Friday 30 November 2007

Um "Crumble " que Não Estraga a Dieta


Crumble Star Aniseed

Tendo passados os últimos 20 anos em dietas, especializei-me na adaptação de dietas engordativas em algo que possa satisfazer o apetite com menos calorias, gorduras e açucar. Nem sempre é fácil e acho que tenho tal fobia de açucar que os meus bolos não são os mais apetitosos do mundo. Mas não se pode ter tudo.


Nunca sou capaz de seguir receitas, tiro e adiciono ingredientes, modifico e invento, conforme as minhas restrições alimentícias e de maneira a que o prato final seja saudável, agradàvel à vista e saboroso.


Este "crumble" é delicioso e fácil de fazer e "engana", quem quer uma sobremesa mas está de dieta. Como sempre convem comer porções pequenas. Eu sirvo-o numas taças muito pequenas, brancas que podem ir ao forno.

Ingredientes
Frutos silvestres
maças reinetas
canela
gengibre em pó
mel
adoçante
erva-doce
"Star aniseed"
Casca ralada de laranja
amêndoa em pó (um óptimo substituto de farinha para vários pratos)
aveia em flocos
manteiga sem sal
xerez, vinho do porto ou moscatel ( tem que ser alcoólico e ultra doce!)
Método
Começa-se por fazer uma compota com os frutos silvestres numa colher ou duas de água, com o mel, as especiarias e com o vinho doce. À parte mistura-se as amêndoas raladas com a manteiga, oa aveia, o adoçante e mais canela, de maneira a formar uma consistência de areia grossa.
Coloca-se as maças cortadas às fatias grossas no fundo da travessa para ir ao forno. Cobre-se com a compota e depois cobre-se com as amêndoas-aveia. Vai ao forno duranye 30 ou 40 minutos.




Wednesday 28 November 2007

Duas Receitas Simples de Bacalhau Fresco

Couscous Con Pesce
Bacalhau com Grão


Couscous con Pesce

Ingredientes
Couscous
Bacalhau
300 gr de camarões
Caldo de peixe
2 cebolas médias
alho
100 gr de amêndoas
3 tomates maduros
1 chili
1 pau de canela
1 pitada de colorau
louro
1 copo de vinho branco
Salsa
Azeite

Método
Deita-se o caldo de peixe a fever num recipente com os couscous cobrindo-os acima com 4 dedos (o líquido é completamente absorvido). Faz-se um refogado com azeite, alho, a cebola, o pau de canela, o louro e as amêndoas. Junta-se aos couscous que entretanto já estão cozidos. Separadamente frita-se o bacalhau e os camarões em azeite durante cinco minutos, deita-se o vinho. Tapa-se e deiza-se cozer durante 10 ou 15 minutos, deita-se a salsa.
Serve-se o peixe em cima do couscous.

Bacalhau com Grão à Espanhola
Ingredientes
Bacalhau
Grão de lata
Salsa
Caldo de peixe
Azeite
Tomate enlatado
Cebola
Alho
Copo de vinho branco

Método
Faz-se um refogado com alho, cebola e azeite, frita-se o bacalhau, deita-se os tomates em lata, o caldo de peixe e o vinho branco. Quando o bacalhau está cozido, deita-se o grão, deixa-se cozer durante 10 minutos e serve-se com salsa

