fase séria do Woody Allen. Tinha o cabelo castanho muito comprido e liso, como usavam as senhoras que nos 80 preferiam inspirar-se na "Belle Époque", além de umas blusas de colarinho rendado e calças-saia largas e botins, ou seja mais um anacronismo. A Amy ficava embevecida com as tontices do Ben e imaginava que qualquer dia ele ia deixar a namorada e cair-lhe nos braços. Nós (eu e a Rachel) reviravamos os olhos e tendo 20 e poucos anos como o Ben achavamos que os avanços da Amy eram chocantes e inapropriados, apesar de termos pena dela. O Ben, como ente adorado conseguia ser muito cruel.
Passávamos os dias a arrumar livros. Eu adorava as prateleiras de livros infantis e de culinária do século XIX com ilustrações fantásticas. Limpava o pó cuidadosamente e marcava a lápis o preço (super-inflaccionado). Só havia um computador e a internet estava na idade da pedra. O russo era responsável por encomendas e por responder a e-mails, um trabalho que levava muito a sério.
Tinhamos poucos clientes, afugentados pelo edifício fino, os preços exorbitantes e a fauna de personagens que ali trabalhavam. Havia os coleccionadores, alguns apaixonados pelos livros, outros pela possibilidade de fazer negócio e depois havia o grupo que mais desprezávamos: os turistas, que saiam do museu britânico e faziam a ronda das lojas do bairro.
Quando se aproximava o Natal, o Steve mandou a Rachel decorar a montra, porque eu "não tinha experiência suficiente". O russo concordou que a montra era um trabalho muito difícil e especializado. A Rachel pediu-me ajuda e fizemos uma montra de Natal lindissima inspirada pelo Charles Dickens.
A certa altura eu e a Rachel decidimos queixar-nos dos nossos salários miseráveis. Sabiamos que o russo ganhava muito mais. Pedimos para que nos pagassem os transportes, uma reeinvindicação que foi recusada pelo patronato. Estávamos cada vez mais revoltadas com a injustiça laboral e a gota de água que precipitou a nossa saída foi quando o Steve insisista que nós tinhamos que limpar a cozinha da livraria. Ora, o russo e o Ben não limpavam a cozinha e o Steve morria de medo da Amy. Resolvemos despedir-nos e fomos para o Chez Pierre, um restaurante francês beber vinho branco no frio de Janeiro. Nunca mais nos vimos. Entretanto alguns anos mais tarde a Arcadia fechou. Espero que a Rachel seja uma egiptóloga conceituada, que o Steve esteja a dar graxa a alguém ou esteja reformado, que o russo esteja menos carrancudo, que o Ben escreva poesia, que a Amy tenha encontrado um "dandy" tipo "Moulin Rouge" que a aprecie.

Tuesday 6 November 2007

Sopa Super-Fácil de Abóbora Menina (Butternut Squash)


Demorei bastante tempo a encontrar a tradução para este tipo de Abóbora que é muito saborosa e rica em vitaminas e minerais. O Outono é a altura ideal para comer abóboras e legumes semelhantes, que eu uso assados no forno (com cebolas, batata doce, pimentos, berinjelas e courgettes, com rosmaninho) ou em caris tailandeses, em puré , em risottos e muitas outras receitas. Esta sopa é a mais simples que experimentei.

Ingredientes
1 Abóbora-Menina Butternut Squash média lavada e cortada aos cubos (remover as pevides e
Gengibre fresco
Três cebolas grandes
3 colheres de azeite
sal e pimenta
Noz moscada

Método
Coza os ingredientes durante 40 minutos e passe com a varinha mágica. Tempere com sal, pimenta e noz moscada.





"Then We Came to the End", Joshua Ferris

Estou a ler este primeiro romance de Joshua Ferris, sobre o mundo do trabalho, o ambiente corporativo numa agência de publicidade de Chicago na altura da recessão "Dot-com", ou seja o início do século XXI. Narrado na terceira pessoa do plural, o livro relata como, um a um, os
empregados vão sendo despedidos, enquanto vai crescendo o medo dos despedimentos, aumentam as intrigas e também uma intimidade perturbadora entre as pessoas num espaço claustrofóbico. É um retrato da mesquinhez e solidariedade que se encontra em escritórios em todo o mundo, com pormenores muito bem observados das idiossincrasias de pessoas forçadas a passarem mais tempo com um grupo de estranhos virtuais do que com a família e os amigos. Por exemplo, o "nós" que narra a história fala de um colega que está a escrever um romance e adora livros, então fotocopia extractos para ler à secretária a fingir que está a trabalhar, ou o caso da chefe que tem cancro mas que vai trabalhar no dia antes da operação e recusa-se a debater o assunto por "estar fora do âmbito profissional". Há ainda empregados que começam a ficar paranóicos com o terror de serem despedidos, descrições do puro aborreecimento, das horas mortas, dos intervalos para o café e as tarefas inúteis. Alguns envolvem-se romanticamente, outros tentam roubar as melhores cadeiras do escritório, tudo para tentar lidar com a enorme pressão que estão a viver.
É um romance sobre a cultura americana do trabalho, como validação do indivíduo e mecanismo que confere sentido, orgulho pessoal e "status social".
Pode-se encontrar paralelos com a série cómica "The Office" e com o divertido, "Who Moved My BlackBerry?", da colunista do Financial Times, Lucy Kellaway (escrito sob a forma de e-mails, é um olhar sobre o mundo rídiculo de um gestor de marketing, cuja gíria corporativa e constantes "gaffes" tornam este livro impossível de não ler de uma tirada só)
Para terem uma ideia: http://www.thenwecametotheend.com/

Tuesday 30 October 2007

Salada Rápida de Pêra e Roqueforte


Ingredientes
5 pêras maduras mas rijas cortadas em fatias finas
uma mão cheia de nozes esmagadas
Endívias
200 gramas de queijo roqueforte
cogumelos tipo míscaros
Azeite
Método
Coloque as pêras numa saladeira sobrea s endívias e junte as nozes
Frite os cogumelos em azeite e junte-os frios ou quentes à salada
Derreta o queijo numa panela sem gordura e deite sobre a salada
Tempere com sal e pimenta e sirva morno
Acompanhe com um vinho espumante, por exemplo Cava (Codorniu)

Tingo...pedir emprestado e não devolver



Encomendei e espero ansiosamente a chegada do livro "Toujours Tingo" do excêntrico Adam Jacot de Boinod (até o nome é fabuloso). É a continuação do "The Meaning of Tingo", e é uma colecção de palavras peculiares numa variedade de línguas que não têm tradução em inglês apesar de existerem 613000 no dicionário Oxford- Por exemplo um "gorrero" em espanhol da América Central significa "uma pessoa que deixa sempre os outros pagarem". "Um jovem com muito boas maneiras, mas que poderá ter motivos suspeitos" em alemão é "Tantenverfuhrer", literalmente um "sedutor de tias". Na indonésia há uma palavra que quer dizer "despir-se para poder dançar". Na Albânia há 27 palavras para vários tipos de bigodes, assim como os esquimós têm um não acabar de vocábulos para falar de neve. E como descrever aquela sensação de rir de tal modo que dói um dos lados do abdómen? Ora os japoneses pensaram nisso e têm a palavra certa e precisa: "kataharaitai"
O "Tingo" do título vem da Ilha de Páscoa na Polinésia e descreve a prática de "pedir emprestados e levar objectos da casa de alguém um por um e não os devolver", uma palavra muito útil.
Vamos ver que palavras portuguesas são intraduzíveis em inglês além do "Pois", uma das minhas expressões preferidas.

