Wednesday 24 December 2008

Oda a la Edad, Pablo Neruda

Yo no creo en la edad.
Todos los viejos llevanen los ojos un niño,
y los niños a veces nos observan como ancianos profundos.
Mediremos la vida por metros o kilómetros o meses?
Tanto desde que naces?
Cuanto debes andar hasta que como todos en vez de caminarla por encima descansemos, debajo de la tierra?
Al hombre, a la mujer que consumaron acciones, bondad, fuerza, cólera, amor, ternura, a los que verdaderamente vivos florecieron y en su naturaleza maduraron, no acerquemos nosotros la medida del tiempo que tal vezes otra cosa, un manto mineral, un ave planetaria, una flor, otra cosa tal vez, pero no una medida.
Tiempo, metalo pájaro, flor de largo pecíolo, extiéndete a lo largo de los hombres,
florécelos y lávalos con agua abierta o con sol escondido.
Te proclamo camino y no mortaja,
escala pura con peldaños de aire, traje sinceramente renovado por longitudinales primaveras.
Ahora, tiempo, te enrollo, te deposito en mi caja silvestre y me voy a pescar con tu hilo largolos peces de la aurora!

Monday 22 December 2008

"The Reluctant Fundamentalist", Mohsin Hamid

Esta obra, na lista curta de nomeados para o Man Booker Prize de 2007 conta a história de Changez, um jovem paquistanês idealista que após ter estudado na universidade de Princenton é recrutado por uma firma de Wall Street, iniciando uma carreira que se antevê brilhante. Sucessos académicos e profissionais e uma adaptação rápida a Nova Iorque, uma cidade em que se sente em casa, fazem com que os colegas e amigos o considerem integrado em Manhattan, apesar de ser sempre visto como algo "exótico".
O protagonista apaixona-se por Erica, com quem tenta desenvolver uma relação. Contudo, o estado mental instável de Erica e os ataques de 11 de Setembro levam Changez a questionar o modelo de supremacia americano, o seu trabalho e a tornar-se crítico face ao que vê como a arrogância dos Estados Unidos. A primeira coisa que faz é deixar crescer a barba, uma provocação que altera o modo como as pessoas o vêem, o que por sua vez gera em Changez sentimentos de paranóia e ressentimento.
A história é contada em forma de monólogo a um americano que o protagonista conhece num café de Lahore, após o seu regresso ao Paquistão e aos valores religiosos e culturais do seu país. A rejeição dos Estados Unidos e da sociedade ocidental (talvez fruto da frustração face ao amor não correspondido) vai se intensificando. O americano poderá ser um agente secreto ou homem de negócios e as intenções de Changez durante a narrativa são também duvidosas, já que o seu discurso mostra claros sinais de radicalização islâmica.
A escrita fluída e dúbia de Hamid, a descrição da crise de identidade cultural que a personagem atravessa e a tensão criada tanto no momento presente no café como no passado que leva à possível escolha do terrorismo como opção contra a injustiça tornam este livro uma leitura às vezes chocante, mas cativante e humana. Não se trata de uma obra de ficção sobre o 11 de Setembro, mas sobre a capacidade transformadora do 11 de Setembro.

Tuesday 25 November 2008

O Inverno em Londres, Eça de Queirós, Cartas de Inglaterra

"E, todavia, Deus sabe que ele não é agradável, esse Inverno de Londres! De manhã, ao acordar, tem-se diante da janela uma sonora opaca, espessa, parda, arrepiadora e sinistra: é necessário fazer a barba com o gás flamejando; almoça-se com todas as velas do candelabro acesas, e a carruagem que me conduz é precedida de um archote. Ao meio-dia esta decoração de inferno muda; a sombra perde o tom pardo e, por gradações odiosas, ganha um amarelo de oca e começa a exalar um vapor fétido. Respira-se mal, a roupa toma um pegajoso húmido sobre a pele, os edifícios que nos cercam aparecem com as linhas vagas e quiméricas das cidades malditas do Apocalipse e o estrondo de Londres, este rude, tremendo estrépito, que deve há em cima incomodar a corte do céu, adquire uma tonalidade surda e roncante como um fragor num subterrâneo.
Depois, à noite, outra mudança: toda esta sombra, este nevoeiro grosso, mole gorduroso, desfaz-se em chuva... Em chuva, digo eu? Em lama em lama mal líquida, que escorre, pinga! Vem babada de um céu negro.
O gás parece cor de sangue; como todo o mundo, para combater esta névoa gelante e mortal, bebe forte e bebe seguido, há nas ruas um vago vapor a álcool, que passa os hálitos: isto excita, irrita, impele a turba ao vício. O ruído intolerável das ruas, a pressa da multidão violenta, o rude flamejar das vitrinas dão uma aceleração brutal ao sangue, uma vibração quase dolorosa aos nervos; pensa-se com intensidade, caminha-se com ímpeto, deseja-se com furor; a besta humana inflama-se: quer-se alguma coisa de forte e de animal, a luta, o excesso, a gula, o abrasado do conhaque, a paixão. Londres numa noite de Inverno, exala violência e crime. E pode-se afirmar que em cada uma das tipóias que, aos milhares e aos milhares, passam como flechas, com relampejar rubro de lanternas, vai um cidadão ou uma cidadã cometendo ou preparando-se para cometer, com excepção da preguiça, um dos sete pecados mortais."

Monday 10 November 2008

PESTO!


Pesto Muito Simples
1 chávena pequena de azeite
1 ramo de mangericão ou uma combinação interessante a experimentar é hortelã com coentros, mas pode-se usar salsa ou rúcola.
100 gr de pinhões
1 dente de alho
50 gr de paramesão ralado
Passa-se com a varinha mágica e saboreia-se com massa, esparguete, gnochi...

Thursday 6 November 2008

Livros com títulos implausíveis

"How to Avoid Huge Ships: And Other Implausibly Titled Books" (Joel Rickett) debruça-se sobe livros com títulos absurdos. Em 2008 assinala-se os 30 anos da fundação do prémio "Diagram" para celebrar extravâncias de editores e premiar o livro publicado com o título mais estranho.
Alguns destes compilados por Rickett são intrigantes, outros alarmantes, outros completamente loucos.

