Thursday 24 March 2011

Serões da província-Vinhos no campo

Quando mudei de Londres para o campo houve uma coisa que notei de imediato: não foi o ar puro, nem a simpatia das terras pequenas, nem sequer o ritmo lento da vida bucólica, mas sim a qualidade execrável dos vinhos nos "pubs". Ora, na última década com a revolução gastronómica que ocorreu aqui no Reino, os vinhos servidos em "pubs" e restaurantes em Londres e nas outras grandes cidades melhoraram muito. Encontram-se listas razoáveis por região do mundo e o interesse por vinhos cresceu tanto que há pessoas que chamam às filhas Chardonnay, um dos piores exemplos de mau gosto, mas isso é outro tema.
Agora no campo, não há perigo de ninguém chamar Pinot Grigio às crianças. As listas de vinho, quando existem oferecem no máximo, três possibilidades. Num dos "pubs" da minha aldeia, o dono explicou que " não existe procura de vinhos bons" para justificar os vinhos disponsíveis que basicamente se podem descrever como: zurrapa tinta e zurrapa branca. Quando a minha irmã me visitou e fomos ao "pub", convenceu-me que eu não podia beber o vinagre que me serviram a fazer as vezes de vinho branco e decidiu discretamente dá-lo a beber às plantas da nossa mesa, enquanto eu temia que alguém nos apanhasse em tal delito e eu, a estrangeira fosse "persona non grata", com manias de vinhos e preciosismos afrancesados. A maioria das pessoas não provam os vinhos nos restaurantes e com grande embaraço pedem que lhes sirvam, seja o que fôr, tudo para não se queixarem e causarem consternação ao empregado. Acredito que o britânico típico prefere comer ou beber algo estragado do que ter que mandar coisas para trás e causar confusão. Ao contrário dos portugueses. Há "pubs", cujos empregados ficaram espantados quando eu perguntei se tinha champanhe na noite de fim do ano. Há pouco tempo pedi um vinho branco sauvignon blanc (o único) num "pub" na aldeia vizinha. Como o posso descrever? avinagrado no paladar, com notas de urina (aliás a cor era de urina escura, daquela que denota sérios problemas nos rins). Será que bebi...sim, claro, não me podia queixar...com água gasosa. Ainda me perguntam os meus familiares e amigos porque misturo eu vinho branco com água das pedras. Para diluir a urina. Por isso, estou a organizar uma prova de vinhos, no sentido de educar os gostos enológicos no campo inglês. A enóloga que vai fazer a prova já me disse que espera que os participantes bebam até à última gota cada vinho e não cuspam nada fora, o que também é a minha experiência em provas com ingleses. Como diz o Jamie Oliver (nunca pensei que o fosse citar tanto), a única maneira de fazer com que os super-mercados deixem de vender peixe mau é as pessoas exigirem peixe fresco. O mesmo se pode dizer dos vinhos. Vamos fazer uma revolução vinícola no campo e difundir a mensagem de que tem que haver escolha para os que não gostam de cerveja. Abaixo a urina!