Sunday 28 October 2007

Douglas Coupland: a angústia dos 40

Festival de Literatura de Cheltenham II

O teatro “Everyman” estava às escuras, a não ser pela presença de um foco de luz no palco, não foi possível tirar notas, por isso aqui vai o que a minha memória reteve da palestra de Douglas Coupland:Sentei-me na segunda fila e à minha frente, no palco estava Douglas Coupland de pé a ler extractos do seu novo livro “The Gum thief”. É canadiano, tem 46 anos, é alto, com barba grisalha e está a perder o cabelo com grande rapidez, que não era nada como eu o imaginava. No início do anos 90, li com avidez “Generation X”, “Shampoo Planet” e “Microserfs”, livros que eram inovadores não só pela linguagem, pelos temas (Coupland especializou-se em dissecar ou definir a cibercultura do fim do século XX e início do século XXI) mas pelo uso de esquemas visuais, slogans e desenhos.Uma das coisas mais inesperadas neste festival é a capacidade de comunicação dos autores e a maneira desembaraçada com que falam dos livros que escreveram, o que à primeira vista não associamos com a profissão de escritor.Douglas Coupland é tímido e sarcástico com um sentido de humor apurado e faz pausas significativas entre palavras em cada extracto que lê do livro. No meio dos extractos conta pequenas histórias e faz apartes. Dizem os críticos que esta é a obra “mais adulta” de Coupland. (voltaremos ao “Gum Thief” mais adiante), mas o autor transmite um misto de entusiasmo juvenil com a desilusão dso 40 e tais. Tem uma voz muito profunda e agradável e toca na barba várias vezes, levantando os olhos claros, pequenos e incisivos. É o autor de “culto” por excelência com clubes de fãs na internet e com “postings” no “Youtube” desde que definiu uma geração, com o “Generation X” sobre jovens com cursos universitários que acabam em McJobs (um termo que também introduziu na língua inglesa), ou seja empregos no McDonald ou em sítios parecidos.Um dos apartes na leitura dos extractos foi explicar: “uso muito o nome Steve para as minhas personagens, porque acho um nome muito divertido”, disse em tom irónico. A certa altura revela que “nunca quis ser parte do mundo dos livros”, com ressentimento. Depois conta como pôs uma nódoa na camisola que tem vestida. Há algo nele de “nerd”, mas também de anti-intelectual, até porque se diz identificar mais com as artes visuais (faz escultura, instalações e mobília) e uma associação muito forte com a tecnologia. Tudo se divide em períodos relacionados com invenções tecnológicas e particularmente informáticas. Por exemplo “pré-google”, “pós-satélite”, antes da Microsoft dominar o mundo e etc…Cada livro (e ele produziu 12 de ficção) é como uma cápsula que congela o tempo, reflectindo aquela era particular…1991 (Generation X) ou 1995 (Microserfs).

“The Gum Thief”-o ladrão de pastilhas elásticas (soa melhor em inglês) é a história de Roger (quarentão, divorciado e deprimido) e Bethany (nova, “gótica” e deprimida) colegas num super-mercado de materiais para escritório (Staples) que tem uma “luz artificial que faz as pessoas parecerem doentes” através de cartas que escrevem um ao outro e diários. Roger está a escrever um romance verdadeiramente medíocre chamado “Glove Pond”, em si um nome absurdo e excerptos deste livro aparecem no “Gum Thief” que ele dá a ler a Bethany. Ambos sentem-se alienados e que falharam na vida, por razões diferentes e o facto de trabalharem no Staples não ajuda nada.Gostei muito do formato epistolar e claro que adoro “o livro dentro do livro, dentro do livro” porque a personagem do horrendo “Glove Pond” é também um escritor a escrever um livro. Um amigo meu uma vez disse-me que isto reflecte preguiça por parte dos autores “Será que não são capazes de inventar outras profissões e situações?”. Para mim este sistema funciona bem porque me interessa esse universo, mas percebo que nem toda a gente goste. É um livro que tem cenas hilariantes e outras tristes e perturbadoras, mas falta-lhe alguma consistência e coerência. O problema de Coupland é que a chamada “voz” da narrativa é inerentemente jovem e leve (à falta de uma palavra melhor), enquanto que a realidade que descreve é a desilusão do envelhecimento, a sensação de que as oportunidades são cada vez menores e de que o futuro que se avizinha é sombrio, como se caminhassemos numa linha inevitável e incontornável em direcção ao desespero, à doença, à solidão, à morte. O tom da escrita é no entanto quase jovial e muito masculino (no sentido que é uma escrita que só poderia vir de um homem…um tema para mais tarde).


Pérolas:


O casal do “Glove Pond” (Steve e Gloria) convida um escritor rival e a mulher para jantarem mas não têm comida em casa. Oferecem apenas whisky e gin em tal quantidade aos convidados na esperança que assim percam a fome

Os colegas maldosos do Staples encontram uma cópia do “Glove Pond” e começam a gozar com Roger, ao falar apenas com frases retiradas do livro

Há referências cruzadas no livro “real” e no livro “fictício” de maneira a fazer-nos questionar qual é a narrativa principal e que personagem é inspirada em quem.

Palavras do escritor:

“Because my writing comes from a different place (art school) than most other fiction, it tends to not fit into too many molds, and each book tends to be quite different than the one preceding it - which is, after a dozen books, my own pattern. "Life After God," say, is radically different from "jPod," and as a consequence I have frequently received polarized responses from readers who love/hate books in comparison with each other. The most fascinating reviews are from people who've read just two books, which seems to bring out their "Inner Simpsons Comic Book Man." If I had to read just two of my books, I'd read "Hey Nostradamus!" and "jPod."

Extracto:

Roger
“Do you want out? Do you often wish you could be somebody, anybody, other than who you are—the you who holds a job and feeds a family—the you who keeps a relatively okay place to live and who still tries to keep your friendships alive? In other words, the you who's going to remain pretty much the same until the casket?There's nothing wrong with me being me, or with you being you. And in the end, life's pretty tolerable, isn't it? Oh, I'll get by. We all say that. Don't worry about me. Maybe I'll get drunk and go shopping on eBay at eleven at night, and maybe I'll buy all kinds of crazy crap I won't remember I bid on the next morning, like a ten-pound bag of mixed coins from around the world or a bootleg tape of Joni Mitchell performing at the Calgary Saddle-dome in 1981.I used the phrase "a certain age." What I mean by this is the age people are in their heads. It's usually thirty to thirty-four. Nobody is forty in their head. When it comes to your internal age, chin wattles and relentless liver spots mean nothing.In my mind, I'm always thirty-two. In my mind, I'm drinking sangria beachside in Waikiki; Kristal from Bakersfield is flirting with me, while Joan, who has yet to have our two kids, is up in our hotel room fetching a pair of sunglasses that don't dig into her ears as much. By dinnertime, I'm going to have a mild sunburn, and when I return home from that holiday, I'll have a $5K salary bonus and an upgraded computer system waiting for me at my office. And if I dropped fifteen pounds and changed gears from sunburn to suntan, I could look halfway okay. Not even okay: hot.”