Eis alguns dos meus favoritos
"Bombproof Your Horse",
"How to Avoid Huge Ships"
"Do-It-Yourself Brain Surgery"
"Second International Workshop on Nude Mice"
"Secrets Your Snake Wants You to Know"
"Hot Topics in Urology"
"The Joy of Chickens"
"The Book of Marmalade: Its Antecedents, Its History and Its Role in the World Today"
"Highlights in the History of Concrete"
"Greek Rural Postmen and Their Cancellation Numbers"

Wednesday 5 November 2008

CHANGE



Até ontem não acreditava que Barrack Obama conseguisesse ganhar as eleições, mesmo com todas as sondagens a dar-lhe a vitória. Pensei que fosse haver fraude (que não acontece só no Zimbabué) ou que o chamado “efeito de Bradley” distorcesse os resultados (assim denominado por causa do candidato afro-americano Tom Bradley, que perdeu a corrida a governador da Califórnia em 1982, apesar das sondagens o darem como vencedor, quer isto dizer que as pessoas mentem nas sondagens de opinião, para não parecerem racistas ou retrógadas)
O ambiente é de júbilo total, após 8 anos do governo incompetente, destrutivo, divisivo e absurdo de George W Bush. Pouco importa que a Barrack Obama falte experiência. Com a inteligência e capacidade de empatia que possui, aprende depressa. Do ponto de vista simbólico estas eleições são “históricas”, e olhem que me irrita esta palavra, gasta pelos meios de comunicação social e aplicada a tudo, desde a jogos de futebol, a qualquer tratado, cimeira ou discurso político.
Os anti-americanos radicais que odeiam ou invejam os Estados Unidos devem agora questionar os seus próprios preconceitos. País de contrastes, continuo a manter que os Estados Unidos produzem o melhor e o pior nos mais diversos campos. A constante reinvenção e auto-mitologização nacional é uma característica que gera críticas e principalmente incompreensão. Porque é que o 11de Setembro se tornou o 11 de Setembro? Não só porque é um dos eventos mais marcantes deste jovem século, mas pela dissecação que os americanos fizeram dos factos a níveis diferentes, culturais, sociais, psicológicos e políticos. Os eventos ali são confrontados, ruminados, transformados em filmes, livros, debatidos até à exaustão. Quantos anos se demora a digerir conflitos ou inconsistências ideológicas na velha Europa? Será que o passado fascista está “arrumado” nas mentes colectivas? Duvido muito, mas uma coisa é certa, Bush que já está nos écrans de cinema pela mão do realizador Oliver Stone, já foi analisado e devidamente colocado no caixote do lixo da história. A única coisa que conta agora é a esperança, a mudança e andar para a frente nos Estados Unidos liderados por Obama. O mundo suspira de alívio e enche-se de optimismo.

Wednesday 29 October 2008

O top 10 dos meus erros máximos em termos de moda

  1. Permanente nos anos 80: Mas quem não a teve que atire a primeira pedra
  2. Cabelo curto com popa espetada e com gel no fim dos anos 80
  3. Mini saia aos trinta e tal anos sem ter pernas para isso: Convencida que era agora ou nunca, decidi tentar esta modalidade com resultados trágicos
  4. Kispo de penas sem mangas
  5. Nunca ter usado bikini quando podia
  6. Calças de ganga rasgadas no início dos anos 90: Supostamente rebeldes, estes “jeans” deslavados e apertados são das peças mais horrendas que pode haver, lembrando bandas de rock tipo Bon Jovi
  7. Vestido de ganga tipo jardineiras nos anos 90, aliás jardineiras em geral injustificáveis em pessoas com idade superior a 7 anos
  8. Blusão a imitar cabedal preto e outras falsidades ignóbeis
  9. Vestido turco para ir para a praia (em minha defesa foi nos anos 70 e eu não tinha voto na matéria, já que este me era imposto pela avó que usava toucas ou turbantes turcos)
  10. Sandálias de plástico, também para a praia coloridas, com teor altamente prático, pois evitavama picada do peixe aranha, mas mesmo assim...

Wednesday 15 October 2008

"A mania das roupas"-parte 1

Durante muitas anos tentei suprimir uma grande paixão minha, considerada superficial e absurda: a moda e roupas, roupagens, acessórios, sapatos, enfeites. Este interesse e amor começou muito cedo, mas a minha primeira memória deste romance remonta à primeira ou segunda classe. Na altura do 25 de Abril, na escola Voz do Operário gostar de roupas era visto como uma ostentação quase fascista. Mas eu desenvolvi um desejo secreto de ter umas botas bicudas de camurça com um salto, nem sequer muito alto, que vi numa colega. Não me lembro do nome da rapariga, mas recordo-me de sermos diferentes, pelo simples facto de rejeitarmos a estética hippy e a moda étnica dos anos 70. Ambos idolatravamos a Olivia Newton Jones e cantarolavamos as músicas do filme “Grease”. Em casa achavam-me uma “pirosinha” e gozavam com a minha tendência para as “botas para matar baratas ao canto da sala”. Já na minha tenra infância costumava experimentar várias “toilettes” e infelizmente deixar roupas espalhadas por todo o lado. A prática de mudar de roupa de manhã, tarde e noite era-me natural, como se vez de ser uma criança no Areeiro e depois nas Avenidas Novas em Lisboa, fosse uma senhora aristocrática nos anos 30 que se veste para escrever cartas de manhã, muda de roupa para o almoço e mais tarde para o jantar. Todos os anos, na Primavera e no Outono, a minha avó Adelaide levava-nos às compras à Baixa ou à Avenida de Roma e Guerra Junqueiro. Mas a avó não era pessoa para nos deixar escolher as roupas que queriamos, tinha sempre que haver uma complexa negociação entre o nosso própio gosto, o dela e considerações práticas sobre se precisavamos ou não daquela peça e se a avó a achava decente para a nossa idade. Em pequenas, a avó vestia-nos de igual e cortava-nos o cabelo à tijela, o que ainda hoje me deixou com uma relação muito difícil com o conceito de franja. Outro problema que surgiu na década da nossa meninice em qualquer circunstância era o frio glaciar. Reconheço que sofremos hoje com o aquecimento do planeta, mas seria o clima assim tão frio no Portugal pós-revolucionário que justificasse os gorros, alguns a só deixar de fora os olhos, os ponchos, as collants de lã (que escorregavam) e vestidos de fazenda? Mesmo as flanelas que apareciam por todo lado, como lençóis, camisas, pijamas, tudo era um vasto campo de flanela. Esses tecidos arranhavam e faziam suar, estão a ouvir?
Passados os rigores invernais dos anos 70, entrei nos anos 80, com um sentido de estilo esquizofrénico. Por um lado queria vestir-me como nos telediscos, ser “pop” copiar a Sade Adu (nunca a Madonna) por outro, influenciada pela avó Adelaide e pelo nosso liceu ultra-conservador vestia saias compridas de xadrez, colarinhos com enormes golas que se aplicavam aos pullovers, colares de pérolas e bandelettes de veludo, como se tivesse 55 e não 15 anos! Assim posso dividir os "meus anos 80" em três fases:
Jovem com permanente no cabelo, roupas assimétricas e coloridas e bijuteria de plástico. Um Verão eu e a Ana Marta decidimos que todas as nossa roupas tinham que ser verde alface e laranjas (as cores da moda) e então tinjimo-las. Climax: Andar de skate com calças amarelas, ténis vermelhos e t-shirt do Snoopy.
A segunda fase foi a beta com os kispos alcochoados, os axadezados, os rendilhados. Climax: Colete kispo sem mangas com saia de pregas, sapatos mocassins e laço no cabelo.
A última fase é gótica-vintage-andrógina, o que significou uma adesão total ao preto, à maquilhagem carregada (cara branca com lábios vermelhos), resgate de roupas da avó e até do meu bisavó Zé (coletes e calças gigantes, camisas e gravatas, que me ficavam a nadar, dada a barriguita proeminente do senhor).

