Tuesday 30 October 2007

Salada Rápida de Pêra e Roqueforte


Ingredientes
5 pêras maduras mas rijas cortadas em fatias finas
uma mão cheia de nozes esmagadas
Endívias
200 gramas de queijo roqueforte
cogumelos tipo míscaros
Azeite
Método
Coloque as pêras numa saladeira sobrea s endívias e junte as nozes
Frite os cogumelos em azeite e junte-os frios ou quentes à salada
Derreta o queijo numa panela sem gordura e deite sobre a salada
Tempere com sal e pimenta e sirva morno
Acompanhe com um vinho espumante, por exemplo Cava (Codorniu)

Tingo...pedir emprestado e não devolver



Encomendei e espero ansiosamente a chegada do livro "Toujours Tingo" do excêntrico Adam Jacot de Boinod (até o nome é fabuloso). É a continuação do "The Meaning of Tingo", e é uma colecção de palavras peculiares numa variedade de línguas que não têm tradução em inglês apesar de existerem 613000 no dicionário Oxford- Por exemplo um "gorrero" em espanhol da América Central significa "uma pessoa que deixa sempre os outros pagarem". "Um jovem com muito boas maneiras, mas que poderá ter motivos suspeitos" em alemão é "Tantenverfuhrer", literalmente um "sedutor de tias". Na indonésia há uma palavra que quer dizer "despir-se para poder dançar". Na Albânia há 27 palavras para vários tipos de bigodes, assim como os esquimós têm um não acabar de vocábulos para falar de neve. E como descrever aquela sensação de rir de tal modo que dói um dos lados do abdómen? Ora os japoneses pensaram nisso e têm a palavra certa e precisa: "kataharaitai"
O "Tingo" do título vem da Ilha de Páscoa na Polinésia e descreve a prática de "pedir emprestados e levar objectos da casa de alguém um por um e não os devolver", uma palavra muito útil.
Vamos ver que palavras portuguesas são intraduzíveis em inglês além do "Pois", uma das minhas expressões preferidas.

Sunday 28 October 2007

Douglas Coupland: a angústia dos 40

Festival de Literatura de Cheltenham II

O teatro “Everyman” estava às escuras, a não ser pela presença de um foco de luz no palco, não foi possível tirar notas, por isso aqui vai o que a minha memória reteve da palestra de Douglas Coupland:Sentei-me na segunda fila e à minha frente, no palco estava Douglas Coupland de pé a ler extractos do seu novo livro “The Gum thief”. É canadiano, tem 46 anos, é alto, com barba grisalha e está a perder o cabelo com grande rapidez, que não era nada como eu o imaginava. No início do anos 90, li com avidez “Generation X”, “Shampoo Planet” e “Microserfs”, livros que eram inovadores não só pela linguagem, pelos temas (Coupland especializou-se em dissecar ou definir a cibercultura do fim do século XX e início do século XXI) mas pelo uso de esquemas visuais, slogans e desenhos.Uma das coisas mais inesperadas neste festival é a capacidade de comunicação dos autores e a maneira desembaraçada com que falam dos livros que escreveram, o que à primeira vista não associamos com a profissão de escritor.Douglas Coupland é tímido e sarcástico com um sentido de humor apurado e faz pausas significativas entre palavras em cada extracto que lê do livro. No meio dos extractos conta pequenas histórias e faz apartes. Dizem os críticos que esta é a obra “mais adulta” de Coupland. (voltaremos ao “Gum Thief” mais adiante), mas o autor transmite um misto de entusiasmo juvenil com a desilusão dso 40 e tais. Tem uma voz muito profunda e agradável e toca na barba várias vezes, levantando os olhos claros, pequenos e incisivos. É o autor de “culto” por excelência com clubes de fãs na internet e com “postings” no “Youtube” desde que definiu uma geração, com o “Generation X” sobre jovens com cursos universitários que acabam em McJobs (um termo que também introduziu na língua inglesa), ou seja empregos no McDonald ou em sítios parecidos.Um dos apartes na leitura dos extractos foi explicar: “uso muito o nome Steve para as minhas personagens, porque acho um nome muito divertido”, disse em tom irónico. A certa altura revela que “nunca quis ser parte do mundo dos livros”, com ressentimento. Depois conta como pôs uma nódoa na camisola que tem vestida. Há algo nele de “nerd”, mas também de anti-intelectual, até porque se diz identificar mais com as artes visuais (faz escultura, instalações e mobília) e uma associação muito forte com a tecnologia. Tudo se divide em períodos relacionados com invenções tecnológicas e particularmente informáticas. Por exemplo “pré-google”, “pós-satélite”, antes da Microsoft dominar o mundo e etc…Cada livro (e ele produziu 12 de ficção) é como uma cápsula que congela o tempo, reflectindo aquela era particular…1991 (Generation X) ou 1995 (Microserfs).