Blog do Douglas Coupland no New York Times


http://coupland.blogs.nytimes.com/

Monday 22 October 2007

"Mezze"-o meu Tabouleh

Eu adoro a ideia de petiscos ou entradas ou apenas pequenas porções que se partilham de qualquer tipo, mas particularmente "Mezze". Tapas é um conceito semelhante mas não é o mesmo que os "Mezze" que são normalmente pratos mais trabalhados e diversos com origem no Médio Oriente e bacia do Mediterrâneo.
Os "Mezze" aparecem na cozinha turca, grega, libanesa, síria, israelita, palestiniana e outras com variações. A palavra "Mezze" poderá vir da língua persa e significa "apreciar", "provar" ou poderá ser oriunda do árabe "mazmir" que quer dizer "petiscar". "Mez" em assírio quer dizer mesa e o plural poderá expressar a ideia de "pequenas mesas". Ou seja a origem é incerta, mas as raízes apontam para uma partilha de pratinhos deliciosos.
O meu "Mezze" preferido é Tabouleh, mas há muitos outros pratos, na sua maioria vegetarianos que vale a pena experimentar, como o Falafel (pastéis feitos de grão e um mistura de especiarias), o Hummus (pasta de grão), o Baba Ganoush (pasta de berinjelas grelhadas), o Iman Biyaldi (um prato feito com beingelas recheadas e que quer dizer literalmente "o imã desmaiou", tal foi o efeito dos sabores deste petisco) e o Fattoush (salado de pão frito ou tostado, menta, pepinos e tomates)

O meu Tabouleh

O Tabouleh mais simples é quase só composto de salsa fresca e sumo de limão, que eu gosto muito, mas que admito que muitos não consideram uma refeição em condições por isso aqui está a receita de um Tabouleh óptimo como entrada, acompanhamento, para comer em casa, levar para um picnic ou para a praia...

Ingredientes

Bulgur
Um grande molho de salsa picada
Duas ou três folhas de menta fresca
1 pepino grande
3 tomates médios
Sumo de 5 limões ou limas
Azeite
Alperces sêcos ou passas (não é necessário, mas o doce contrasta bem como o ácido do limão)

Método

Deite água a ferver no bulgur até tapar e deixe ficar durante 30 minutos, juntando mais se esta fôr absorvida.
Deixe arrefecer e misture com os outros ingredientes cortados em pedaços muito pequenos, a salsa picadas muito finas e tempere com sal. Deite o sumo de limão e use azeite a gosto.
Esat salada deve servir-se fria. Acompanhe com vinho branco "Poully Fume" ou "Sancerre"

Sunday 21 October 2007

Germaine Greer: Ficção histórica factual

Festival de Literatura de Cheltenham
O primeiro evento que fui ver foi a apresentação do novo livro da autora feminista, professora de literatura e polemicista, Germaine Greer. Num auditório com capacidade para 500 pessoas quase cheio, Germaine vestida de preto salta para o palco, onde se senta num banco. Por trás do palco há um écran que projecta a sua imagem. E é só isto, ninguém mais vai falar, não há nenhum número teatral, música ou dança. Germaine Greer a falar com uma leve pronúncia da sua Austrália natal, durante uma hora é puro entretenimento. Comunicadora nata, com sentido de humor e uma carreira que além de académica se expandiu para os "media", a autora do livro de culto "The Female Eunuch" sabe captar a atenção do público, quase todo composto de mulheres de uma certa idade. O seu último livro chama-se "Shakespeare´s Wife" e é um calhamaço considerável que, através de investigação histórica e análise literária, tenta traçar um retrato de Anne Hathaway, mulher de William Shakespeare. Esta personagem nunca foi estudada em profundidade e nas biografias de Shakespeare é minimizada não só por ser "apenas a mulher", mas por ter a audacidade de ter casado com o génio do milénio, ser mais velha do que ele e ser uma "prisão" que o estava a impedir de se realizar como escritor e dramaturgo.
Para piorar as coisas é vista como uma mulher ciumenta e controladora, quer terá levado Shakespeare a refugiar-se no trabalho e no adultério.
A própria vida de Shakespeare tem diversas lacunas e muito do que se sabe sobre ele é especulação. Os dados que existem baseiam-se em registos paroquiais: nascimento, casamento, testamento e morte. E são por vezes contraditórios. É desta premissa que parte Germaine Greer. Já que tanto se especulou sobre o "bardo" porque não especular sobre a mulher?Primeiro, a perspectiva histórica. No século XVI, em Inglaterra no reinado de Isabel I, as mulheres são esposas, futuras esposas ou viúvas. "O celibato não é uma opção, mas uma perversão, numa altura de protestantismo radical. O casamento não é uma brincadeira", disse Greer que explicou à audiência que era "em princípio era contra o casamento e só se tinha casado num momento de distração. Casamento que durou três semanas". Mas essa é outra história. O que se sabe sobre o casamento de Shakespeare? Que ele tinha 18 e ela 26 anos quando se casaram em 1582, que ela estava grávida, que tiveram três filhos, que William deixou Stratford-upon-Avon onde viviam e mudou-se para Londres (entre 1585 e 1592) onde fez carreira como actor e dramaturgo. Germaine começa a especular que Anne Hathaway teria casado por amor, já que William era pobre e não tinha propriedade. "Era um poeta que não tinha onde cair morto, mas era um sedutor". A maioria dos biógrafos de Shakespeare deduziu que Anne era analfabeta, mas é possível que tendo um irmão padre e vindo de uma família muito protestante tivesse aprendido a ler. A nova religião, apostava no individualismo e pregava a literarcia, para que o povo aprendesse a ler e a não confiar no que diziam os padres, assim fortalecendo uma relação pessoal com Deus. Passagens da biblía eram lidas todos os dias em voz alta. Outro argumento para defender a tese de que Anne Hathaway era uma mulher inteligente, forte e madura, talvez até de algum modo dominante surge do estudo dos poemas e peças de Shakespeare. Onde encontrou ele inspiração para criar as mulheres que aparecem na sua obra, que à excepção de Julieta são todas mais velhas, com personalidades marcadas, temperamentos indomáveis e inteligências mordazes?Nas peças de Shakespeare, basta pensar no "Taming of the Shrew", as mulheres são mais maduras e emocionalmente mais inteligentes do que os homens. A vida de Shakespeare está cheia de lacunas e o que os estudiosos chamam os "anos perdidos". Faltam documentos factuais para podermos traçar um percurso e um retrato fidedigno do autor. No entanto, existem provas histórticas que em 1585, William partiu para Londres juntando-se a um grupo de actores de teatro. Os biógrafos concluem que ele abandonou a mulher e os filhos, o que consideram quase louvável e necessário, visto ele ter um talento que o vai tornar no escritor mais importante do milénio passado (pelo menos para os académicos anglo-saxões, decerto na língua inglesa). Um dos factos que apontam para a descredibilização, se quisermos de Anne Hathaway é o testamento de Shakespeare, que ao enriquecer com o sucesso literário que alcançou, apenas lhe deixa a "segunda cama", deixando todo o seu património à filha mais velha. Germaine Greer especula que Shakespeare não fugiu de Straford (se o tivesse feito, seria perseguido pela justiça por abandono do lar familiar) mas foi Anne que o deixou ir ou talvez ou tivesse até inventivado a tentar a sorte na capital para poder concretizar a sua aspiração de escrever para o palco. Anne ficou com três filhos nos braços e conseguir sustentar-se, ninguém sabe como. Germaine Greer sugere que ela tivesse criado um espécie de negócio, a tricotar meias, qulaquer actividade que lhe permitisse tomar conta das crianças ao mesmo tempo. Quanto à célebre cama deixada em testamento, Germaine explica que na altura, as camas eram peças de mobília caras e de luxo e que a "segunda cama" era a melhor, já que era reservada para hóspedes e estava em boa condição, enquanto que a cama do casal, era a cama de todos os dias, onde as crianças nasciam e as pessoas morriam, logo bastante usada e em mau estado. Germaine Greer termina esta aula em como entreter o público com história do século XVI e feminismo retrospectivo ao dizer: Este livro é um "produto da imaginação, mas é baseado em factos. É um ficção factual. Se consegui mudar a percepção do público sobre esta mulher que antes era invisível, considero que cumpri os meus objectivos".

