Friday 7 May 2010

Impasse eleitoral e do poleiro não saio

Os britânicos foram às urnas ontem e ninguém ganhou, dizem os comentadores políticos e a comunicação social, embora estejamos ainda à espera dos últimos resultados. Na realidade, o Partido Conservador venceu sem maioria absoluta. Isso significa, neste estranho sistema, que o actual Primeiro-ministro, o Trabalhista Gordon Brown pode continuar no governo. Não foi eleito, tendo ascendido ao poder quando Tony Blair se demitiu e tendo evitado convocar eleições por não ter pressa nenhuma de legitimar o seu cargo, Brown não parece inclinado a aceitar a derrota e apresentar a demissão à Rainha, que por seu lado também não tem o poder para influenciar absolutamente nada. Isto é suposto ser o berço da democracia parlamentar e o exemplo máximo de como um país deve ser gerido. O problema é que os deputados andavam todos a meter dinheiro ao bolso num escândalo de corrupção grave, que o público está desiludido, que não existe aqui um Obama, um político com o carisma e a coragem para fazer frente ao "establishment" e toda a gente anda só preocupada com os mercados, esses abstractos seres que querem estabilidade, porque senão daqui a pouco não estamos na Madeira, mas estamos na Grécia. Os Liberais Democratas querem uma reforma eleitoral profunda para um sistema de representação proporcional, o que os faria aumentar o número de deputados. Na Grã-Bretanha vota-se em candidatos do círculo eleitoral e não no partido, ou seja, a terceira maior força política, o Partido Liberal Democrata e os "pequenos" saem sempre a perder.
O povo votou, mais de dois milhões preferem os conservadores, o que não é suficiente. O líder David Cameron tentou mudar a imagem dos "Tories", mas a memória é uma coisa interessante e muitos não esquecem os governos conservadores dos últimos anos e até séculos. Um partido, que foi contra a abolição da escravatura, a criação do serviço nacional de saúde, a estipulação do salário mínimo nacional. Estes avanços nas condições de vida das pessoas fazem parte das conquistas e do património ideológico dos trabalhistas e dos liberais. No entanto, com um líder como Brown, que representa tudo o que pior pode haver num político: falta de princípios, interesse exclusivo no poder, falta de respeito pelos colegas, adversários e população em geral e falta de lealdade deve haver muita gente que começa a achar que Tony Blair, não fosse aquele pequeno, gigantesco erro da guerra do Iraque, não era tão medíocre assim...