“The Gum Thief”-o ladrão de pastilhas elásticas (soa melhor em inglês) é a história de Roger (quarentão, divorciado e deprimido) e Bethany (nova, “gótica” e deprimida) colegas num super-mercado de materiais para escritório (Staples) que tem uma “luz artificial que faz as pessoas parecerem doentes” através de cartas que escrevem um ao outro e diários. Roger está a escrever um romance verdadeiramente medíocre chamado “Glove Pond”, em si um nome absurdo e excerptos deste livro aparecem no “Gum Thief” que ele dá a ler a Bethany. Ambos sentem-se alienados e que falharam na vida, por razões diferentes e o facto de trabalharem no Staples não ajuda nada.Gostei muito do formato epistolar e claro que adoro “o livro dentro do livro, dentro do livro” porque a personagem do horrendo “Glove Pond” é também um escritor a escrever um livro. Um amigo meu uma vez disse-me que isto reflecte preguiça por parte dos autores “Será que não são capazes de inventar outras profissões e situações?”. Para mim este sistema funciona bem porque me interessa esse universo, mas percebo que nem toda a gente goste. É um livro que tem cenas hilariantes e outras tristes e perturbadoras, mas falta-lhe alguma consistência e coerência. O problema de Coupland é que a chamada “voz” da narrativa é inerentemente jovem e leve (à falta de uma palavra melhor), enquanto que a realidade que descreve é a desilusão do envelhecimento, a sensação de que as oportunidades são cada vez menores e de que o futuro que se avizinha é sombrio, como se caminhassemos numa linha inevitável e incontornável em direcção ao desespero, à doença, à solidão, à morte. O tom da escrita é no entanto quase jovial e muito masculino (no sentido que é uma escrita que só poderia vir de um homem…um tema para mais tarde).


Pérolas:


O casal do “Glove Pond” (Steve e Gloria) convida um escritor rival e a mulher para jantarem mas não têm comida em casa. Oferecem apenas whisky e gin em tal quantidade aos convidados na esperança que assim percam a fome

Os colegas maldosos do Staples encontram uma cópia do “Glove Pond” e começam a gozar com Roger, ao falar apenas com frases retiradas do livro

Há referências cruzadas no livro “real” e no livro “fictício” de maneira a fazer-nos questionar qual é a narrativa principal e que personagem é inspirada em quem.

Palavras do escritor:

“Because my writing comes from a different place (art school) than most other fiction, it tends to not fit into too many molds, and each book tends to be quite different than the one preceding it - which is, after a dozen books, my own pattern. "Life After God," say, is radically different from "jPod," and as a consequence I have frequently received polarized responses from readers who love/hate books in comparison with each other. The most fascinating reviews are from people who've read just two books, which seems to bring out their "Inner Simpsons Comic Book Man." If I had to read just two of my books, I'd read "Hey Nostradamus!" and "jPod."

Extracto:

Roger
“Do you want out? Do you often wish you could be somebody, anybody, other than who you are—the you who holds a job and feeds a family—the you who keeps a relatively okay place to live and who still tries to keep your friendships alive? In other words, the you who's going to remain pretty much the same until the casket?There's nothing wrong with me being me, or with you being you. And in the end, life's pretty tolerable, isn't it? Oh, I'll get by. We all say that. Don't worry about me. Maybe I'll get drunk and go shopping on eBay at eleven at night, and maybe I'll buy all kinds of crazy crap I won't remember I bid on the next morning, like a ten-pound bag of mixed coins from around the world or a bootleg tape of Joni Mitchell performing at the Calgary Saddle-dome in 1981.I used the phrase "a certain age." What I mean by this is the age people are in their heads. It's usually thirty to thirty-four. Nobody is forty in their head. When it comes to your internal age, chin wattles and relentless liver spots mean nothing.In my mind, I'm always thirty-two. In my mind, I'm drinking sangria beachside in Waikiki; Kristal from Bakersfield is flirting with me, while Joan, who has yet to have our two kids, is up in our hotel room fetching a pair of sunglasses that don't dig into her ears as much. By dinnertime, I'm going to have a mild sunburn, and when I return home from that holiday, I'll have a $5K salary bonus and an upgraded computer system waiting for me at my office. And if I dropped fifteen pounds and changed gears from sunburn to suntan, I could look halfway okay. Not even okay: hot.”


Blog do Douglas Coupland no New York Times


http://coupland.blogs.nytimes.com/

Monday 22 October 2007

"Mezze"-o meu Tabouleh

Eu adoro a ideia de petiscos ou entradas ou apenas pequenas porções que se partilham de qualquer tipo, mas particularmente "Mezze". Tapas é um conceito semelhante mas não é o mesmo que os "Mezze" que são normalmente pratos mais trabalhados e diversos com origem no Médio Oriente e bacia do Mediterrâneo.
Os "Mezze" aparecem na cozinha turca, grega, libanesa, síria, israelita, palestiniana e outras com variações. A palavra "Mezze" poderá vir da língua persa e significa "apreciar", "provar" ou poderá ser oriunda do árabe "mazmir" que quer dizer "petiscar". "Mez" em assírio quer dizer mesa e o plural poderá expressar a ideia de "pequenas mesas". Ou seja a origem é incerta, mas as raízes apontam para uma partilha de pratinhos deliciosos.
O meu "Mezze" preferido é Tabouleh, mas há muitos outros pratos, na sua maioria vegetarianos que vale a pena experimentar, como o Falafel (pastéis feitos de grão e um mistura de especiarias), o Hummus (pasta de grão), o Baba Ganoush (pasta de berinjelas grelhadas), o Iman Biyaldi (um prato feito com beingelas recheadas e que quer dizer literalmente "o imã desmaiou", tal foi o efeito dos sabores deste petisco) e o Fattoush (salado de pão frito ou tostado, menta, pepinos e tomates)

O meu Tabouleh

O Tabouleh mais simples é quase só composto de salsa fresca e sumo de limão, que eu gosto muito, mas que admito que muitos não consideram uma refeição em condições por isso aqui está a receita de um Tabouleh óptimo como entrada, acompanhamento, para comer em casa, levar para um picnic ou para a praia...

Ingredientes

Bulgur
Um grande molho de salsa picada
Duas ou três folhas de menta fresca
1 pepino grande
3 tomates médios
Sumo de 5 limões ou limas
Azeite
Alperces sêcos ou passas (não é necessário, mas o doce contrasta bem como o ácido do limão)

Método

Deite água a ferver no bulgur até tapar e deixe ficar durante 30 minutos, juntando mais se esta fôr absorvida.
Deixe arrefecer e misture com os outros ingredientes cortados em pedaços muito pequenos, a salsa picadas muito finas e tempere com sal. Deite o sumo de limão e use azeite a gosto.
Esat salada deve servir-se fria. Acompanhe com vinho branco "Poully Fume" ou "Sancerre"