Festival de Literatura de Cheltenham


Todos os anos em Outubro, a cidade de Cheltenham, em Gloucestershire em Inglaterra recebe o Festival de Literatura do "Times". Cheltenham é perfeita para o evento ou conjunto de eventos, sendo a "mais completa" em termos de conservação de edifícios originais das cidades do período da Regência entre 1811 e 1820, altura em que o rei George III foi considerado incapaz de reinar, devido a uma "loucura", que a pesquisa histórica veio a concluir era causada por uma doença do sangue. É um período de transição entre a exuberância "georgiana" e a austeridade "vitoriana".
Cheltenham tem pois uma arquitectura distinta, de teor neo-clássico, as ruas centradas em torno da "Promenade" têm um ar de "campus" académico do século XIX. Outra vantagem é ter magnifícos parques e jardins, além de restaurantes, cafés e lojas cheias de carácter.
O Festival traz ainda mais vida à pequena cidade, com escritores, participantes e espectadores agrupados a ler ou a conversar nos bancos do jardim em frente ao Queen´s hotel (o chá com scones é divino) ou no bar do "Main Hall" onde decorre a maioria dos eventos. Mas há os por toda a cidade, no teatro "Everyman", no anfiteatro gigantesco, do "Racecourse", das corridas de cavalos, no colégio interno para raparigas, em tendas no jardim da praça principal. Aqui, a livraria ou monstro de cadeia de livrarias que é a Waterstones que também patrocina o festival monta também tenda com os livros dos escritores convidados para o festival (não pensem que é uma tendinha) com café e espaço para autógrafos).
Toda a cidade fica imbuída do espírito do festival que começou em 1949 e tem vindo a crescer em termos da publicidade gerada e dos bilhetes vendidos. Os eventos são apresentações de livros, leituras, debates, "workshops", cursos de escrita criativa e poesia, seminários, teatros e actividades para crianças, passeios literários. O que é interessante é que é um festival democrático, no sentido em que os eventos são acessíveis em preço e em ausência de pretensiosmo. Aqui, os escritores são apluadidos e tratados como estrelas de cinema e interagem com os seus fãs com interesse e respeito.

Friday 19 October 2007

Não leiam este livro se precisam de algo que vos anime

Anne Enright ganhou o Prémio Literário Man Booker esta semana com o romance "The Gathering". É segunda mulher irlandesa (a primeira foi Iris Murdoch) a receber o prestigioso prémio de 50 mil libras que garante um surto de publicidade e aumento das vendas.

Este é um livro controverso que é considerado acessível, mas demasiado deprimente. A própria autora, que tem 45 anos, disse "se querem ler um livro para se animarem, este não é o livro que devem ler. É o equivalente dum filme de Holywood para fazer chorar". Antes do vencedor ter sido anunciado, Anne Enright tinha já criado polémica com um artigo na revista "London Review of Books" com o título "Dislinking the McCanns", sobre as reacções negativas e até perversas que o o comportamento do casal McCann lhe inspiravam como mãe, como mulher, como " voyeuer", como ser humano. Quando lhe perguntaram o que ia fazer com o dinheiro, a escritora disse que tinha comprado um vestido e que talvez vá instalar uma nova cozinha.

O Romance é descrito como uma "saga familiar perturbante e amarga"e é o quarto livro de Anne Enright. O "Economist" comentou: "This week a new panel unexpectedly gave fiction's best-known award to Anne Enright for “The Gathering”, a raw examination of a family (Irish, of course) made up of 12 children, seven miscarriages and more than a lifetime of drink, masturbation and misery."

Já ficam avisados. Se querem um livro animado, não peguem no "The Gathering"...

Friday 12 October 2007

Londres: Um guia pessoal e transmissível-Marylebone


Marylebone

Marylebone High Street é uma das minhas ruas preferidas em Londres por ter muito poucos turistas e manter a individualidade e carácter independente do comércio.
Situada a norte da Oxford Street tem excelentes restaurantes, cafés e lojas sem o mesmo bulício. Na Cramer Street, que é uma tranversal há um mercado de agricultura biológica e “delicatessen” aos Domingos, onde se pode encontrar desde aves (devidamente depenadas, que estamos no centro de Londres) a lustrosos legumes e frutas, peixe e ostras, pães e bolos divinais, queijos, flores, alfazema, mel e até vinhos ingleses de Sussex.
Originalmente fazia parte da aldeia medieval de Marylebone. No século XVII era um local onde se ia passear, como testemunha o prolífico cronista do reinado de Carlos II, Samuel Pepys, que fala dos jardins e espectáculos de fogo de artifício naquela zona. Estes jardins que, entretanto desapareceram, foram assinalados num mapa de 1746.
Sherlock Holmes, o famoso detective, criado por Arthur Conan Doyle vivia no número fictício 221b em Baker Street, que atravessa a Maryelebone High Street.
A maioria dos edifícios datam do princípio do século XIX.
Durante décadas Marylebone foi uma zona calma e populada por idosos endinheirados que queriam estar perto da célebre rua dos médicos e clinícas privadas: Harley Street. Mas nos últimos anos, a zona reinventou-se desde que a cantora Madonna foi para ali viver, apesar de ter mantido o carácter de “aldeia” eclética, a poucos passos da Oxford Street.

O que ler: Arthur Conan Doyle, “A Study in Scarlet”, a primeira obra do autor escocês com o detective Sherlock Holmes.
O que comer: Fishworks é uma cadeia de peixarias/restaurantes onde se pode comprar peixe e marisco ou comê-lo logo ali.
A não perder: Uma visita à livraria Daunt, que é especializada em livros e guias de viagens e foi fundada no início do século XIX. Com os painéis de madeira trabalhada em dois pisos e o tecto de vidro é uma das mais bonitas e agradáveis em Londres.

