Tuesday 29 September 2009

Serões da Província-Outono

De regresso à aldeia somos confrontados com uma carta em tom ríspido que nos informa que não estamos a cumprir as regras sobre o tamanho correcto para as sebes do jardim da frente e que as pessoas mal podem passar na rua, dada a luxuriante vegetação. Ainda mal aqui chegámos e já somos pessoas "non gratas" na terra. A verdade é que nem sequer sabiamos que eramos responsáveis pelas malditas sebes que me pareciam ao meu sentido estético citadino completamente verdejantes e regulares.
Descobri também que há interessantes actividades como o clube de badmington, de cricket, o grupo de jardinagem anunciadas num panfleto. Existe até um grupo de leitura muito exclusivo para o qual só se pode entrar por convite. Conheci dois membros desta quase sociedade secreta, ambos na casa dos 80 e vou ainda esta semana tentar imiscuir-me (adorava ser parte deste grupo geriátrico e ver quais as saus escolhas de leitura e análises literárias).
É óbvio que tenho que passar mais tempo na aldeia e sorrir aos meus vizinhos, em vez de pensar que estou em Londres e andar de óculos escuros e roupagens urbanas, criando enorme espanto neste cenário campestre. Não ajuda que esteja sempre a ir para Oxford na ânsia de me sentar em cafés e percorrer mercados e livrarias. Oxford tem edifícios magestosos e ruas com nomes fantásticos como a rua da Lógica. Parece que estamos na série "Reviver o passado em Brideshead" e há professores e alunos vestidos como nos anos 30, com ar distraído e livros e cadernos e isto para mim é o paraíso.
Entretanto a magnífica publicação da minha terreola informa-nos dos eventos previstos, como o jantar das colheitas, reuniões das comissões da aldeia sobre os controversos e ruidosos sinos da nossa igreja e uma lista dos vegetais premiados e respectivos produtores.
A minha missão principal agora para me tentar integrar na aldeia é encomendar uma caixa de legumes biológicos, que toda a gente carrega de um lado para outro. Produzidos numa quinta cercaneira, estes feiosos vegetais estão cobertos de terra e suculentas lagartas, mas recheados de nutrientes. Em Outubro a não perder é o festival da maça, de que vou enviar reportagem. Há anos escrevia sobre a turbulenta situação na Irlanda do Norte, agora sou para este modesto blogue, a correspondente das maçãs e outros temas de carácter hortícola e frutícola.

Friday 25 September 2009

Prémio Booker, Lista de finalistas

A S Byatt, The Children's Book
J M Coetzee, Summertime
Adam Foulds, The Quickening Maze
Hilary Mantel, Wolf Hall
Simon Mawer, The Glass Room
Sarah Waters, The Little Stranger

Friday 18 September 2009

Portugal: vinhaça, viola e bordoada


Acusaram-me, emigrante ausente de "não perceber Portugal". É verdade que estou fora do país há quase 15 anos, mas tive oportunidade neste verão quente de passar aqui uma boa temporada, principalmente na minha Lisboa natal, mas também na Costa alentejana, na zona de Óbidos e na sempre refrescante vila de Palmela, onde me recebem ano após ano no seio acolhedor da Pensão Riscadinha.
O Portugal socratiano está diferente, mas continua igual. Há curiosas personagens, situações e correntes de pensamento/comportamento que nada mudaram desde as observações de Eça de Queiroz que dizia que o país era governado ao acaso: a prevalência do compadrio, pomposos políticos, novos-ricos preocupados com a ascensão social e deslumbrados pelo estrangeiro, presunçosos confiantes de que galgam os corredores do poder, em suma, os Dâmasos Salcedes que povoam esta terra. Continuamos a ser o país da intrujice, dos chicos espertos, do nacional porreirismo, das cunhas, do desenrasca, da preguiça mental e moral, da burocracia kafkiana, características descritas e satirizadas por Miguel Esteves Cardoso há anos e mais recentemente por Ricardo Araújo Pereira.
Mas cresce o snobismo da direita por razões de classe e de dinheiro e da esquerda, no seu elitismo fácil datado e à deriva. Aumenta o nacionalismo xenófobo que glorifica Aljubarrota e que ainda não aceita segundas e terceiras gerações de portugueses com raízes africanas.
O pessimismo geral galopa com a crise económica e a retoma que tarda, o descontentamento com o governo actual, as eleições para escolher entre a "esquerda" possível, pragmática, mas gasta e a direita retrógada e conservadora. E nem já o futebol anima ninguém com os resultados medíocres da selecção nacional. O ambiente é de teoria da conspiração, com escutas e alegações de corrupção e de manipulação dos meios de comunicação. E a este panorama de mal-estar político, social, económico e moral junta-se o pânico da gripe com os seus efeitos avassaladores.
O que nos resta senão refugiarmo-nos nos vinhos, nos queijos e nos petiscos?
Como diria Eça "no fundo, nós somos todos fadistas: do que gostamos é de vinhaça e viola e bordoada".