Sunday 21 October 2007

Germaine Greer: Ficção histórica factual

Festival de Literatura de Cheltenham
O primeiro evento que fui ver foi a apresentação do novo livro da autora feminista, professora de literatura e polemicista, Germaine Greer. Num auditório com capacidade para 500 pessoas quase cheio, Germaine vestida de preto salta para o palco, onde se senta num banco. Por trás do palco há um écran que projecta a sua imagem. E é só isto, ninguém mais vai falar, não há nenhum número teatral, música ou dança. Germaine Greer a falar com uma leve pronúncia da sua Austrália natal, durante uma hora é puro entretenimento. Comunicadora nata, com sentido de humor e uma carreira que além de académica se expandiu para os "media", a autora do livro de culto "The Female Eunuch" sabe captar a atenção do público, quase todo composto de mulheres de uma certa idade. O seu último livro chama-se "Shakespeare´s Wife" e é um calhamaço considerável que, através de investigação histórica e análise literária, tenta traçar um retrato de Anne Hathaway, mulher de William Shakespeare. Esta personagem nunca foi estudada em profundidade e nas biografias de Shakespeare é minimizada não só por ser "apenas a mulher", mas por ter a audacidade de ter casado com o génio do milénio, ser mais velha do que ele e ser uma "prisão" que o estava a impedir de se realizar como escritor e dramaturgo.
Para piorar as coisas é vista como uma mulher ciumenta e controladora, quer terá levado Shakespeare a refugiar-se no trabalho e no adultério.
A própria vida de Shakespeare tem diversas lacunas e muito do que se sabe sobre ele é especulação. Os dados que existem baseiam-se em registos paroquiais: nascimento, casamento, testamento e morte. E são por vezes contraditórios. É desta premissa que parte Germaine Greer. Já que tanto se especulou sobre o "bardo" porque não especular sobre a mulher?Primeiro, a perspectiva histórica. No século XVI, em Inglaterra no reinado de Isabel I, as mulheres são esposas, futuras esposas ou viúvas. "O celibato não é uma opção, mas uma perversão, numa altura de protestantismo radical. O casamento não é uma brincadeira", disse Greer que explicou à audiência que era "em princípio era contra o casamento e só se tinha casado num momento de distração. Casamento que durou três semanas". Mas essa é outra história. O que se sabe sobre o casamento de Shakespeare? Que ele tinha 18 e ela 26 anos quando se casaram em 1582, que ela estava grávida, que tiveram três filhos, que William deixou Stratford-upon-Avon onde viviam e mudou-se para Londres (entre 1585 e 1592) onde fez carreira como actor e dramaturgo. Germaine começa a especular que Anne Hathaway teria casado por amor, já que William era pobre e não tinha propriedade. "Era um poeta que não tinha onde cair morto, mas era um sedutor". A maioria dos biógrafos de Shakespeare deduziu que Anne era analfabeta, mas é possível que tendo um irmão padre e vindo de uma família muito protestante tivesse aprendido a ler. A nova religião, apostava no individualismo e pregava a literarcia, para que o povo aprendesse a ler e a não confiar no que diziam os padres, assim fortalecendo uma relação pessoal com Deus. Passagens da biblía eram lidas todos os dias em voz alta. Outro argumento para defender a tese de que Anne Hathaway era uma mulher inteligente, forte e madura, talvez até de algum modo dominante surge do estudo dos poemas e peças de Shakespeare. Onde encontrou ele inspiração para criar as mulheres que aparecem na sua obra, que à excepção de Julieta são todas mais velhas, com personalidades marcadas, temperamentos indomáveis e inteligências mordazes?Nas peças de Shakespeare, basta pensar no "Taming of the Shrew", as mulheres são mais maduras e emocionalmente mais inteligentes do que os homens. A vida de Shakespeare está cheia de lacunas e o que os estudiosos chamam os "anos perdidos". Faltam documentos factuais para podermos traçar um percurso e um retrato fidedigno do autor. No entanto, existem provas histórticas que em 1585, William partiu para Londres juntando-se a um grupo de actores de teatro. Os biógrafos concluem que ele abandonou a mulher e os filhos, o que consideram quase louvável e necessário, visto ele ter um talento que o vai tornar no escritor mais importante do milénio passado (pelo menos para os académicos anglo-saxões, decerto na língua inglesa). Um dos factos que apontam para a descredibilização, se quisermos de Anne Hathaway é o testamento de Shakespeare, que ao enriquecer com o sucesso literário que alcançou, apenas lhe deixa a "segunda cama", deixando todo o seu património à filha mais velha. Germaine Greer especula que Shakespeare não fugiu de Straford (se o tivesse feito, seria perseguido pela justiça por abandono do lar familiar) mas foi Anne que o deixou ir ou talvez ou tivesse até inventivado a tentar a sorte na capital para poder concretizar a sua aspiração de escrever para o palco. Anne ficou com três filhos nos braços e conseguir sustentar-se, ninguém sabe como. Germaine Greer sugere que ela tivesse criado um espécie de negócio, a tricotar meias, qulaquer actividade que lhe permitisse tomar conta das crianças ao mesmo tempo. Quanto à célebre cama deixada em testamento, Germaine explica que na altura, as camas eram peças de mobília caras e de luxo e que a "segunda cama" era a melhor, já que era reservada para hóspedes e estava em boa condição, enquanto que a cama do casal, era a cama de todos os dias, onde as crianças nasciam e as pessoas morriam, logo bastante usada e em mau estado. Germaine Greer termina esta aula em como entreter o público com história do século XVI e feminismo retrospectivo ao dizer: Este livro é um "produto da imaginação, mas é baseado em factos. É um ficção factual. Se consegui mudar a percepção do público sobre esta mulher que antes era invisível, considero que cumpri os meus objectivos".