Para ver loja a loja o que se pode encontar em Marylebone High Street: http://www.streetsensation.co.uk/marybone/mh1_west.htm
Para ficar a conhecer a história desta rua e bairro:
http://www.marylebonevillage.com/index.cfm/pcms/site.home/

Mais vale tarde do que nunca

Doris Lessing: Prémio Nobel da Literatura

Doris Lessing é uma daquelas escritoras que mereciam o mais prestigiado prémio literário há décadas. A certa altura a octagenária disse, com a franqueza que lhe é característica, que o influente júri de Estocolmo “não gostava muito dela”. A sua reacção foi de extrema surpresa, segundo o "Times" que relata que ela tinha ido às compras e veio a saber que tinha ganho o prémio Nobel pelos jornalistas que estavam à porta de sua casa. "Tinha-me esquecido de que iam anunciar o vencedor do prémio. O meu nome está na "shortlist" há tantos anos (...) não me posso entusiasmar com isto todos os anos", declarou com naturalidade. Na realidade, muitos críticos literários que pensavam que o italiano Claudio Magris ou o americano Philip Roth eram escolhas mais prováveis também ficaram surpreendidos.

Filha do Império britânico, Doris Lessing nasceu na antiga Pérsia (Irão) em 1919, cresceu na Rodésia (Zimbabué), onde o pai tinha uma quinta. Em 1949 mudou-se para Londres onde reside.

A prolífica escrita de Doris Lessing tem um aspecto visionário e apocalíptico, tratando de temas como o racismo, o comunismo, o feminismo terrorismo e a destruição do ambiente.
O seu livro mais conhecido e controverso é “The Golden Notebook” (1962) a complexa história de uma escritora que está bloqueada e que escreve em quatro cadernos de cores diferentes, numa narrativa fragmentada sobre as várias partes da sua vida e a sua tentativa de se libertar dos padrões sociais exigidos às mulheres. Não é um livro para se ler por gosto ou para nos divertirmos. É um livro pesado que convida à análise e expressa sérias opiniões sobre política, sociedade, psicologia além de documentar uma vida interior em turbilhão.
Com uma carreira de 50 anos, Doris Lessing tem uma obra variada e produziu romances sociais, políticos e de semi-ficção científica.

Sobre necessidade da ficção proferiu: "It is my belief that we value narrative because the pattern is in our brain. Our brains are patterned for storytelling, for the consecutive".

E é isso que ela tem feito, contado histórias que mais do que reflectirem ou interpretarem o mundo actual, mostram um futuro possível, na maioria dos casos bastante deprimente.

Tuesday 9 October 2007

O elogio da torrada

O cozinheiro-escritor inglês Nigel Slater defendeu no livro "Eating for England: The Delights & Eccentricities of the British Table" que a torrada era a maior contribuição britânica para a gastronomia internacional. Não é por acaso que a sua autobiografia chama-se "Toast: a Story of a Boy´s Hunger".
Os britânicos têm centenas de tipos de torradas, pricipalmente em casa e nos pequenos-almoços em hotéis. E é sintomático que a BBC ofereça 127 receitas de torrada na "BBC Food" (http://www.bbc.co.uk/food/) e que os "beans on toast" sejam uma instituição nacional e prato diário de estudantes com falta de dinheiro e sofisticação culinária.
Nos cafés, raramente é possível pedir uma simples torrada, como temos em Portugal, as duas fatias gordas de pão branco cortadas em seis pedaços e encharcadas em manteiga.
No Reino Unido, a torrada aparece sob a forma de pão branco ou integral, pão de centeio, "bagels" os "soldiers" (tiras de torrada que se molham na gema do ovo cozido) e o que Nigel Slater considera a melhor torrada do mundo: "Aga Toast". Tive o prazer de experimentar esta iguaria recentemente. A Aga é uma marca e tipo de fogão icónico que se vê muito no campo inglês, de aparência antiga com dois ou mais fornos, com compartimentos para grelhas e com discos em vez de bicos. Trabalha a óleo e demora várias horas a aquecer, pelo que a maioria das pessoas a deixam ligada permanentemente. Há técnicas especiais para cozinhar com Agas e os seus entusiastas garantem que a comida sabe melhor. Além de servir de aquecimento da cozinha ou da casa, a Aga ajuda a secar roupas, fazer vários e complicados pratos ao mesmo tempo, embora seja preciso quase um curso e seguir livros especializados para a usar (fiz uma vez bacalhau com natas numa Aga que foi um triunfo na face da adversidade tecnológica). De qualquer modo a confecção de torradas na Aga é relativamente simples. Coloca-se o pão numa grelha que se aperta, põe no disco e fecha-se a tampa (cada disco tem uma tampa). Eu continuo a achar as torradeiras, um electrodoméstico indispensável e mil vezes mais práticas.
Porque é que gosto de torradas? Como muitas outras comidas de que gostamos a origem está na infância. A minha avó e bisavó maternas davam-nos chá e torradas quando não nos sentiamos bem. A minha avó paterna estava sempre a falar de "torradinhas". Ou seja é um alimento nostálgico, reconfortante e que nos satisfaz e aquece. E claro que deve ser acompanhada de chá preto.

As minhas torradas preferidas:
Pão de centeio com mel
Broa com manteiga
Pão alentejano com queijo fresco
Pão integral com passas com manteiga
Pão alentejano com queijo fresco ou requeijão
Pão integral com ovos mexidos com salmão
Pão integral com doce de laranja amarga e gengibre
Pitta integral com hummus
Pão integral com cogumelos e molho de queijo roqueforte ou stilton, salsa e pimenta (como entrada)
Pão integral com sardinhas de lata (marinadas em azeite, limão, alho e oregão)

Man Booker Prize

Vencedor será anunciado dia 16 de Outubro


O prémio Literário Man Booker celebra obras de ficção em língua inglesa de um autor ou autora da Commonweath ou da República da Irlanda. O vencedor recebe 50 mil libras e tanto ele como os escritores que são escolhidos para a "shortlist" de seis obras aumentam a sua visibilidade e o número de cópias vendidas, dado o perfil mediático deste prémio. Há vários anos que se se debate a exclusão dos escritores americanos e se esta não diminui a qualidade da oferta, pelo que há dois anos foi criado um Man Booker internacional, apesar de estar ainda pouco estabelecido no meio literário.
Este ano, uma das várias polémicas em torno deste prémio diz respeito à obra de Ian McWewan "On Chesil Beach" que alguns críticos consideram ser demasiado curta para fazer parte da categoria de romance. McEwan que ganhou o prémio em 1998 com "Amsterdam" explicou que fazia sentido que o livro tivesse 200 páginas, porque a acção decorre numa noite: "Nuna podia ser um romance longo", defendeu.
No ano passado a vencedora foi Kiran Desai com "The Inheritance of Loss". Assim, ninguém espera que o seu conterrâneo, Inha Sindra ganhe este ano, já que normalmente se espera dos juízes que evitem a repitação de certos países ou géneros.
O próprio prémio está a ser questionado, dada a notícia do mês passado de que o livro da modelo Jordan (conhecida pelos implantes nos seios e falta de talento) tinha vendido mais cópias do que a totalidade dos seis livros da lista de candidatos ao Booker. Ao todo "Crystal", que é o segundo romance de Jordan, de seu nome verdadeiro Katie Price vendeu mais de 150 mil cópias, com a assistência de um "ghostwriter" e de uma considerável campanha publicitária.
Em geral, as vendas de romances subiram de 30 milhões de cópias vendidas em 2001 para 70 milhões em 2007, segundo o Daily Telegraph. No entanto, são menos os autores e os livros que realmente vendem. A diversidade é menor e são as "marcas" conhecidas como Ian McEwan ou Martin Amis que têm sucesso. Vamos ver o que acontece na próxima semana e se o vencedor ou vencedora consegue competir com o triunfo literário que é "Crystal".