Friday 12 September 2008

Booker Prize 2008

Foi anunciada a lista final dos nomeados para o prestioso prémio literário Man Booker, que celebra obras de ficção em língua inglesa de um autor ou autora da Commonweath ou da República da Irlanda. Este ano, a grande controvérsia é que autores famosos como Salman Rushdie nem sequer fazem parte da lista

Aravind Adiga, The White Tiger
Sebastian Barry, The Secret Scripture
Amitav Ghosh, Sea of Poppies
Linda Grant, The Clothes on Their Backs
Philip Hensher The Northern Clemency
Steve Toltz A Fraction of the Whole

O júri decidirá quem é o vencedor em Outubro.

Thursday 11 September 2008

Vistas curtas

"Deriding Palin's modest background and lack of Ivy League credentials will only turn voters off. We should celebrate what is groundbreaking about Sarah Palin: a card-carrying member of Feminists for Life is a big step forward from Housewives for Life. And then we should talk about the issues.", escreveu a jornalista da revista Vogue, Rebecca Johnson no Daily Telegraph. Neste artigo, ela defende que não se deve criticar a candidata republicana a vice-presidente, Sarah Palin pelas suas origens humildes e o facto de não ter andado numa universidade com prestígio, o que serve apenas para alienar os eleitores. Recorde-se que Barrack Obama, de raça mista, criado pelos avós e pela mãe no Havaí não vem de um meio social elevado, mas estudou e entrou para Harvard, assim como a mulher Michelle entrou para Princenton (as tais universidades "Ivy League", de prestígio que assustam o povinho).
Ao que parece os eleitores gostam de candidatos populistas, pouco instruídos, "terra a terra" mas altamente conservadores e patrióticos com valores tacanhos e provincianos. O discurso de Palin na convenção Republicana, em que até citou um célebre autor anti-semita centrou-se muito na ideia dos valores provincianos, de vilas e cidades pequenas, em que toda a gente se conhece, como se estas terreolas conferissem uma superioridade moral. O que está aqui por trás é o medo do "outro" do que é diferente, do estrangeiro. Não admira que a senhora raramente tenha visitado outros países, não fosse deixar-se influenciar por ideias estranhas.
Segundo Rebecca Johnson devemos celebrar o que é "inovador" na candidatura de Palin e um grande passo para a emancipação das mulheres: Uma "feminista pró-vida, contra o aborto é melhor do que uma dona de casa com os mesmos princípios". Sarah Palin é membro da organização "Feministas Pró-Vida", mas isso não faz dela uma verdadeira feminista
Uma mulher que não permite às mulheres a escolha de abortar mesmo em casos de violação ou incesto, que é contra a educação sexual nas escolas, que não é a favor da saúde pública universal,
que apoia o criaccionismo e doutrinas que contribuem para a repressão e submissão das mulheres, que tentou proíbir a existências de determinados livros na biblioteca da cidade onde era presidente da Câmara, que acredita apenas numa estrutura familiar tradicional não é feminista. A escolha de Palin para o cargo é um passo atrás em 30 anos de conquistas e algumas perdas para retirar as mulheres da posição subalterna e ingrata que têm ocupado.

Friday 5 September 2008

Salve-se quem puder



Até à semana passada, as eleições norte-americans pareciam uma simples escolha entre um candidato Democrata, liberal, carismático, “histórico” (Barrack Obama) e o seu rival Republicano, conservador-moderado, imprevisível, experiente, veterano de guerra (John McCain). Mau-grado, as inclinações políticas ou simpatias de cada um, havia apenas uma certeza: qualquer um dos dois seria um avanço em relação a George W. Bush e oito anos de incompetência, políticas desastrosas, “gaffes” absurdas que eram divertidas, mas infelizmente tinham um lado muito sério e consequências graves para muita gente nos Estados Unidos e no resto do mundo. Mas isto foi até o candidato republicano, John McCain ter escolhido Sarah Palin para a vice-presidência. Esta decisão inesperada, um golpe de génio ou um erro fatal, ainda é cedo para determinar, galvanizou a direita norte-americana, milhões em fundos foram angariados pela campanha de McCain, os comentadores ultra-conservadores sentem agora que podem votar pelo seu partido com a consciência tranquila.
O que dizer da governadora do Alasca, Sarah Palin? Que é uma ofensa e um insulto compara-la a Hillary Clinton e sugerir que os 18 milhões de pessoas que votaram em Hillary nas Primárias vão passar a apoiar Palin, que tem uma ideologia, um estilo e uma carreira diametralmente opostos.
O facto de Palin ser uma mulher de 44 anos, não deve ser visto como uma indicação do carácter progressista de McCain, muito pelo contrário já que reflecte uma escolha de uma pessoa sem experiência, fotogénica e atraente com uma retórica tradicionalista e com ideais e práticas anti-feministas. Uma gigantesca distracção dos assuntos que deveriam dominar a campanha é o que promete esta ex-miss, pró-armas de fogo, anti-aborto (mesmo em casos de incesto ou violação), céptica em relação ao aquecimento global, a favor do aumento da extracção petrolífera e do capitalismo puro e duro.
Nem os ursos polares escapam, já que Sarah gosta de caçar e adora comer alce e matar lobos. Em Agosto de 2008 processou o governo americano por ter colocado os pobres ursos polares na lista de espécies ameaçadas.
Ah, e outro factor importante. Por muito gira que a senhora seja considerada, aquele penteado é dos anos 80, fora de moda, assim como as suas crenças deveriam ser. Infelizmente o fundamentalismo religioso, o criacionismo e a intolerância parecem estar a ganhar terreno.

