Sunday 15 August 2010

Serões da Província-Corridas de sapos

Um amigo nosso que veio ficar cá em casa ontem à noite e mora em Londres sugeriu que eu escrevesse um blogue sobre a minha aldeia. A verdade é que este blogue já existe e as crónicas "Serões da Província" devem ser actualizadas. Cá vai:


A aldeia continua completamente adormecida e imersa numa bruma já quase outonal. O tempo esteve razoável até meados de Julho, mas depois decidiu que estamos na Inglaterra e não convém termos ilusões mediterrânicas. Não há perigo disso, pois tem chovido quase todos os dias e à noite faz uma arajem fria. A grande novidade é que o padre foi promovido a bispo (anglicano) e vai para Bristol, levando com ele a mulher e crianças que vi na festa da aldeia. Este foi o acontecimento do ano, com pequenas tendas a vender doces de fruta e bolos, jogos e uma mostra de tractores que entusiasmaram muitos miúdos e graúdos. Foi o meu segundo evento na aldeia, após uma estranha noite numa "gala" de caridade para angariar fundos para a escola. Havia uma separação entre a "creme de la creme" da terra, com o vigário, os médicos, o "senhor feudal" do sítio e o povo. Algumas senhoras estavam de vestidos compridos, mau-grado o frio , a chuva e o facto de estarmos numa espécie de barracão a assitir a um rídiculo leilão de sapos de cartolina. Para cada corrida dos tais sapos, tinhamos que apostar num deles e depois puxar uns cordéis para ver que sapo ganhava. Foi uma das noites mais aborrecidas e insólitas da minha vida. O pessaol da aldeia estava entusiasmadissimo, até que a electricidade foi abaixo e tivemos que comer à luz das velas e tentar vislumbrar os sapos. Houve discursos e falou-se da coragem e do espírito de perseverança dos aldeões, na face da adversidade e tudo por uma boa causa, como se em vez de ter faltado a luz por causa duma tempestade, estivessem a ser bombordeados pelos Nazis.
Outra grande novidade, mas que não surpreende ninguém é a venda do pub, . Este estabelecimento demora várias horas a servir uma sanduiche, diversas vezes não tem água gaseificada, coca-cola ou bebidas que não sejam alcoólicas, até porque é gerido por um senhor embriagado e mal-encarado que não gosta de ter clientes e prefere beber a tarde inteira em silêncio com um homem com ar campónio e t-shirt a dizer Los Angeles que está sempre sentado ao pé do bar. Vai-se lá saber onde irá passar os dias quando o pub arranjar comprador.
Entretanto um grupo amador está a tentar montar uma peça de teatro e houve uma zaragatazita entre os organizadores de um concerto de música clássica na igreja e um comité para debater obras a fazer na paróquia porque as datas dos eventos coincidiam. É assim a vida de uma aldeia movimentada. Em Setembro vai haver um concurso de vegetais que vão competir em termos de tamanho e aparência geral. Infelizmente não vou cá estar...