"Shortlist 2007:
Indra Sinha — Animal’s People
Mohsin Hamid — The Reluctant Fundamentalist
Lloyd Jones — Mister Pip
Ian McEwan — On Chesil Beach
Nicola Barker — Darkmans
Anne Enright — The Gathering


http://www.themanbookerprize.com/

Thursday 4 October 2007

Plettenberg Bay-Risotto Outonal











Plettenberg Bay, na África do Sul, onde no magnífico Hotel Plettenberg comi Risotto de gengibre, que vou aqui tentar recriar (com algumas adições outonais). O risotto que eu comi servia de acompanhamento a uma posta de peixe (com molho de alcaparras e champanhe), mas este é um prato completo.

Risotto com abóbora para um Outono Feliz
(4 pessoas)

Ingredientes:

Meia abóbora média cortada em cubos com casca
Alecrim e tomilho
1 alho francês cortado às rodelas
2 dentes de alho
1 cebola média
1 colher de sopa de mel
Azeite
gengibre fresco
4 colheres de sopa de crème fraîche, fromage frais ou natas (meio-gordo)
1 folha de louro
225g de arroz para Risotto (Arborio)
Meio litro de caldo vegetal
Meio copo de vinho tinto (os meus risottos estão sempre desentos de vinho)
Queijo parmesão ralado para servir

Método:

Aqueça o forno a 200 graus. Asse a abóbora durante meia hora-45 minutos, até tenra num tabuleiro com azeite, alecrim e tomilho.

Entetanto faça um refogado com o alho, cebola, alho francês, o gengibre e louro. Quando estiver dourado e macio, coloque o arroz e frite-o, até começar a pegar no tacho. Adicione o caldo, o vinho, o mel e mais meia chávena de água aos poucos, até o arroz ir absorvendo o líquido.
Isto levará entre 15 a 20 minutos. Cozinhe em lume brando mais 10 minutos até o arroz estar pronto. No fim misture as natas e a abóbora.
Sirva com parmesão ralado.

Recomendo um bom Pinot Grigio branco (Da Luca Pinot Grigio Venezie, por exemplo)


Friday 28 September 2007

Londres: Um guia pessoal e transmissível

Tem início hoje e com capítulos díspares e com uma regularidade sofrível (porque a escrita do blogue tem que ser truncada, já que há muitas outras actividades que competem com ela, como o trabalho, por exemplo) um guia de Londres.
A capital do Reino Unido é uma cidade composta de tantos registos que este só podia mesmo ser um guia pessoal. Existe assim um Londres étnico, um Londres religioso, um Londres das livrarias, um Londres jurídico, um Londres dos parques e jardins, um Londres financeiro, um Londres português, um Londres das feiras e mercados, um Londres da gastronomia, um Londres dos teatros e galerias. E espero que vá haver um capítulo especial sobre Curiosidades e Excêntricidades Londrinas que é coisa que aqui não falta. Cada secção terá as seguintes dicas sobre aquele bairro ou lugar particular:”o que ler”, “o que comer” e a “não perder”
Londes é um monstro de tal maneira imponente que é díficil saber por onde começar. É a cidade mais cara da União Europeia, o centro financeiro mais competitivo do mundo, atraindo desde oligarcas russos, a bilionários árabes do petróleo, a “socialites” americanos. Curiosamente é uma das cidades preferidas dos ditadores e sua prole, como sucedeu no caso do chileno general Pinochet e do filho do tirano ugandês, Idi Amin que aqui encontraram refúgio.
A capital é vivida muito à esfera do bairro, dadas as distâncias quase instranponíveis. Assim faz-se vida em Hampstead, Islington, Clapham, Dulwich ou Greenwich, que eram originalmente aldeias separadas e fora das “muralhas” da cidade. O londrino não tem que sair do seu bairro para nada. Pode ali trabalhar, ir às compraas, jantar fora, frequentar cafés e livrarias, ir ao cinema, só muito raramente deslocando-se ao centro para se encontrar com amigos que vivem noutros bairros ou para comprar algo muito específico.
O centro de Londres é visto pelos habitantes como um Londres irreal e mitologizado ainda mais caro que o resto da metrópole, populado de turistas (que caminham demasiado devagar) com tempo a perder e uma fixação perturbante na família real e no Big Ben.

(continua...)

Tuesday 25 September 2007

Em "The Haunted Bookshop" (Christopher Morley, 1919) o protagonista encontra uma livraria escondida em Brooklyn em Nova Iorque com o seguinte letreiro:

PARNASSUS AT HOMER. AND H. MIFFLINBOOKLOVERS WELCOME!THIS SHOP IS HAUNTED


THIS SHOP IS HAUNTED by the ghosts of all great literature, in hosts;
We sell no fakes or trashes.
Lovers of books are welcome here,
No clerks will babble in your ear,
Please smoke--but don't drop ashes!
----
Browse as long as you like.
Prices of all books plainly marked.
If you want to ask questions, you'll find the proprietor where the tobacco smoke is thickest. We pay cash for books.
We have what you want, though you may not know you want it.

Malnutrition of the reading faculty is a serious thing.
Let us prescribe for you.

Wednesday 19 September 2007

Eça de Queiroz sobre os Ingleses

Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres, Eça de Queiroz
As cartas de Inglaterra foram publicadas pela Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, de 1880 a 1896

"A verdade é que o inglês não se diverte no continente: não compreende as línguas; estranha as comidas; Tudo o que é estrangeiro, maneiras, toilettes, modos de pensar, o choca; desconfia que o querem roubar; tem a vaga crença de que os lençóis nas camas do hotel nunca são limpos; o ver os teatros abertos ao domingo e a multidão divertindo-se amargura a sua alma cristã e puritana; não ousa abrir um livro estrangeiro porque suspeita que há dentro coisas obscenas; se o seu “guia” lhe afirma que na catedral de tal há seis coulunas e se ele encontra só cinco, fica infeliz e furioso com o país que percorre, como um homem a quem roubaram uma coluna; e se perde uma bengala, se não chega a horas ao comboio, fecha-se no hotel o dia inteiro a compor uma carta para o “Times”, em que acusa os países continentais de se acharem inteiramente num estado selvagem, e atolados numa pútrida desmoralização. Enfim o inglês em viagem é um ser desgraçado."

Sopa de ervilhas e hortelã pimenta

Ingredientes

500 gr pacote ervilhas congeladas
3 cebolas grandes
1 caneca de grão cozido
5 folhas de hortelã pimenta
2 colheres de azeite
Sal e pimenta


Método

Ponha uma panela ao lume com água, cebolas cortadas aos cubos, azeite e coza durante 15 minutos. Adicione o grão e coza mais 5 minutos. Adicione as ervilhas e deixe cozer mais 5 ou 10 minutos. Deite a hortelã pimenta no fim. Bata com a varinha mágica, tempere com sal e pimenta e sirva com um fio de azeite (na minha última sopa usei azeite perfumado com basílico) por cima e uma folha de hortelã pimenta.