Factos perturbadores sobre Sarah Palin:
http://www.alternet.org/election08/97198/?page=entire
Artigo interessante sobre o anti-feminismo desta escolha

Thursday 28 August 2008

Conselhos da Carol Shields, escritora, 1935-2003

Go for long walks,
indulge in hot baths,
question your assumptions,
be kind to yourself,
live for the moment,
loosen up,
scream,
curse the world,
count your blessings,
just let go
just be.

Wednesday 27 August 2008

Receber o Inverno de braços abertos



A poucos dias do fim do mês esperam-se estatísticas a confirmar que Agosto foi o mês mais frio, ventoso e chuvoso dos últimos anos aqui em Inglaterra. O mesmo sucedeu no ano passado e agora culpa-se La Niña, um fenómeno atmosférico responsável pelo frio estival.

Após meses de antecipação, mais uma vez os britânicos estão a sofrer de depressão climatérica, uma baixa pressão composta de nuvens, chuviscos ou aguaçeiros que nos pairam sobre as cabeças. Como é que podemos absorver vitamina D, usar sandálias, comer gelados nestas circunstâncias infelizes? As minhas regras impedem-me de usar meias, casacos e gabardines em Agosto devido a uma ilusão impressa na minha mente portuguesa de que este mês significa calor, praia e férias. Mas o miserabilismo inglês persiste, com almas irritadas e mal-encaradas, vestidas com trajes invernosos, as lojas repletas de casacos de inverno e calças de fazenda, os meteorologistas animados quando as temperaturas sobem acima dos 16 ou 17 graus e quando não ocorrem monções.

A minha solução é repetir a receita que encontrei no ano passado para reagir a esta crise meteorológica: aceitar que é Outono ou mesmo Inverno. Este processo cognitivo pode ser feito a partir do início de Setembro e implica o seguinte:


  • Vestir-se para enfrentar o frio que está e não o calor fictício

  • Acender a lareira

  • Comer abóboras e legumes no forno e "crumbles" quentes e reconfortantes

  • Dar passeios em parques e começar a ver as folhas outonais como um sinal de entrada numa estação mais adequada a este país

  • Esquecer que a praia alguma vez existiu

Thursday 21 August 2008

Aulas de feminismo?












Num mundo em que os ícones e os modelos de comportamento são a Paris Hilton e a Britney Spears, não é de estranhar que uma socióloga, Jessica Ringrose, especialista em estudos do género de uam Universidade Londrina venha sugerir que o feminismo deva ser ensinado como matéria nas escolas.
O feminismo como movimento, como ideologia, como inspiração nunca teve pior fama e é visto como algo irrelevante ou até perigoso e radical. A emancipação das mulheres foi reinterpretada de uma maneira perversa em que ser “sexy”, audaz sexualmente e ingressar na lógica degradante da pornografia é considerado "ser feminista". As constantes mensagens sexuais da cultura actual convencem muitas adolescentes que estes comportamentos são normais e que o "Sexo e a Cidade" é uma série feminista. Não é. Não há problema nenhum em gostar de sapatos, roupas e cosmopolitans, mas há em acreditar que o casamento é o destino final da mesma viagem porque passou a solteirona Bidget Jones e que implica comportar-se de um modo predatório e "masculino".
Segundo Ringrose, as raparigas definem-se cada vez mais pelo corpo, pela aparência fisíca e daí a obsessão com a magreza, com a maquilhagem, com as extensões capilares, com tudo o que é falso e falsificado que culmina na prática extrema da alteração da imagem, que é a cirurgia plástica. O aumento dos seios é agora uma aspiração, como costumava ser entrar na universidade. Acima de tudo estas jovens acreditam que são livres e que estão a fazer escolhas pensadas, quando na realidade trata-se apenas de agradar aos homens e integrar-se num sistema social ultra-misógino que favorece mulheres-bonecas tipo “Barbie”.
A verdade é que enquanto nos anos 70, muitas mulheres e homens, frescos da revolução sexual se insurgiam contra o machismo, no século XXI, o facto de que o que Joan Smith (autora de Misogynies, 1989) chama a "misogenia casual" é prevalente.
A escritora defendeu num artigo no jornal “Times” que não vale a pena ensinar o que é o feminismo às raparigas e deixar os rapazes de fora e que o discurso tem que ser adequado à sociedade actual. A linguagem do feminismo deve ser a linguagem dos direitos humanos, deve ser uma lição de história combinada com informação sobre o que se passa na indústria do sexo, no tráfico de mulheres, nos maus-tratos, na degradação causada pela prostituição (e pelo "strip-tease e "pole-dancing"), na desigualdade de salários, na não-representação das mulheres nas esferas do poder e dos negócios.

Wednesday 6 August 2008

Listas

A internet está repleta de listas, conselhos e tabelas tipo top-10 e este blogue também tem tendência para essa prática da "listologia", o estudo das possibilidades expansivas da auto-organização, da cognição e memória, decorrentes do uso de listas.
Assim, o sítio Listology traz-nos os 1001 livros que devemos ler antes de morrer. A escritora espanhola, Rosa Montero concluiu que se "escreve contra a morte." E lemos contra a morte, numa corrida para ler o máximo que a vida nos permita (por isso é raro ler o mesmo livro mais do que uma vez...a vida é demasiado curta)

http://www.listology.com/content_show.cfm/content_id.22845/Books

Thursday 24 July 2008

A obsessão com a propriedade






Basta pegar num livro da Jane Austen para nos apercebermos imediatamente do pragamatismo e da obsessão britânica em torno da propriedade e dos rendimentos anuais dos potenciais maridos das heroinas destes divertidos e sagazes romances.
A angústia em torno da compra, aluguer, negócios, especulação imobiliária tem-se intensificado com um mercado pouco regulado e em que os preços aumentam de ano para ano, até a actual crise ter abanado os alicerces da nação.
Durante uma década de lucros no sector imobiliário que enriqueceram muitas almas da classe média, as festas e jantares pelo Reino fora são passados a debater os preços das casas, as taxas de juro, os vários planos para rentabilizar patrimónios imobiliários.

Os canais de televisão estão repletos de programas sobre casais à procura da sua "casa de sonho", como fazer obras para aumentar o valor dos apartamentos ou moradias ou possíveis investimentos em casas compradas para alugar. Normalmente os apresentadores, que se tornam celebridades no circuito da "reality TV" tratam os participantes como tontos e aconselham-nos a endividarem-se para adquirirem propriedades que na verdade não têm dinheiro para comprar.