Festival de Literatura de Cheltenham


Todos os anos em Outubro, a cidade de Cheltenham, em Gloucestershire em Inglaterra recebe o Festival de Literatura do "Times". Cheltenham é perfeita para o evento ou conjunto de eventos, sendo a "mais completa" em termos de conservação de edifícios originais das cidades do período da Regência entre 1811 e 1820, altura em que o rei George III foi considerado incapaz de reinar, devido a uma "loucura", que a pesquisa histórica veio a concluir era causada por uma doença do sangue. É um período de transição entre a exuberância "georgiana" e a austeridade "vitoriana".
Cheltenham tem pois uma arquitectura distinta, de teor neo-clássico, as ruas centradas em torno da "Promenade" têm um ar de "campus" académico do século XIX. Outra vantagem é ter magnifícos parques e jardins, além de restaurantes, cafés e lojas cheias de carácter.
O Festival traz ainda mais vida à pequena cidade, com escritores, participantes e espectadores agrupados a ler ou a conversar nos bancos do jardim em frente ao Queen´s hotel (o chá com scones é divino) ou no bar do "Main Hall" onde decorre a maioria dos eventos. Mas há os por toda a cidade, no teatro "Everyman", no anfiteatro gigantesco, do "Racecourse", das corridas de cavalos, no colégio interno para raparigas, em tendas no jardim da praça principal. Aqui, a livraria ou monstro de cadeia de livrarias que é a Waterstones que também patrocina o festival monta também tenda com os livros dos escritores convidados para o festival (não pensem que é uma tendinha) com café e espaço para autógrafos).
Toda a cidade fica imbuída do espírito do festival que começou em 1949 e tem vindo a crescer em termos da publicidade gerada e dos bilhetes vendidos. Os eventos são apresentações de livros, leituras, debates, "workshops", cursos de escrita criativa e poesia, seminários, teatros e actividades para crianças, passeios literários. O que é interessante é que é um festival democrático, no sentido em que os eventos são acessíveis em preço e em ausência de pretensiosmo. Aqui, os escritores são apluadidos e tratados como estrelas de cinema e interagem com os seus fãs com interesse e respeito.

Friday 19 October 2007

Não leiam este livro se precisam de algo que vos anime

Anne Enright ganhou o Prémio Literário Man Booker esta semana com o romance "The Gathering". É segunda mulher irlandesa (a primeira foi Iris Murdoch) a receber o prestigioso prémio de 50 mil libras que garante um surto de publicidade e aumento das vendas.

Este é um livro controverso que é considerado acessível, mas demasiado deprimente. A própria autora, que tem 45 anos, disse "se querem ler um livro para se animarem, este não é o livro que devem ler. É o equivalente dum filme de Holywood para fazer chorar". Antes do vencedor ter sido anunciado, Anne Enright tinha já criado polémica com um artigo na revista "London Review of Books" com o título "Dislinking the McCanns", sobre as reacções negativas e até perversas que o o comportamento do casal McCann lhe inspiravam como mãe, como mulher, como " voyeuer", como ser humano. Quando lhe perguntaram o que ia fazer com o dinheiro, a escritora disse que tinha comprado um vestido e que talvez vá instalar uma nova cozinha.