Thursday 13 September 2007

Caril Verde Tailandês


Caril verde de salmão, camarão e legumes (tailandês)

Ingredientes
(use os legumes que tiver e adicione outros conforme gostar ou faça um caril vegetariano...desde que tenha abóbora ou batata doce será sempre delicioso)

Pasta de caril verde tailandês
Leite de coco magro ou “light”
Caldo de peixe ou legumes
cebolinho
2 postas de salmão
300 gr de camarões descascados
¼ de abóbora
3 batatas doces grandes
200 gr de feijão verde
2 berinjelas
1 pimento vernelho e um pimento amarelo
Meia caneca de ervilhas
(pode adicionar espargos verdes frescos, milho ou espinafres)
Um bom molho de coentros

Método
Dissolva a pasta de caril no leite de coco e adicione o caldo Não precisa de fritar nada ou usar gordura porque o leite de coco já a tem.
Ponha em lume brando e antes de ferver adicione o peixe, os camarões, os legumes, deixando aqueles que não precisam de estar muito tempo ao lume para o fim (feijões verdes, ervilhas, espinafres e espargos devem ser colocados uns 10 ou 5 minutos antes do prato estar pronto. Este demora 30 ou 40 minutos, veja se a abóbora e as patatas se desfazem com um garfo)
Deite os coentros no fim e sirva com arroz branco cozido.

Sirva com Sauvignon Blanc. Eu recomendo Oyster Bay da Nova Zelândia, mas se está em Portugal e acha que importar vinhos dos antípodas contribui ainda mais para o aquecimento global, porque não tentar Bons Ares (Ramos Pinto), branco, claro.

Unless, Carol Shields


E como tem havido muitos peticos e poucos livros, nada como falar do nosso livro preferido dos últimos anos, para lançar a parte literária do blog.

Unless, Carol Shields, 2002
É a última obra da minha escritora favorita, que nasceu nos Estados Unidos, mas viveu a maior parte da sua vida no Canadá. Morreu em 2003 com cancro da mama e escreveu 10 romances, peças de teatro, contos, crítica literária, poesia e uma biografia excepcional da Jane Austen. Unless foi o primeiro livro que li dela e a seguir tive que devorar os outros (adorei particularmente Small Cerimonies, The Box Garden, Happenstance, A Celibate Season, The Republic of Love, Larry´s party)
Em Unless, os títulos “a menos que” como os títulos de cada capítulo são preposições e conjunções.
A narradora, Reta é uma escritora e tradutora que está a traduzir as memórias de Danielle Westermann, uma autora feminista (o livro dentro do livro). A vida de Reta é bastante confortável e estável com uma vivenda nos arredores de Toronto, um marido que é médico e três filhas. Mas de repente tudo muda quando a filha mais velha resolve deixar a universidade e decide viver nas ruas e senta-se no mesmo canto com um cartaz ao peito a dizer “Bondade” e um olhar vítreo. Até ao fim do livro o leitor ou leitora não sabe porquê e a própria narradora tenta comprender a razão: será que a filha tem uma doença mental, será que se trata de um desequilíbrio provocado pelos pais, será que é por causa de um namorado: O que nos vamos apercebendo aos poucos é que a protagonista perde o optimismo inicial com que pretende lidar com o caso e começa a enfurecer-se com esta e outras situações.
Reta, influenciada pela obra que está a traduzir interpreta a desistência da filha como estando associada ao que ela vê cada vez mais como a exclusão das mulheres, que começa a constatar em tudo o que a rodeia, iniciando uma série de cartas para se queixar de casos em que as capacidades das mulheres são o que ela chama “miniaturizadas”. O pior é que a realidade confirma a sua teoria:
"The world is split in two between those who are handed power at birth, at gestation, encoded with a seemingly random chromosome determinate that says yes for ever and ever, and those like Norah, like Danielle Westerman, like my mother, like my mother-in-law, like me, like all of us who fall into the uncoded female otherness in which the power to assert ourselves and claim our lives has been displaced by a compulsion to shut down our bodies and seal our mouths and be as nothing against the fireworks and streaking stars and blinding light of the Big Bang."
Claro que Unless é um pretexto para falar sobre o que realmente interessa e as digressões de Reta sobre a amizade, o casamento, relações profissionais, são passagens que eu pelo menos leio e releio. Pensamentos sobre a limpeza da casa e a arte de bem pôr a mesa para o jantar tocaram-me particularmente. É que como a Carol Shields, a mim fascina-me a esfera do doméstico criada pelas mulheres, sem conotações opressivas, um espaço que é considerado banal, indigno de aparecer em literatura, ou até ridicularizado. A verdade é que Reta sente-se impotente e por isso quer controlar a desordem da sua vida através da limpeza da casa e das rotinas. A última coisa que ela queria era: "to be possessed by a sense of injury so exquisitely refined that I register outrage on a daily basis".
Mas é essa nova ira que ela descobre em si própria que a ajuda a compreender melhor o mundo.
Um livro sobre uma escritora que está a escrever um livro sobre uma escritora e conselhos como pôr a mesa? é mesmo disto que eu gosto!

Tuesday 11 September 2007

Salmão Teryaki com couve roxa, cogumelos shitake e espinafres
















(duas pessoas)

Ingredientes

Duas postas de salmão fresco
Uma caneca de molho de soja
Meia caneca de sake ou de vinho japonês
Uma colher de sobremesa de mel
Gengibre fresco
3 dentes de Alho
Cogumelos shitake
Meia couve roxa cortada às tiras
10 Passas
300 gr de espinafres
Óleo de girassol, amendoim, noz ou outro óleo vegetal de boa qualidade sem ser azeite (eu uso azeite em quase tudo, menos em pratos orientais, “stir-frys” e caris)
Sementes de sésamo

Método


Primeiro marine o salmão com o sake, o molho de soja, o gengibre ralado, as sementes de sésamo, o mel e o alho picado durante duas ou três horas.
Para preparar a refeição, ponha o molho teryaki ao lume e deixe engrossar sem ferver. Grelhe o salmão à parte e sirva com este molho ou alternativamente coza o salmão durante 20 minutos no molho em lume brando, tendo acrescentado meia caneca de água.
Coza a couve roxa durante três minutos e depois frite-a durante 5 ou dez minutos em óleo e azeite. Adicione as passas. Frite os espinafres com os cogumelos e o alho.


Sirva com uma cerveja japonesa Asahi

Monday 10 September 2007

Compota de frutos silvestres

Tenho no jardim três pereiras, duas macieiras e silvas de amoras silvestres e framboesas, para além de uma produção imparável de cougettes gigantes (faço tortilhas com cougettes em vez de batatas)

Para fazer bom uso dos grutos nesta altura do ano tenho me dedicado à arte da compota que é mais simples e rápida de fazer do que os doces

Ingredientes:
6 pêras ou maças grandes cortadas aos bocados pequenos
meio quilo de framboesas
meio quilo de amoras silvestres
três colheres de sopa de açucar ou 2 colheres de mel

Método:
Coza as pêras ou maças com os frutos silvestres e o açucar e meio copo de água durante meia hora, de modo a fazer uma papa não muito líquida.