Por causa dos preços excessivos, a maioria das pessoas não consegue comprar casa até ter 30 e tal anos, aspirando a conseguir entrar na chamada "property ladder", as escadinhas em que se compra a primeira casa, para vender, para re-hipotecar, para usar o dinheiro que se fez para comprar uma casa maior e mais cara, isto de dois em dois anos. Cansativo, não?
Apesar das raízes centenárias desta obsessão, a realidade ditava que até à II Guerra Mundial, só 10% da população era dona da casa onde vivia. A nível social, arrendar não era visto como a quase vergonha social que é hoje, em que existe um estigma.


No fim dos anos 40 e nos anos 50, o esforço de reconstrução resultou em casas novas mais acessíveis à classe média e foi então que a compra da propriedade imobiliária se tornou num objectivo de ascensão social, uma bitola pela qual se avalia o sucesso dos indivíduos.


Foi com Margaret Thatcher nos anos 80 e a politica do "direito à compra de casa" para inquilinos de casas pertencentes às autoridades locais que esta tendência se solidificou, juntamente com medidas posteriores de benefícios fiscais para proprietários.


Cerca de 70% dos ocupantes de casas no Reino Unido são senhorios. Muitas dos apartamentos que estão a ser construídos são concebidos como investimentos para o mercado da compra para arrendamento, ou seja não são pensados para famílias e como locais para viver. Só que uma casa é muito mais do que um tecto e quatro paredes.

Numa sociedade consumista, endividada que promove a ideia de que toda a gente pode ser milionária com esquemas e planos para enriquecer rapidamente não é de estranhar que um dos casos mais absurdos e chocantes tenha ido esta semana a julgamento em Inglaterra.

John e Anne Darwin de 57 e 56 anos que investiram em vários apartamentos, ficaram sobrecarregados de dívidas e então decidiram simular a morte dele numa acidente de canoagem (o absurdo de toda esta história é tal que não poderia ter sido ficcionada). John Darwin viveu escondido durante cinco anos, enquanto a mulher fazia o papel de viúva inconsolável, inclusive perante os dois filhos adultos do casal que pensavam que o pai tinha morrido. Anne conseguiu centenas de milhares de libras em apólices de seguros e fundos de reforma. O objectivo do casal Darwin era mudar-se para o Panamá (mais um detalhe absurdo) e montar um centro de férias ecológico de canoagem. Infelizmente o plano que saiu daquelas cabeças brilhantes tinha várias falhas e como criminosos amadores que eram, John e Anne fizeram diversos erros. Ele tinha se entregado à polícia fingindo que estava a sofrer de amnésia (ao estilo de Matt Damon em Bourne Identity) para poder usufruír das riquezas que a morte simulada lhe tinha trazido.

A sentença do casal Darwin foi seis anos de prisão por fraude e lavagem de dinheiro. Além dos investimentos imobiliários, um dos planos deste Bonnie e Clyde de meia-tijela era fundar um negócio de criação de caracóis...

Wednesday 9 July 2008

Acerca dos efeitos terapêuticos dos doces e compotas

Mais um verão chuvoso em Londres e as amoras do jardim crescem como se tivessem bebido um líquido mágico, atrofiando tudo o que se atravesse no seu caminho. A nossa melhor colheita deste ano (no ano passado tivemos uma produção absurda de courgettes gigantes, que pareciam abóboras verdes) é ideal para fazer doces, uma nova actividade que recomendo pelas suas indicações terapêuticas.
As compotas (com mel em vez de acuçar) já tinha feito com bons resultados e lá voltarei com uma nova receita inventada e óptima para adoçar cereais de pequeno almoço e iogurtes.
Este doce the amoras é muito fácil e envolve apenas o seguinte:

Ingredientes:

1 quilo de amoras
1 quilo de acuçar

Método:

Primeiro esterilizam-se os frascos (fervidos ou postos em forno frio durante 20 minutos. Não se esqueçam das tampas). Eu usei frascos de azeitonas, mayonnaise e outros muito bem lavados e com as etiquetas tiradas).
Numa panela põem-se as amoras e vai se deitando o acuçar, mexendo bem. Quando o caldo começa a ferver, deve-se ir tirando a “espuma” que fica por cima. O doce coze em 20 minutos em lume brando e depois aumenta-se o calor durante 5 ou 10 minutos no fim, para nos livramos de impurezas e da tal espuma. Cola-se nos frascos secos e num armário fechado. Quando abertos, devem ser conservados no frigorífico.

Não há nada como scones caseiros com natas e doce de amora, uma tradição estival inglesa, enquanto se bebe chá ou champanhe e se assiste ao campeonato de ténis de Wimbledon.

Tuesday 1 July 2008

O centro ou o abismo para quem quer ser um reformador?




Como nunca fui apoiante incondicional de Obama não me supreende nem me desilude por aí além que ele tenha mudado de ideias numa série de políticas, na ânsia sôfrega de captar votos e mostrar-se um candidato mais moderado e do "centro". É isso que faz a maioria dos políticos. O problema é que Obama é supostamente diferente e um reformador, capaz de galvanizar o povo e inspirar a nova geração.

Quando ninguém sabia quem ele era, o senador de Illinois defendeu que as campanhas partidárias deviam ser financiadas pelos cofres públicos e que deviam ser estabelecidos limites claros ao angariamento de fundos. Agora, como candidato do Partido Democrata e o político que mais dinheiro conseguiu arrecadar na história das campanhas políticas norte-americanas, Obama decidiu que as contribuições privadas e sem limites fixos são perfeitamente aceitáveis.

Mais grave é o facto de Barack Obama ter voltado atrás em posições como o controlo das armas de fogo e a oposição à pena de morte, assuntos que mostravam as suas credenciais progressistas. A questão é que a direita conservadora nunca vai votar nele e os milhões que o idoltram pelo que ele representa (ou a ideia abstracta do que acreditam que ele simboliza) o seu carisma, capacidade de inspirar gente apolítica vão ficar cada vez mais desiludidos. A estratégia da "moderação", se é isso que significa a pena de morte, não funcionou para Al Gore, nem para John Kerry...