O Romance é descrito como uma "saga familiar perturbante e amarga"e é o quarto livro de Anne Enright. O "Economist" comentou: "This week a new panel unexpectedly gave fiction's best-known award to Anne Enright for “The Gathering”, a raw examination of a family (Irish, of course) made up of 12 children, seven miscarriages and more than a lifetime of drink, masturbation and misery."

Já ficam avisados. Se querem um livro animado, não peguem no "The Gathering"...

Friday 12 October 2007

Londres: Um guia pessoal e transmissível-Marylebone


Marylebone

Marylebone High Street é uma das minhas ruas preferidas em Londres por ter muito poucos turistas e manter a individualidade e carácter independente do comércio.
Situada a norte da Oxford Street tem excelentes restaurantes, cafés e lojas sem o mesmo bulício. Na Cramer Street, que é uma tranversal há um mercado de agricultura biológica e “delicatessen” aos Domingos, onde se pode encontrar desde aves (devidamente depenadas, que estamos no centro de Londres) a lustrosos legumes e frutas, peixe e ostras, pães e bolos divinais, queijos, flores, alfazema, mel e até vinhos ingleses de Sussex.
Originalmente fazia parte da aldeia medieval de Marylebone. No século XVII era um local onde se ia passear, como testemunha o prolífico cronista do reinado de Carlos II, Samuel Pepys, que fala dos jardins e espectáculos de fogo de artifício naquela zona. Estes jardins que, entretanto desapareceram, foram assinalados num mapa de 1746.
Sherlock Holmes, o famoso detective, criado por Arthur Conan Doyle vivia no número fictício 221b em Baker Street, que atravessa a Maryelebone High Street.
A maioria dos edifícios datam do princípio do século XIX.
Durante décadas Marylebone foi uma zona calma e populada por idosos endinheirados que queriam estar perto da célebre rua dos médicos e clinícas privadas: Harley Street. Mas nos últimos anos, a zona reinventou-se desde que a cantora Madonna foi para ali viver, apesar de ter mantido o carácter de “aldeia” eclética, a poucos passos da Oxford Street.

O que ler: Arthur Conan Doyle, “A Study in Scarlet”, a primeira obra do autor escocês com o detective Sherlock Holmes.
O que comer: Fishworks é uma cadeia de peixarias/restaurantes onde se pode comprar peixe e marisco ou comê-lo logo ali.
A não perder: Uma visita à livraria Daunt, que é especializada em livros e guias de viagens e foi fundada no início do século XIX. Com os painéis de madeira trabalhada em dois pisos e o tecto de vidro é uma das mais bonitas e agradáveis em Londres.

Para ver loja a loja o que se pode encontar em Marylebone High Street: http://www.streetsensation.co.uk/marybone/mh1_west.htm
Para ficar a conhecer a história desta rua e bairro:
http://www.marylebonevillage.com/index.cfm/pcms/site.home/

Mais vale tarde do que nunca

Doris Lessing: Prémio Nobel da Literatura

Doris Lessing é uma daquelas escritoras que mereciam o mais prestigiado prémio literário há décadas. A certa altura a octagenária disse, com a franqueza que lhe é característica, que o influente júri de Estocolmo “não gostava muito dela”. A sua reacção foi de extrema surpresa, segundo o "Times" que relata que ela tinha ido às compras e veio a saber que tinha ganho o prémio Nobel pelos jornalistas que estavam à porta de sua casa. "Tinha-me esquecido de que iam anunciar o vencedor do prémio. O meu nome está na "shortlist" há tantos anos (...) não me posso entusiasmar com isto todos os anos", declarou com naturalidade. Na realidade, muitos críticos literários que pensavam que o italiano Claudio Magris ou o americano Philip Roth eram escolhas mais prováveis também ficaram surpreendidos.

Filha do Império britânico, Doris Lessing nasceu na antiga Pérsia (Irão) em 1919, cresceu na Rodésia (Zimbabué), onde o pai tinha uma quinta. Em 1949 mudou-se para Londres onde reside.