Deixe esfriar, coloque num frasco com tampa e guarde no frigorífico. Coma com cereais de pequeno-almoço, iogurte simples ou gelados e sorvetes.

Friday 7 September 2007

Le Quartier Français



Em Junho tive o prazer de jantar no Quartier Français, em Franschhoek na África do Sul, número 47 na lista dos melhores restaurantes do mundo e o melhor na região África-Médio Oriente, segundo a revista Resurant. No top da lista está o El Bulli em Espanha e em segundo o Fat Duck em Inglaterra.
Estes restaurantes têm algo em comum, além dos preços, claro. Em todos eles é praticada a cozinha molecular, uma culinária moderna, que é experimental, quase de laboratório. A ideia e combinar sabores e texturas não-convencionais e usar determinadas técnicas e instrumentos de laboratório para alcançar paladares inesperados (retirar o vácuo, gelar, assar a temperaturas de fogão industrial)
O Quartier Français é um hotel e restaurante decorado ao estilo contemporâneo na vila de Franschhoek, na região vinícola da África do Sul, um vale apinhado de vinhas e de casas de produção de vinhos, onde se pode fazer provas. Ao lado existe ainda uma loja de livros e implementos de cozinha, um cinema e uma galeria que fazem parte deste “hotel boutique”.
Fundada por Huguenotes franceses no Século XVII, a arquitectura e as lojas chiques da vila, lembram mais a “New England”, principalmente debaixo das chuvas torrenciais de Junho, que quando chove na zona do Cabo, chove mesmo.
A cozinheira no Quartier é Margot Janse, uma lufada de ar fresco no mundo da alta gastronomia, dominada por “chefs” homens, com temperamentos que fervem em pouca água e com egocentrismo e fama desmedida, mas isso é outro tema.
Farei outro posting sobre vinhos sul-africanos, mas é preciso salientar que o “tasting menu” ou a prova de seis pratos foi acompanhada de champagne e vinhos apropriados. Entre cada prato (e eram minúsculos, porque os sabores são delicados e a qualidade conta mais que a quantidade) apareciam amuse-bouche (uma palavra maravilhosa) também chamados amuse-gueule ou appetizers em inglês, pequenos petiscos se quisermos para limpar o paladar. Há que salientar o aspecto estético, a combinação de cores e formas que tornam estas iguarias em quase obras de arte na sua perfeição miniaturizada.
Das coisas que me lembro melhor na sucessão de pratinhos que vieram foi o gnocchi (bolinhas de massa feitas de puré de batata) molho de tomate e baunilha e caviar de aubergine, o gelado de parmesão e o soufflé de maracujá, exactamente as misturas de eu gosto: vegetais, frutas e queijos.
O que é interessante neste restaurante de fusão gastronómica é que a influência principal é francesa, com ingredientes locais, como o “springbok”, da família do veado e com nuances internacionais. O aspecto “molecular” não é exagerado nas consistências ou nas combinações de alimentos.
Por exemplo gelado de parmesão é muito menos estranho do que gelado de sardinha, à moda do Fat Duck do “chef” Heston Blumenthal, que inventou as papas de aveia com caracol, salmão em molho de rebuçados, doce de morangos com azeitonas e ovos mexidos e outros pratos aparentemente incongruentes.
Jantar no Quartier Français é uma experiência única que nos faz querer ir para casa a correr experimentar e misturar courgettes com molho de chocolate...ou talvez não...mas que é como um filme ou um livro que nos faz pensar e sobre o qual se quer falar e analisar a seguir...como é que conseguiram alcançar aquela panóplia de sabores e será que usaram canela ou gengibre e que técnicas foram empregues para criar aquela espuma deliciosa?

http://www.lequartier.co.za/





Thursday 6 September 2007

A Escócia: deserto gastronómico?


Na semana passada estive na Escócia, um pequeno país muito bonito, com fortes aspirações independentistas e berço de escritores famosos como o Walter Scott, Muriel Spark e Ian Rankin. Contudo a parte dos petiscos falha abominavelmente. A cozinha tradicional escocesa consiste em papas de aveia, estomâgos de carneiro recheados e peixos fumados. Para tornar este quadro ou prato ainda mais deprimente com o advento da "fast-food", a Escócia é um dos locais onde a inovação culinária pretende acima de tudo fazer subir os já elevados níveis de obesidade e doenças cardíacas. Em Londres, as pessoas associam os escoceses com a invenção dos "deep-fried Mars bar" ou os chocolates Mars fritos. Tudo o que se possa fritar, eles fritam em óleo. Nunca acreditei muito nesta lenda, pensando que era mais uma manifestação de anti-escocesismo galopante, até ter visto em Stonehaven, duas horas a norte de Edimburgo um café que com orgulho se entitulava: "birthplace of the deep-fried Mars bar", ou seja esta requintada iguaria tinha ali originado.

Os restaurantes ficaram parados nos anos 70, assim como hotel onde ficámos, com as cortinas psicadélicas, as carpetes indescritíveis e as madeiras tipo chalet suiço.

Na Grã-Bretanha actual há uma certa nostalgia revivalista pelos pratos dos anos 70, de tal modo que foi lançado há pouco tempo um livro chamado "The Prawn Cocktail Years" com as receitas de cocktail de camarão, tartes de gordura gelatinosa de porco, o "steak and kidney pie", aqueles acepipes em palitos que eram considerados super-chiques em festas. Na Escócia ainda reina a antiga comida britânica, pré-Jamie Oliver e a revolução culinária da última década, na qual foi descoberto o azeite, o alho, as saladas leves e outras coisas que tais. Mais adiante retormaremos este tema. Para já deixo uma lista do que aconselho que se experimente na Escócia:


  • Papas de aveia

  • Salmão fumado

  • Fish and chips

  • Visita ao pub The Creel Inn em Catterline, um oásis culinário. Recomendo as tartes de caranguejo: http://www.thecreelinn.co.uk/

Sopa de cenoura da avó Adelaide com algumas variações

Sopa de cenoura

Ingredientes:

5 cenouras médias
2 cebolas grandes
2 batatas doces pequenas ou uma batata normal
1 nabo ou 1 alho francês (tanto faz)
Um molho de coentros frescos
3 colheres de sopa de azeite
uma pitada de sal

Descasque os vegetais. Coloque-os numa panela de água à fever com o azeite e o sal e coza durante 40 minutos em lume médio. Ponha os coentros no fim e bata com a varinha mágica.

Sobre o título do blog


Este blog é sobre livros e literatura, inspirado pela minha recente visita a Oxford, um paraíso de livrarias em que encontrei uma secção chamada "Livros sobre livros", um conceito que andava à procura há décadas. A mim, interessam-me as histórias dentro de histórias e outras redundâncias.

Mas o blog não se pode cingir aos livros porque todos nós temos que comer e na minha opinião devemos comer bem, o que não quer dizer muito, mas sim com cuidado, incluindo alimentos e sabores variados em cada prato, por isso quero partilhar receitas.

Quanto aos iscos é óbvio que este é também um blog sobre pesca... Não, na verdade nada entendo de pesca e parece-me bastante aborrecido, mas os iscos no título servem para tudo o resto.
Porquê a imagem da Catarina de Bragança? Porque me parece que ela será uma das personagens principais neste blog.