Tuesday 29 January 2008

Será que Bill quer sabotar Hillary?



Na minha opinião o machismo poderá ser um factor mais prevalente do que o racismo na eventual escolha do candidato à nomeação Democrata. Hillary Clinton terá que se confrontar com poderosos inimigos não só na direita neo-conservadora, como no seio dos Democratas que acham que uma mulher é menos capaz do que um homem. Como já referi, nos comícios da ex-primeira Dama há homens que gritam para ela lhes fazer o jantar ou engomar camisas. Mas será que o próprio marido lhe está consciente ou inconscientemente a sabotar a campanha? Primeiro adormeceu num sermão numa igreja, que deve ter sido chatíssimo no dia de homenagem a Martin Luther King (a mensagem não é mais positiva) e nas últimas semanas tem atacado Barack Obama de um modo tão agressivo que lhe está a entregar a vitória de bandeja. Além de ter vencido na Carolina do Sul, Obama conta agora com um apoio de peso: Edward Kennedy, irmão do presidente assassinado nos anos 60 e um ícon do partido assim como outros dois membros do "clã" Kennedy vieram a público dizer que Obama é o candidato da nova geração. Uma das razões pelas quais a respeitada elite democrata decidiu escolher Barack em vez de Hillary são os ataques, o tom de Bill Clinton e o facto ede ter introduzido o "tema raça" na corrida eleitoral. Também a escritora afro-americana, vencedora do prémio Nobel, Toni Morisson retirou o apoio à senadora de Nova Iorque apostando em Obama. E não esqueçamos que ela tinha declarado que "clinton foi o primeiro presidente negro" nos Estados Unidos, tais eram as suas credenciais de integração racial. Ou seja Bill Clinton, que era considerado o grande trunfo de Hillary está a tornar-se num empecilho e embaraço...será que é porque não lhe agrada o papel secundário de esposo?



Tuesday 22 January 2008

Política e religião na corrida à Casa Branca





Muitos são os que pensam que o próximo presidente dos Estados Unidos dificilmente será pior do que George W. Bush. Na semana passada, uma sondagem de opinião ABC/Washington Post mostrava que a popularidade de Bush caiu abaixo dos 33%, a percentagem mais baixa desde que tomou as rédeas do poder em Janeiro de 2001. Nixon e Carter conseguiram ser ainda mais impopulares, mas nunca um presidente gerou a controvérsia, a ridicularização, a incongruência verbal, o absurdo a que Bush nos habitou nestes perigosos e conturbados anos.
Contudo, há dois candidatos à nomeação republicana que poderão vir a competir com o texano no capítulo das polémicas domésticas e internacionais. Mike Huckabee e Mitt Romney, ambos profundamente religiosos, de direita, pela defesa do “lobby” pró-armas, contra o aborto, contra os direitos dos homosexuais, pela “independência e segurança no sector da energia”, o que pode significar uma continuação da desastrosa política ambiental de Bush.
Mas convém distinguir entre Huckabee, ex-pastor da Igreja Baptista evangélica, que se pode argumentar ser fundamentalista cristão e o milionário Romney, que é Mormon, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Romney, que era governador do Massachusets mudou a posição face a alguns dos assuntos referidos anteriormente, tendo se tornado ainda mais conservador, partindo inicialmente de uma posição algo aberta e ambígua, num estado que é considerado bastante progressista.
Huckabee apela à chamada “Bible belt”, a região sudeste dos Estados Unidos, com fortes raízes protestantes, onde a prática da religião é ferverosa e intrínseca à cultura local. O ex-pastor e governador do Arkansas defende que “o papel da religião deve ser reforçado e “trazido para a esfera pública”. Huckabee comparou a homosexualidade à bestialidade e nega o evolucionismo, acreditando que a terra foi criada por Deus após o dilúvio há 10 mil anos. O desprezo pela ciência e o racionalismo está a ganhar cada vez mais adeptos nos Estados Unidos e não só.
Mas, o mais preocupante é que a doutrina do criacionismo seja ensinada nas escolas. (De pequeno se fanatiza o pepino). Os baptistas interpretam a bíblia de maneira literal e vêem como heresia ou blasfémia quaisquer divergências. E é aqui que surge o principal problema de Romney. Mau-grado ser visto como um sucesso em termos de gestão dos projectos a que esteve associado, como governador, em termos capilares (um dos pontos mais importantes para qualquer candidato que se preze. Não é por acaso que o Democrata, John Edwards gastou mais de 200 Euros num corte de cabelo) o facto de ser mormon é catastrófico para as suas aspirações políticas. O mormonismo é considerado um “culto”, no sentido pejorativo da palavra, fora da tradição cristã embora seja na verdade uma seita, na medida em que é como as Testemunhas de Jeová ou Adventistas do Sétimo Dia, um movimento separatista face a uma tradição protestante. Os mormons não aceitam a divina trindade, alguns praticam a poligamia e vivem em comunidades segregadas, além de acreditarem num Testamento alternativo (o Livro de Mormon) que conta que Jesus Cristo esteve nos Estados Unidos (em pesssoa) e dizem ter os arquivos genealógicos mais completos do mundo (para a salvação e baptismo de almas).
Quem será mais indicado para a Casa Branca? Do lado Democrata, os Metodistas Unidos (maior denominação protestante do país), Clinton e Edwards, o protestante da Igreja Unida de Cristo, Obama? Do lado Republicano temos o evangélico baptista Huckabee, o mormon Romney, o também evangélico bastista McCain ou o católico Giulliani? Mais chocante do que um candidato ser negro, do sexo feminino, divorciado (Giulliani vai no terceiro casamento) será um candidato que tiver a coragem de ser agnóstico ou ateu num país onde o fundamentalismo cristão é galopante.