A prolífica escrita de Doris Lessing tem um aspecto visionário e apocalíptico, tratando de temas como o racismo, o comunismo, o feminismo terrorismo e a destruição do ambiente.
O seu livro mais conhecido e controverso é “The Golden Notebook” (1962) a complexa história de uma escritora que está bloqueada e que escreve em quatro cadernos de cores diferentes, numa narrativa fragmentada sobre as várias partes da sua vida e a sua tentativa de se libertar dos padrões sociais exigidos às mulheres. Não é um livro para se ler por gosto ou para nos divertirmos. É um livro pesado que convida à análise e expressa sérias opiniões sobre política, sociedade, psicologia além de documentar uma vida interior em turbilhão.
Com uma carreira de 50 anos, Doris Lessing tem uma obra variada e produziu romances sociais, políticos e de semi-ficção científica.

Sobre necessidade da ficção proferiu: "It is my belief that we value narrative because the pattern is in our brain. Our brains are patterned for storytelling, for the consecutive".

E é isso que ela tem feito, contado histórias que mais do que reflectirem ou interpretarem o mundo actual, mostram um futuro possível, na maioria dos casos bastante deprimente.

Tuesday 9 October 2007

O elogio da torrada

O cozinheiro-escritor inglês Nigel Slater defendeu no livro "Eating for England: The Delights & Eccentricities of the British Table" que a torrada era a maior contribuição britânica para a gastronomia internacional. Não é por acaso que a sua autobiografia chama-se "Toast: a Story of a Boy´s Hunger".
Os britânicos têm centenas de tipos de torradas, pricipalmente em casa e nos pequenos-almoços em hotéis. E é sintomático que a BBC ofereça 127 receitas de torrada na "BBC Food" (http://www.bbc.co.uk/food/) e que os "beans on toast" sejam uma instituição nacional e prato diário de estudantes com falta de dinheiro e sofisticação culinária.
Nos cafés, raramente é possível pedir uma simples torrada, como temos em Portugal, as duas fatias gordas de pão branco cortadas em seis pedaços e encharcadas em manteiga.
No Reino Unido, a torrada aparece sob a forma de pão branco ou integral, pão de centeio, "bagels" os "soldiers" (tiras de torrada que se molham na gema do ovo cozido) e o que Nigel Slater considera a melhor torrada do mundo: "Aga Toast". Tive o prazer de experimentar esta iguaria recentemente. A Aga é uma marca e tipo de fogão icónico que se vê muito no campo inglês, de aparência antiga com dois ou mais fornos, com compartimentos para grelhas e com discos em vez de bicos. Trabalha a óleo e demora várias horas a aquecer, pelo que a maioria das pessoas a deixam ligada permanentemente. Há técnicas especiais para cozinhar com Agas e os seus entusiastas garantem que a comida sabe melhor. Além de servir de aquecimento da cozinha ou da casa, a Aga ajuda a secar roupas, fazer vários e complicados pratos ao mesmo tempo, embora seja preciso quase um curso e seguir livros especializados para a usar (fiz uma vez bacalhau com natas numa Aga que foi um triunfo na face da adversidade tecnológica). De qualquer modo a confecção de torradas na Aga é relativamente simples. Coloca-se o pão numa grelha que se aperta, põe no disco e fecha-se a tampa (cada disco tem uma tampa). Eu continuo a achar as torradeiras, um electrodoméstico indispensável e mil vezes mais práticas.
Porque é que gosto de torradas? Como muitas outras comidas de que gostamos a origem está na infância. A minha avó e bisavó maternas davam-nos chá e torradas quando não nos sentiamos bem. A minha avó paterna estava sempre a falar de "torradinhas". Ou seja é um alimento nostálgico, reconfortante e que nos satisfaz e aquece. E claro que deve ser acompanhada de chá preto.

As minhas torradas preferidas:
Pão de centeio com mel
Broa com manteiga
Pão alentejano com queijo fresco
Pão integral com passas com manteiga
Pão alentejano com queijo fresco ou requeijão
Pão integral com ovos mexidos com salmão
Pão integral com doce de laranja amarga e gengibre
Pitta integral com hummus
Pão integral com cogumelos e molho de queijo roqueforte ou stilton, salsa e pimenta (como entrada)
Pão integral com sardinhas de lata (marinadas em azeite, limão, alho e oregão)