Friday 27 June 2008

Finalmente: Rio das Flores

Li com grande interesse e ando a ruminar há meses nas famosas quatro páginas de Vasco Pulido Valente (VPV) no Público (27 de Novembro de 2007) sobre o Rio das Flores de Miguel Sousa Tavares (MST). Esta fascinante polémica mete claro livros, mas também curiosamente petiscos (já que VPV se inssurge contra o facto de MST fazer demasiadas descrições dos pratos ingeridos pelo protagonista, que são a seu ver injustificadas), sendo imperativo pois que este blogue se pronuncie sobre o tema.
Assim, plagiando a esquematização numérica do historiador VPV decidi dividir a minha própria criticazinha em três grandes vertentes:
1) Erros históricos: Antes de ter lido a crítica de VPV encontrei na blogosfera (um espaço irreal recheado de interessantes e divertidas surpresas) a crónica de Ricardo Araújo Pereira (RAP). Eu agora quero ser conhecida por CFW (Catarina Féria Walsh), acho que a sigla anima muito as controvérsias literárias, mas isto é apenas um aparte. RAP refere que MST escreve sobre o século XIX e o príncipio do século XX, “o que acaba por ser imprudente uma vez que Pulido Valente sabe mais sobre esse período do que as pessoas que o viveram, e irrita-se se alguém mexe na História de Portugal sem lhe pedir autorização.” Na minha modesta opinião, é importante que o romance histórico não contenha erros e anacronismos, mas é por isso que eu não gosto e raramente leio romances históricos. O tom, a linguagem, “a voz” da narrativa, o relacionamento entre as personagens, tudo me soa a falso. Quando estou numa livraria e pego num livro e na contracapa aparece uma sinopse absurda, normalmente apenas com um local e uma data: Veneza 1610...ou Londres 1897, ou Paris 1212...é o suficiente para eu o colocar logo na prateleira. Por exemplo, começei a ler um romance em cuja cena inicial há um camponês medieval que está repimpado debaixo de uma árvore a ler um livro (ou seja, não tinha morrido da peste negra, sabia ler, lia latim, não tinha nada que fazer nos campos, já que não tinha o senhor feudal à perna e ainda tinha conseguido arrastar o enorme e pesado livro da igreja ou mosteiro ou palácio, aberto o cadeado que muitos tinham e virado as suas páginas?) Inicialmente pode parecer que os erros históricos são de menosprezar e que é pretensioso exigir rigor, mas a verdade é que o Rio das Flores tem uma extensa biliografia e apregoa ser um romance histórico sério de enorme envergadura. MST avisa que não vale a pena procurar erros e que modificou apenas uma data para efeitos da intriga narrativa. Ora, o VPV não ficou convencido e com razão. As imprecisões confundem, distraem e impedem os leitores de aprenderem sobre o período histórico em causa (se é isso que querem e eu desconfio que seja). Mas não é isso que mais me preocupa, mas o modo atabalhoado como as explicações históricas são literalmente enfiadas no meio da acção de maneira quase incongruente. Surgem num tom didáctico e propagandístico e mesmo as opiniões das personagens sobre os acontecimentos que estão a ocorrer parecem ecoar mentalidades e atitudes que não se adequam à época em que vivem. As páginas com forte teor histórico são aborrecidas e aquelas que eu queria passar à frente para regressar à história, no sentido de conto, de intriga.
2) Intriga e personagens. Porque é que este livro capta o leitor e vende milhares, tornando-se um fenómeno literário? Não é por falar da política do Brasil, do caciquismo, da história do Tavares Rico ou simplificar o retrato de Salazar e o mesmo se pode dizer do Equador, mas por causa da intriga. A história é cativante, empolgante e isso seria quase suficiente para que o livro fosse um sucesso do ponto de vista literário se as personagens não fossem inconsistentes e lhes faltasse densidade, como apontou VPV. Apesar de não ser fácil simpatizar com a personagem principal, Diogo, um intelectual diletante com dinheiro e e sem rumo ao estilo de Carlos da Maia (mas com menos personalidade e carisma), o leitor quer saber o que vai acontecer a seguir. O irmão de Carlos, Pedro é fascista, de moralidade dúbia, embora seja mais real como personagem. Como saga familiar e no aspecto narrativo, e aqui discordo de VPV, o Rio das Flores funciona, mau-grado a flacidez de carácter das personagens. E isso, caros amigos, é fundamental num romance. Mesmo com o que VPV considera o tom de relatório e a “luz branca e monótona” da escrita de MST.
3) Mulheres. VPV ficou enfurecido com os erros históricos e com falhas literárias e só tocou ao de leve naquele que para mim é o ponto mais irritante do Rio das Flores, também visível no Equador (doutra maneira): As personagens femininas são amalgamadas ou estereótipos e tratadas como irrelevantes, com contornos pouco definidos. E isto a mim irrita-me tanto como a VPV o erro sobre a lei do morgadio. O livro falha do ponto de vista humano, porque a visão misógina de MST, tudo permeia. Para mim esta é uma questão central, de que pouca gente se apercebe porque as pessoas não vêem o mundo por esse prisma e estão habituados a ver as mulheres maltratadas, ignoradas, ridicularizadas e como diria "Gato Fedorento" "vilipendiadas" Além da dicotomia medieval da santa-prostituta, no Rio das Flores, as mulheres são comparadas a poltras e éguas, são apenas veículos de satisfação sexual, são equiparadas a prisões, a máquinas de produção de filhos, apesar de terem sempre a “anca esguia” têm usualmente o “seio farto”. Maria da Glória: a mãe de Diogo e Pedro é uma senhora conformista sem qualquer influência visível no marido ou nos filhos, sendo apenas respeitada e vista como a “santa mãezinha” típica dos machistas. A única coisa em que Maria da Glória tem poder é na gestão das tarefas domésticas. A sua viuvez prematura revolta-a, embora isso nunca se manifeste.
Maria do Amparo: começa por ser a mulher-selvagem, com sangue cigano e logo conotações equestres para depois se transformar na convencional esposa que nada mais quer que estar em casa aguardando o marido e tratando dos filhos. MST insua que Diogo perde o interesse porque ela, ao estar cansada por amamentar o bébé e ser praticamente uma criada, tendo o desplante de estar menos disponível para o sexo. Agarrada à terra, peixe fora de água em sociedade, pouco interessada em política ou em viajar é descrita como uma espécie de empecilho a Diogo, que por sua vez lê revistas estrangeiras, precisa de horizontes mais largos e de se descobrir a si próprio. Angelina: artista alentejana surge num campo, vinda do nada e começa um romance escaldante com Pedro, o irmão de Diogo, a despropósito que pinta nú, para depois ir para Paris. Porquê? Nada disto faz muito sentido, mas não é uma personagem credível. As suas opiniões políticas são pouco claras há algo da “mulher fatal” nela, que leva à perdição, da destruidora de corações, uma versão mais suave da inglesa do Equador.
A brasileira: Uma prostituta com que Diogo se vem a juntar, também com uma personalidade pouco marcante, mas com "contornos bem desenhados", ou seja mais um veículo para Diogo "se expressar". Neste caso ele apaixona-se pelo país, Brasil e não por ela.
Luisa: Para mim a personagem mais interessante mas ultra-secundária, casada com um amigo de Diogo, é uma mulher livre, moderna e diferente, activista política, que foge ao universo típico masculino com aspirações a Hemingway de MST: caça, touradas, idas às prostitutas.