Tuesday 27 November 2007

Daphne de Maurier: o espírito indomável



Festival de Literatura de Cheltenham

Os leitores mais atentos devem estar a magicar: Como pode a pobre Daphne du Maurier ter estado em Cheltenham se faleceu em 1989?
A verdade é que o festival celebra aniversários e acolhe lançamentos de biografias e estudos sobre autores do passado. Por exemplo, Arthur Conan Doyle esteve também em espírito num debate sobre o seu fascínio pelo sobrenatural, fadas e a convocação das almas, apesar de ter sido médico e supostamente racional.
A Daphne du Maurier era uma mulher mais prática e é principalmente conhecida por duas obras que foram adaptadas ao cinema por Alfred Hitchcock: "Rebecca" e "The Birds".
O evento foi apresentado por Helen Taylor, biógrafa de Daphe du Maurier que publicou "Daphne du Maurier: A companion" para assinalar o centenário do seu nascimento. Neste livro vários escritores falam da vida de Du Maurier e defendem uma obra preferida.
Vamos começar com "Rebecca", que acabei de ler há pouco tempo e que é perturbante, sombrio e sinistro, mesmo quando não acontece nada, há uma sensação de algo profundamente maligno.
Em sinopse: a protagonista (cujo nome nunca é revelado) é jovem, naive e orfã, trabalhando como "dama de companhia" de uma senhora americana que a trata como a uma criada e humilha constantemente. De férias na Rivieira francesa, a heroína conhece e apaixona-se por homem com o dobro da idade, o misterioso e "socialmente superior" Max de Winter, dono da mítica mansão de Manderley no oeste de Inglaterra. Sabendo apenas que ele era viúvo e sem qualquer experiência, a protagonista casa com ele em França. Quando chega a Mandeley começa a sentir que o marido muda de humores rapidamente, que os criados não a respeitam e que a casa está cheia de segredos, incluindo o quarto da primeira mulher, Rebecca.
De repente, Rebecca começa a dominar Mandeley, a sua presença é mantida viva pela temível governanta, Mrs Denvers que gere a casa como se Rebecca fosse a patroa. O casal começa a discutir, a protagonista vai descobrindo mais detalhes, a pouco e pouco a obsessão com Rebecca começa a crescer. É isso é que é interessante. Daphne du Maurier que ficou famosa após a publicação deste livro odiava que a considerassem uma "autora romântica", tendo afirmado que esta obra que se tornou uma espécie de presente envenenado, que que du Maurier não conseguia fugir (nenhum dos livros posteriores teve o mesmo sucesso) era "um estudo sobre o ciúme".
Há algo de profundamente feminino na relação entre as três mulheres: a protagonista, Rebecca e Mrs Denvers (até alusões a que a governanta, mais do que obcecada estava apaixonada pela electrizante Rebecca). Por outro lado há uma personagem que também tem um papel muito importante a desempenhar e que é Manderley, a casa, os jardins, a pequena praia privada, a cabana onde Rebecca costumava ir. A paisagem agreste do sudoeste inglês, inspirada pela Cornualha para onde se mudou Daphne du Maurier é central na acção narrativa.
A certa altura é descoberto o corpo de Rebecca e que a mulher enterrada não era ela. Surgem suspeitas de assassínio que recaem sobre Max de Winter, que é levado a tribunal.
O que é interessante no trabalho de Daphne de Maurier é o que fica por dizer. Tudo é insinuado e há uma constante corrente subterrânea de "suspense" que capta o leitor.
(O filme "Rebecca" de Alfred Hitchcock (1940) com Laurence Olivier e Joan Fontaine tem um fim muito mais satisfatório para as audiências do cinema e para os fãs de Olivier, apesar da atmosfera sombria).
A autobiografia da infância e juventude de Daphne du Maurier mostra a sua determinação em escrever, em fazer as suas próprias escolhas e distanciar-se da família e das expectativas face ao seu sexo e condição social. Desde nova, que Daphne preferia passar temporadas sozinha na Cornualha a passear e a andar de barco do que ir a festas e bailes em Londres. Desde cedo, uma imaginação fértil e algo macabra combinada uma enorme persistência e um talento nato tornararam-na numa das escritoras com amis sucesso e mais admiradas do século XX.