Man Booker Prize

Vencedor será anunciado dia 16 de Outubro


O prémio Literário Man Booker celebra obras de ficção em língua inglesa de um autor ou autora da Commonweath ou da República da Irlanda. O vencedor recebe 50 mil libras e tanto ele como os escritores que são escolhidos para a "shortlist" de seis obras aumentam a sua visibilidade e o número de cópias vendidas, dado o perfil mediático deste prémio. Há vários anos que se se debate a exclusão dos escritores americanos e se esta não diminui a qualidade da oferta, pelo que há dois anos foi criado um Man Booker internacional, apesar de estar ainda pouco estabelecido no meio literário.
Este ano, uma das várias polémicas em torno deste prémio diz respeito à obra de Ian McWewan "On Chesil Beach" que alguns críticos consideram ser demasiado curta para fazer parte da categoria de romance. McEwan que ganhou o prémio em 1998 com "Amsterdam" explicou que fazia sentido que o livro tivesse 200 páginas, porque a acção decorre numa noite: "Nuna podia ser um romance longo", defendeu.
No ano passado a vencedora foi Kiran Desai com "The Inheritance of Loss". Assim, ninguém espera que o seu conterrâneo, Inha Sindra ganhe este ano, já que normalmente se espera dos juízes que evitem a repitação de certos países ou géneros.
O próprio prémio está a ser questionado, dada a notícia do mês passado de que o livro da modelo Jordan (conhecida pelos implantes nos seios e falta de talento) tinha vendido mais cópias do que a totalidade dos seis livros da lista de candidatos ao Booker. Ao todo "Crystal", que é o segundo romance de Jordan, de seu nome verdadeiro Katie Price vendeu mais de 150 mil cópias, com a assistência de um "ghostwriter" e de uma considerável campanha publicitária.
Em geral, as vendas de romances subiram de 30 milhões de cópias vendidas em 2001 para 70 milhões em 2007, segundo o Daily Telegraph. No entanto, são menos os autores e os livros que realmente vendem. A diversidade é menor e são as "marcas" conhecidas como Ian McEwan ou Martin Amis que têm sucesso. Vamos ver o que acontece na próxima semana e se o vencedor ou vencedora consegue competir com o triunfo literário que é "Crystal".


"Shortlist 2007:
Indra Sinha — Animal’s People
Mohsin Hamid — The Reluctant Fundamentalist
Lloyd Jones — Mister Pip
Ian McEwan — On Chesil Beach
Nicola Barker — Darkmans
Anne Enright — The Gathering


http://www.themanbookerprize.com/

Thursday 4 October 2007

Plettenberg Bay-Risotto Outonal











Plettenberg Bay, na África do Sul, onde no magnífico Hotel Plettenberg comi Risotto de gengibre, que vou aqui tentar recriar (com algumas adições outonais). O risotto que eu comi servia de acompanhamento a uma posta de peixe (com molho de alcaparras e champanhe), mas este é um prato completo.

Risotto com abóbora para um Outono Feliz
(4 pessoas)

Ingredientes:

Meia abóbora média cortada em cubos com casca
Alecrim e tomilho
1 alho francês cortado às rodelas
2 dentes de alho
1 cebola média
1 colher de sopa de mel
Azeite
gengibre fresco
4 colheres de sopa de crème fraîche, fromage frais ou natas (meio-gordo)
1 folha de louro
225g de arroz para Risotto (Arborio)
Meio litro de caldo vegetal
Meio copo de vinho tinto (os meus risottos estão sempre desentos de vinho)
Queijo parmesão ralado para servir

Método:

Aqueça o forno a 200 graus. Asse a abóbora durante meia hora-45 minutos, até tenra num tabuleiro com azeite, alecrim e tomilho.

Entetanto faça um refogado com o alho, cebola, alho francês, o gengibre e louro. Quando estiver dourado e macio, coloque o arroz e frite-o, até começar a pegar no tacho. Adicione o caldo, o vinho, o mel e mais meia chávena de água aos poucos, até o arroz ir absorvendo o líquido.
Isto levará entre 15 a 20 minutos. Cozinhe em lume brando mais 10 minutos até o arroz estar pronto. No fim misture as natas e a abóbora.
Sirva com parmesão ralado.

Recomendo um bom Pinot Grigio branco (Da Luca Pinot Grigio Venezie, por exemplo)