Artigo de VPV
http://static.publico.clix.pt/docs/cultura/rioDasFlores.pdf

Wednesday 25 June 2008

Patos e ratos ou pactos e raptos

Hoje recebi mais um e-mail abaixo-assinado, petição ou indignação costumeira contra o controverso acordo ortográfico. Como se não existissem problemas mais graves no mundo (guerras, a fome, os preços do petróleo, o desemprego...) Se as pessoas se deixassem de nacionalismos e patriotismos rídiculos, xenófobos e de teor colonialista seria melhor. Ainda por cima há quem confunda alhos com bugalhos e esteja convencido que desde o momento em entrar em vigor o acordo, Portugal se vai afundar sobre o peso dos brasileirismos, fruto de quem se recusa a estudar os factos ou fatos (não resisto).
A última petição que recebi é sobre a "língua portuguesa, que é a nossa pátria" e que faz um trocadilho absurdo com pato: "De fato, este meu ato é devido à não aceitação deste pato com vista a assassinar a Língua Portuguesa." Que almas tão inseguras temem o assassinato de uma língua falada por um número estimado de 250 milhões de pessoas?
De qualquer modo, eis o que diz o odiado documento:

"a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto;

Morreram pelo menos 100 mil pessoas desde que começou a guerra no Iraque. Aliás não há sequer informação fidedigna de quantos civis foram mortos (cerca de quatro mil são soldados americanos). Não será muito mais grave nem sequer termos acesso a essses dados e centenas de milhares morrerem num conflito absurdo...ou talvez seja preferível gastar energias a defender a ortografia da palavra "acto".

Monday 23 June 2008

O mundo da moda



Na semana passada fui à abertura da exposição “Little Black Dress” no Museu da Moda sobre esse clássico do guarda-roupa feminino que é o vestido negro. O Museu, sediado num antigo armazém industrial foi fundado pela estilista excêntrica e meia “punk” Zandra Rhodes. A minha amiga Mary-Jane fez chapéus para vender na loja do museu e vai apresentar um “workshop” em que ensina pessoas a fazer um exemplar com os materiais que ela leva e as técnicas que partilha. A isto, chama ela “mobile Millener”, ou seja a chapeleira ambulante.
Encontrámo-nos à porta e Mary Jane além de usar uma das suas criações (pétalas de tecido sobrepostas num efeito “vintage” entre a touca e o chapéu) vestia meias pretas sem pés, uma túnica preta com um cinto largo vermelho, diversas pulseiras de plástico coloridas e sapatos pretos com pom-poms (o look londrino entre o “retro” e o último grito da moda define a Mary Jane).
A festa foi bem regada com champanhe e os vestidos pretos estavam expostos em grupos conforme as épocas, começando com um exemplar Chanel, já que foi Coco Chanel quem lançou a moda do vestido preto nos anos 30, estipulando que este (junatamente com bujuteria falsa)devia ser o uniforme da mulher moderna. Desde essa altura o vestido preto aparece sob as mais diversas formas. Algumas das peças expostas eram obras de arte, saídas dos filmes da Audreey Hepburn ou Grace Kelly, cinturas minúsculas e drapeados em seda e tafetá. Outros eram absurdos robes de plástico, mais gabardine que vestido, cravados a metal ou horrendos tubos de lycra co,m ombreuiras gigantes dos anos 80.
Zandra Rhodes abriu a exposição com a sua imagem de marca: cabelo cor de rosa, sombra azul nos olhos (tipo panda) e uam sobreposição de roupas assimétricas. A convidada de honra era a modelo Erin O´Connor que é conhecida por ter transformado a imagem do Marks and Spencer de loja para tias octagenárias em catedral da moda. Não aconselho ninguém a colocar-se ao lado deste cisne cujo pescoço é maior do que a minha altura...quase...altissima, esguia e esquelética, esta modelo tem um ar inteligente, com o cabelo curto preto, um estilo andrógino e uma voz e sorriso agradáveis, mas é intimidante, coma sua altura, de tal maneira que a pobre da Zandra Rhodes que também é diminuta lhe pediu para tirar os sapatos. A fauna era composta de mulheres em vestidios pretos, com a suas próprias versões da elegância. Era óbvio que muitas faziam o chamado “channeling”, ou seja copiar uma actriz, usando esse “look” como “canal”. Não é a linguagem da moda absolutamente absurda? Contudo, é divertida e leve. Expliquei a um amigo meu no outro dia que a moda é a única coisa que interessa no “Sex and the City”, que acho machista e com mensagens seriamente duvidosas de consumismo galopante, imoralidade, leviandade e conformidade com papéis tradicionais (apesar das conversas sobre vibradores e dating compulsivo). A mesma pessoa referiu “a minha ex-mulher deixou-me para ir viver a vida do Sex and the City”. O que será que quer isto tudo dizer? Quando vir o filme voltaremso a esta vaca fria.
Na exposição do vestido negro, explicava eu que as mulheres estavam de negro, alguns poucos homens acompanhavam-nas com cara de querer estar a ver o Euro 2008 (os tais estereótipos) e outros “gays” estudantes de estilismo deleitavam-se. Um Travesti com pernas muito magras, mini-saia e saltos altos, mas de cabelo curto rapado cantou sobre a importância de ter um vestido preto. Na loja várias pessoas experimentavam os chapéus da Mary Jane sem comprar, o que a levou a questionar Zandra Rhodes e um rapaz chamado Piers sobre a dificuldade de vingar no mundo cruel da moda. Na sua pronúncia “cockney”, a estilista aconselhou-a a não desistir. Ela argumentou que tinha 40 anos e que estava a peder a esperança. Eu eo Piers insistimos que ela tinha uma aparência ultra-jovem.

Friday 20 June 2008

A vida depois de Hillary

Depois da desistência de Hillary Clinton, o Partido Democrata quer apenas mostrar uma frente unida e esperar que a "Obama-mania" não dê lugar à fadiga face a um candidato que é quase "bom demais para ser verdade". E quem será número 2? Al Gore demorou até vir a público apoiar Obama, mas está claramente a fazer-se ao lugar...