Friday 11 January 2008

Hillary Clinton e a Misogenia Reinante



Apesar de as eleições norte-americanas não serem um tema óbvio para este blogue, serão acompanhas aqui, já que 2008 é um ano crucial com a escolha de um novo presidente, após oito anos de administração Bush. Esta corrida presidencial a todos diz respeito e tem impacto a nível global. O novo líder tomará decisões, que claro afectam o futuro de 300 milhões de americanos. Será que finalmente será implementado um sistema de saúde universal, será que as divisões politícas, económicas, socais e raciais poderão ser ultrapassadas, será que o cinismo, as desconfiança e desprezo pelo processo político poderão dar lugar a um novo optimismo, são as grandes questões. O próximo residente da Casa Branca vai herdar um difícil legado de intervenções militares falhadas, uma economia em queda e má vontade geral perante uma super-potência que se recusa a fazer face aos desafios do aquecimento global e cuja política externa contribuiu para radicalizar e alienar gente desde o Paquistão ao Iraque. Muito tem sido escrito e dito sobre o duelo Democrata entre o suposto "primeiro negro" e a suposta "primeira mulher", o que em si só paternalista é sintomático de como estes grupos tão dominantes em termos populacionais foram mantidos à margem do sistema político de Washington.
Hillary Clinton, a ex-primeira dama venceu as primárias para a nomeação do Partido Democrata em New Hampshire e logo se construiu uma narrativa em torno do facto de ela ter "quase chorado" e ter conseguido conquistar eleitoras, quando a maioria das sondagens indicam que as mulheres preferem Barack Obama. A célebre apresentadora de "talk shows" que se transformou numa influente "marca", Oprah também prefere Obama, mas as suas credenciais são duvidosas (apoiante do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger).
Os ataques a Hillary Clinton são incessantes e raramente políticos homens são acusados dos mesmos crimes: terem rugas, terem excesso de peso, terem um penteado fora de moda ou vestirem-se mal. Estas críticas são feitas de maneira mesquinha e revelam um ódio e desprezo misógino.
A senadora do estado de Nova Iorque não é apenas a ex-mulher do mulherengo Bill Blinton, humilhada em público, ridicularizada e penalizada por ter dito que o seu objectivo "não era fazer bolos" e não ter mudado o nome quando casou com Bill, como qualquer primeira dama que se preze. Ao contrário de Laura Bush, Hillary Rodham Clinton não existe para enfeitar e sorrir. Leal ao marido, sim, mas com um carisma, uma garra e inteligência a que não estamos habituados. Hillary Clinton faz discursos na campanha com homens na multidão que gritam "vai para casa fazer o jantar". Li artigos em que jornalistas (homens) simpatizam, com o pobre Bill Clinton por ter que viver com uma mulher tão masculina e mandona que o proibiu de comer pizzas e hamburgers e de fumar. Não admira que ele tenha tido tantas amantes...Outros escrevem que se ela ganhar será por causa do marido e da sua popularidade. É este o nível da análise política sobre a candidatura de uam mulher que tem a audacidade de não ser nova e cretina.
Os meios de comunicação descrevem-na ou como mulherzinha choramingona, emocional (um dos piores pecados para uma mulher no mundo dos negócios ou da política) incapaz e incompetente ou como "robot" desumana, fria e calculista. Bush pode chorar, Giulliani derramou muitas lágrimas e futebolistas e desportistas passam o tempo com a cara encharcada, tal é a sua dor ao perder ou ganhar. Em público, as mulheres normalmente não podem e não devem chorar, porque logo aparece alguém que vem dizer que são as "hormonas", a Tensão Pré-Menstrual ou a menopausa.
No caso de Hillary, o cinismo da imprensa interpretou aquele momento de vulnerabilidade como uma encenação estudada para cativar o eleitorado feminino, que claro é tão pouco sofisticado que se sente atraído apenas pelos fatos de bom corte, o sorriso e beleza de Barack Obama.
Apesar de toda a onda de entusiasmo em redor de Obama, Clinton como animal político que é teve que apertar com ele e lembrar que as recentes comparações com J.F. Kennedy são absurdas, que Obama não passou décadas no senado, nunca dirigiu nenhuma empresa ou organização, nem é veterano de guerra como o era, o idolatrado presidente assassinado em 1963. Após ter perdido em Iowa, Clinton não ganhou em New Hampshire porque lhe tremeu a voz, mas porque é uma lutadora com uma retórica realista, que sabe que as palavras mais gastas em campanhas eleitorais são "mudança" e "esperança".

