O livro "The Help" de Kathryn Stockett foi uma surpresa agradável para mim, recomendo-o já e garanto que é difícil de parar de ler, mal se entra na história. Em português entitula-se "As serviçais" e não faço ideia se a tradução é decente. É praticamente impossível de traduzir uma linguagem que é por vezes é um dialecto, muito idiomática e enraízada numa cultura e numa altura diferentes, mas mais do que a escrita, fascinou-me o enredo, a riqueza interior das personagens e os temas complexos em que toca.
Passado na cidade de Jackson no Mississipi nos anos 60, "The Help" relata a vida das criadas negras que tratam das crianças das famílias ricas, a segregação, o racismo da sociedade em que vivem, à beira de mudanças profundas. A trama centra-se em duas empregadas negras e uma rapariga branca, que quer ser escritora e decide contar as histórias dessas mulheres e a coragem delas ao desafiarem as leis que estipulavam a separação e a subordinação dos negros e as normas e convenções sociais da época.
Primeiro, ao ver a fotografia da autora, branca, loura e nova na contracapa e ao começar a ler capítulos na "voz" de Abileen, uma das criadas negras, tive sérias dúvidas sobre este livro e tive que ultrapassar uma certa irritação inicial. No entranto, a ficção é isso mesmo, essa capacidade de empatia, de extrapolar, de "fingir" com autencidade. A autencidade existe aqui, mesmo se activistas radicais acusaram Stockett de ser racista por ter ousado exprimir o que sentem personagens negras. Será que não é essa atitude que perpetua a segregação, também cultural de que só os negros podem escrever sobre negros e há barreiras que são intransponíveis?
O livro domina as listas de "bestsellers" do New York Times, teve em geral mais críticas positivas que negativas e é o primeiro romance de Stockett, que foi rejeitada por 50 agentes literários, antes de alguém ter visto o potencial deste livro: tem coisas importantes a dizer, apela às mulheres, sejam de que cor forem, confronta um tema que merece ser tratado e coloca questões e gera diálogo e controvérsia. Há muito tempo que não lia um livro tão completo, intrigante, emocionante e bem conseguido.