Wednesday 14 November 2007

Livraria Arcadia



No Inverno de 97 trabalhei numa livraria antiquário, em frente ao Museu britânico. Propriedade de um casal americano aterrorizante que nunca cheguei a conhecer e que geria pessoalmente e com rédea curta esta loja assim como a livraria-mãe (faz lembrar a "Star Death" da Guerra das Estrelas, ou seja a nave-mãe) no coração de Manhattan. O estabelecimento londrino tinha um nome vagamente grego ou latim para evocar erudição e nunca poderia ser confundido com um mero alfarrabista ou livraria em segunda-mão. O edifício datava do século XIX e a livraria ocupava a cave, primeiro e segundo andar, com austeras escadas de madeira que rangiam como num filme de terror. Os livros não estavam agrupados por temas, épocas, autores ou qualquer outro sistema que pudesse facilitar o cliente, mas sim por vendedor a quem tinham sido comprados (os "dealers", que mais uma vez faz lembrar "drug dealers"). Assim as estantes tinham os apelidos destes homens misteriosos e extremamente excêntricos. Cada um deles tinha um portfólio e uma especialidade. Um, por exemplo vendia primeiras edições modernas, outro livros para crianças, outro livros científicos e por ai fora. De vez em quando apareciam na Arcadia (vamos chamar à livraria, Arcadia) com malas ou caixas cheias de livros que tinham que ser inspeccionados e catalogados. Um deles vestia uma garbardina beije e sebenta e tinha o cabelo ralo mas comprido. Havia algo de sórdido e quase desonesto nos "dealers", apesar de serem apenas homens que viviam para comprar e vender livros. Como os coleccionadores ficavam excitados quando tocavam nas páginas de livros raros e esgotados, cuja caça era a sua única razão de existir. Fui contratada num ápice, apesar de não ter experiência nenhuma de livrarias, nem de comércio, nem nunca ter processado uma transacção comercial. Como todos os outros empregados à excepção de uma pessoa, eu tinha as qualificações necessárias para um salário muito abaixo do mínimo nacional e do que ganham as empregadas domésticas em Londres: era ultra-qualificada, ou seja era preciso ter um mestrado, pós-graduação ou mesmo doutoramento. E é imperativo que passe agora à descrição dos meus colegas. O gerente era o Steve (os nomes são fictícios não para proteger a identidade dos participantes, mas porque não me recordo dos nomes verdadeiros de todos eles), um inglês típico de meia idade e aspirações intelectuais com cabelo grisalho sobre o comprido, óculos, camisolas de lã grossa a tapar inedequadamente a barriga protuberante. Era um fraco e um canalha, sem espinha dorsal, sempre a abusar da sua posição de gerente e a dar graxa aos americanos ao telefone que o tratavam como a um cão vadio (e com isto não quero dizer com compaixão e respeito). Na complexa hierarquia desta instituição, havia duas pessoas que eram coronéis do General Steve, um crítico e outro leal: Rachel, uma escosesa da minha idade, com um doutoramento em egiptologia e o intrigante e lacónico russo, Vladimir, o único que não tinha qualificações discerníveis. A Rachel era muito simpática e bonita com o cabelo ruivo e sardas e uma aparência que nada tinha a ver com o seu carácter marcado, personalidade crítica e extrema perspicácia. Cedo, nos tornamos compinchas, contra o Steve, cuja voz pegajosa e exigências absurdas nos irritavam e contra o russo que desconfiávamos ser um "buffo" e espião do Steve.
Estão a seguir a trama?
Pois bem, depois havia o Ben que era um jovem borbulhento de óculos de lentes grossas e aros pretos (género Peter Sellers) e franja estudada, muito magrinho de calças justas e sapatos bicudos, que no contexto do revivalismo dos anos 60 que se atravessava naquela altura era considerado "bem parecido". O problema principal com o Ben era o cabelo oleoso e o ar encardido de quem tinha acabado de vir de um motim nas ruas de Paris em Maio de 68. Mas era um alma poética que coleccionava Tennysons, bem intencionado e divertido, apesar de "não acreditar no sabão". O Ben tinha uma namoradinha inglesinha e moderninha de quem falava todo o tempo e isto é relevante porque havia mais uma personagem na Arcadia que era a Amy, mulher quarentona que desenvolveu por ele uma paixão galopante. A Amy era americana com um doutoramento em literatura, frequentava psiquiatras e parecia saída de um filme da fase séria do Woody Allen. Tinha o cabelo castanho muito comprido e liso, como usavam as senhoras que nos 80 preferiam inspirar-se na "Belle Époque", além de umas blusas de colarinho rendado e calças-saia largas e botins, ou seja mais um anacronismo. A Amy ficava embevecida com as tontices do Ben e imaginava que qualquer dia ele ia deixar a namorada e cair-lhe nos braços. Nós (eu e a Rachel) reviravamos os olhos e tendo 20 e poucos anos como o Ben achavamos que os avanços da Amy eram chocantes e inapropriados, apesar de termos pena dela. O Ben, como ente adorado conseguia ser muito cruel.
Passávamos os dias a arrumar livros. Eu adorava as prateleiras de livros infantis e de culinária do século XIX com ilustrações fantásticas. Limpava o pó cuidadosamente e marcava a lápis o preço (super-inflaccionado). Só havia um computador e a internet estava na idade da pedra. O russo era responsável por encomendas e por responder a e-mails, um trabalho que levava muito a sério.
Tinhamos poucos clientes, afugentados pelo edifício fino, os preços exorbitantes e a fauna de personagens que ali trabalhavam. Havia os coleccionadores, alguns apaixonados pelos livros, outros pela possibilidade de fazer negócio e depois havia o grupo que mais desprezávamos: os turistas, que saiam do museu britânico e faziam a ronda das lojas do bairro.
Quando se aproximava o Natal, o Steve mandou a Rachel decorar a montra, porque eu "não tinha experiência suficiente". O russo concordou que a montra era um trabalho muito difícil e especializado. A Rachel pediu-me ajuda e fizemos uma montra de Natal lindissima inspirada pelo Charles Dickens.
A certa altura eu e a Rachel decidimos queixar-nos dos nossos salários miseráveis. Sabiamos que o russo ganhava muito mais. Pedimos para que nos pagassem os transportes, uma reeinvindicação que foi recusada pelo patronato. Estávamos cada vez mais revoltadas com a injustiça laboral e a gota de água que precipitou a nossa saída foi quando o Steve insisista que nós tinhamos que limpar a cozinha da livraria. Ora, o russo e o Ben não limpavam a cozinha e o Steve morria de medo da Amy. Resolvemos despedir-nos e fomos para o Chez Pierre, um restaurante francês beber vinho branco no frio de Janeiro. Nunca mais nos vimos. Entretanto alguns anos mais tarde a Arcadia fechou. Espero que a Rachel seja uma egiptóloga conceituada, que o Steve esteja a dar graxa a alguém ou esteja reformado, que o russo esteja menos carrancudo, que o Ben escreva poesia, que a Amy tenha encontrado um "dandy" tipo "Moulin Rouge" que a aprecie.