Salmão com Puré de Ervilhas

E para não ficarmos muito tempo sem receitas
Simples, rápido e bonito

Salmão com puré de ervilhas

Ingredientes
Postas de salmão médias
Azeite
Vinagre balsâmico
Ervilhas congeladas
Hortelâ pimenta, basilíco e salsa (umas folhinhas de cada)
Duas colheres de crème fraîche ou mascarpone

Método
Coloque o salmão numa travessa de ir ao forno e tempero com o azeite, viagre, sal e pimenta. Asse durante 15 ou 20 minutos. Entretanto coza as ervilhas congeladas (3 minutos), passe-as pela varinha mágica com as ervas, um fio de azeite e o mascarpone.
Em 20 minutos tem o jantar na mesa com o roda do salmão a contrastar com o verde claro do puré.

Wednesday 9 January 2008

Flashback dos anos 80

A energia contagiante da aeróbica


Hoje fui a uma aula de aeróbica, um estilo de exercício (ou mesmo uma forma de vida) que começou nos anos 80, era em que atingiu o seu apogeu e que nas últimas décadas, eu e milhões de outras pessoas substituíram pelo ioga e pilates. Contudo, vale a pena analisar a aula de aeróbica em toda a sua complexidade semiótica. Para mim, a experiência foi um flashback das minhas tentativas (falhadas) de me tornar um clone da Jane Fonda nos anos 80. Nessa altura eu frequentava o Keep Fit em Lisboa. A aeróbica fazia-me suar, não por causa dos pulos e passos de dança que parece que os participantes tomaram anfetaminas, mas devido a sentimentos de pânico puro. Pânico de ver mulheres em "maillots" que deixam pouco à imaginação, em cima de "collants" coloridas, com meias de lá sem pé e fitas na cabeça a controlar as volumosas cabeleiras com permanentes horrendas. Infelizmente também eu ostentava uma permanente mais discreta, mas preferia o preto às cores garridas que eram compulsivas na altura. E, trajando fato de treino ou calções e T-shirt tremia de medo das aulas de aeróbica.

A minha descoordenação crónica e a tendência para fazer abdominais e flexões à maneira militar e não feminina inspiraram sentimentos de frustação em muitas professoras ou instrutoras da modalidade. A verdade é que sempre fui incapaz de agitar os braços e as pernas alternadamente, e ainda virar a cabeça e bater palmas de modo sério. Por isso, a minha estratégia era esconder-me no fundo da sala ("estúdio" na terminologia em causa) e evitar os espelhos. Mas, o mulherio competitivo da aeróbica (no ioga também existe, de forma diferente) não perdoa e costumava suspirar e lançar-me olhares de fúria ou pena, por eu estragar o quadro. Como se estivessem a encenar para dançar com o Patrick Swayze no "Dirty Dancing".

Nada mudou na simbologia da aeróbica. Ainda há mulheres que se vestem à anos 80 (embora já não usem "maillots", graças a Deus), a música reflecte a época com tendência para o Phil Collins, Wham, o Flashdance e o Footloose e os filmes absurdos de pessoas irreverentes cujo crime principal é quererem dançar e contagiar multidões que saltam para as ruas, género "Fame". Nestes casos, ninguém fica muito indignado, a não ser os "maus" que são contra a dança.

A aula estava a abarrotar (quanto menos espaço para os pulos, melhor) e a música ultra-animada competia com os gritos da instrutora, loura, atlética com fato cor-de-rosa e maquilhagem a escorrer na face sorridente. O grupo dava passos para a frente e para trás e para os lados, de repente todos corriamos com os braços no ar, como se o mundo fosse acabar.

E quase acabou para mim. Claro, que não conseguia seguir nem a "coreografia" nem o ritmo.

Finalmente era altura de levantarmos pesos e fazer abdominais, enquanto a simpática instrutora berrava para nos motivar. "Livrem-se dos quilos do Natal", "este exercício é para os braços, querem ter asas de morcego?, "Mexam-me esses rabos". Ou seja nada mudou...só falta aparecer o Kevin Bacon, que não esqueçamos, no clássico "Footloose" vivia numa terreola em que a dança foi proíbida...Se calhar com razão.