Tuesday 6 November 2007

Sopa Super-Fácil de Abóbora Menina (Butternut Squash)


Demorei bastante tempo a encontrar a tradução para este tipo de Abóbora que é muito saborosa e rica em vitaminas e minerais. O Outono é a altura ideal para comer abóboras e legumes semelhantes, que eu uso assados no forno (com cebolas, batata doce, pimentos, berinjelas e courgettes, com rosmaninho) ou em caris tailandeses, em puré , em risottos e muitas outras receitas. Esta sopa é a mais simples que experimentei.

Ingredientes
1 Abóbora-Menina Butternut Squash média lavada e cortada aos cubos (remover as pevides e
Gengibre fresco
Três cebolas grandes
3 colheres de azeite
sal e pimenta
Noz moscada

Método
Coza os ingredientes durante 40 minutos e passe com a varinha mágica. Tempere com sal, pimenta e noz moscada.





"Then We Came to the End", Joshua Ferris

Estou a ler este primeiro romance de Joshua Ferris, sobre o mundo do trabalho, o ambiente corporativo numa agência de publicidade de Chicago na altura da recessão "Dot-com", ou seja o início do século XXI. Narrado na terceira pessoa do plural, o livro relata como, um a um, os
empregados vão sendo despedidos, enquanto vai crescendo o medo dos despedimentos, aumentam as intrigas e também uma intimidade perturbadora entre as pessoas num espaço claustrofóbico. É um retrato da mesquinhez e solidariedade que se encontra em escritórios em todo o mundo, com pormenores muito bem observados das idiossincrasias de pessoas forçadas a passarem mais tempo com um grupo de estranhos virtuais do que com a família e os amigos. Por exemplo, o "nós" que narra a história fala de um colega que está a escrever um romance e adora livros, então fotocopia extractos para ler à secretária a fingir que está a trabalhar, ou o caso da chefe que tem cancro mas que vai trabalhar no dia antes da operação e recusa-se a debater o assunto por "estar fora do âmbito profissional". Há ainda empregados que começam a ficar paranóicos com o terror de serem despedidos, descrições do puro aborreecimento, das horas mortas, dos intervalos para o café e as tarefas inúteis. Alguns envolvem-se romanticamente, outros tentam roubar as melhores cadeiras do escritório, tudo para tentar lidar com a enorme pressão que estão a viver.
É um romance sobre a cultura americana do trabalho, como validação do indivíduo e mecanismo que confere sentido, orgulho pessoal e "status social".
Pode-se encontrar paralelos com a série cómica "The Office" e com o divertido, "Who Moved My BlackBerry?", da colunista do Financial Times, Lucy Kellaway (escrito sob a forma de e-mails, é um olhar sobre o mundo rídiculo de um gestor de marketing, cuja gíria corporativa e constantes "gaffes" tornam este livro impossível de não ler de uma tirada só)
Para terem uma ideia: http://www.thenwecametotheend.com/