Saturday 10 May 2008

Hillary não desiste

A maioria dos comentadores aponta que é impossível para Hillary Clinton ganhar a nomeação do Partido Democrata, após as últimas primárias. Não só Barack Obama venceu em mais estados, com percentagens mais elevadas, mas está a angariar cada vez mais apoios entre os super-delegados. A campanha está falida, os membros do partido preferem Obama, o arrastar da batalha interna beneficia os republicanos. Porque é que a mulher não se cala e desaparece, grita um coro de vozes, que a equiparam a Glenn Close no filme Atracção Fatal.
Contudo, Hillary não desiste. Com um número superior de super-delegados, as sondagens indicam vitórias para Clinton em estados que ainda não votaram. A candidata espera que a recontagem dos votos no Michigan e Florida que foram anulados revitalizem-na e reforçem a sua estratégia de avançar até à convenção do partido em Agosto. Obama não convence o eleitorado completamente e alguns duvidam que ele possa fazer face a John McCain. Uma gaffe ou escândalo catastróficos por parte de Obama são a única salvação para a campanha de Hillary.

Thursday 8 May 2008

A escolha do povo

Boris Johnson foi eleito para a Câmara de Londres e tal como diz o ditado "Rei Morto, Rei Posto", o antigo regime saiu de saiu de cena para dar lugar ao novo. Numa entrevista à BBC no Domingo, um assessor do ex-"mayor", Ken Livingstone estava já a arrumar a secretária ao ter tido ordem de despejo dos Conservadores. "Pelo menos foi a escolha do povo e não a abolição autoritária como aconteceu nos anos 80", referindo-se à decisão da então Primeira-Ministra Margaret Thatcher de abolir as insituições locais londrinas.
"BoJo" chegou à Câmara com medidas populistas de luta contra o crime e a última sugestão na torrente de novas políticas é proíbir as bebidas alcoólicas no metro. O problema é que que a implementação da medida é quase impossível. A outra grande promessa de Boris é pôr fim aos autocarros articulados que substituiram muitos dos clássicos autocarros de dois andares que os turistas e quase toda a gente adora. Como ciclista, o novo "mayor" tem um verdadeiro pavor dos articulados. A taxa de congestionamento (que reduziu emissões de carbono e facilitou o trânsito) imposta por Livingstone também poderá ser modificada.
Como diz o pai de Boris, ele aprendeu grego e latim no colégio privado que frequentou, portanto está pronto para qualquer desafio.
Esperamos notícias neste Londres recentemente Conservador.

Friday 2 May 2008

"Bojo na Câmara de Londres"?



As eleições para a presidência da Câmara de Londres e para representantes de assembleias locais no País de Gales e na Inglaterra ocorreu ontem, uma quinta-feira, como é regra no Reino Unido. Não admira pois, que a taxa de absteñção seja tão alta, no país em que as pessoas trabalham o maior número de horas na Europa.

O Partido Trabalhista sofreu uma derrota considerável, o que não é de estranhar, com um Primeiro-ministro, Gordon Brown que não foi sequer eleito, mas que herdou o lugar após a demissão de Tony Blair. Mais grave, foi o facto de Brown ter optado por não convocar eleições e legitimar a sua posição, por saber que era provável que perdesse face a um Partido Conservador retemperado com um novo líder, David Cameron. Os resultados de Londres só serão conhecidos mais tarde com as sondagens a darem um empate entre os dois partidos.A campanha eleitoral foi interessante, principalmente em Londres com os candidatos dos três partidos a apostarem no factor excentricidade, que cai sempre bem com os habitantes da capital. Assim, temos o actual Presidente, Ken Livingstone desde 2000, um rebelde (à esquerda do seu partido, os Trabalhistas) que tinha estado à frente da Great London Authority nos anos 80, abolida por Margaret Thatcher. Livingstone, conhecido como "Ken o Vermelho" nos tablóides de direita é acusado de gastar demasiado dinheiro público, de estar agarrado ao poder e de ter desenvolvido uma arrogância própria dos políticos que se esquecem de que estão a representar o povo. No outro dia, numa entrevista à BBC, o "mayor" estava visivelmente embriagado, arrastava as frases e não transmitia energia nenhuma, mas uma coisa é certa: Ken demonstrou enorme coragem política ao introduzir a impopular taxa de congestionamento na zona central de Londres.


O candidato do Partido Conservador, Boris Johnson é um ex-jornalista, chefe de redacção do Spectator e comentador político do Daily Telegraph que se tornou famoso por aparecer no programa humoristico "Have I Got News For You" e por ter casos amorosos ilícitos com colegas. Deputado há relativamente pouco tempo, Boris andou em colégios privados e movimenta-se no meio da aristocracia ou classe alta britânica. Com o cabelo louro despenteado ea tendência para fazer gaffes ofensivas, "Bojo" é visto como uma figura divertida que é levada pouco à sério.

A questão é que os eleitores, fartos dos Trabalhistas e preocupados com a crise económica podem pensar que precisam de um "mayor" Conservador, que anda de bicicleta e que os pode entreter e conquistar com políticas populistas.

O candidato dos Liberais Democratas, Brian Paddick é um ex-polícia "gay" que ficou conhecido por ser altamente tolerante face às chamadas drogas leves. As suas políticas centram-se no combate ao crime e no reforço da polícia. Embora o crime seja um problema que preocupa os londrinos, Livingstone defende que este está a baixar. Os crimes mais mediáticos têm sido as trágicas mortes de adolescentes em bairros degradados às mãos de "gangs", também compostos de adolescentes.

Segundo a BBC, o Partido Trabalhista poderá ficar em terceiro lugar, com 24%, a seguir aos Liberais Democratas com 25% e os Conservadores com 44%, os piores resultados eleitorais dos últimos 40 anos. Uma sondagem da BBC indicava ontem que os inquiridos preferiam Tony Blair a Gordon Brown. E não esqueçamos que Blair ficará para sempre associado à guerra no Iraque, enquanto Brown era visto como um ministro da economia responsável e eficiente. À medida que se agrava a crise económica e que os excessos anteriores da especulação e dos riscos tomados pelos banco vêm à tona, que os preços das casas caem em catadupa,Brown sai com a reputação em farrapos.

Thursday 24 April 2008

A gaffe de Obama na Pensilvânia "Tacanha"


Os Democratas da Pensilvânia responderam à gaffe de Barack Obama ao dar uma vitória inequívoca a Hillary Clinton (10% de vantagem), fazendo assim com que a corrida à nomeação se arraste mais uns meses. Para os que ainda não notaram, Obama não é perfeito e o messias que vai salvar os Estados Unidos e o mundo após oito anos de governo Bush. Carismático, capaz de inspirar uma geração apática e bem-falante, o candidato “distraiu-se” e disse a uma audiência de empresários em São Francisco que a classe baixa na Pensilvânia era “amarga” e tacanha, que reage à falta de oportunidades económicas e socais virando-se para a posse de armas de fogo, a religião fanática e a xenofobia. Estes comentários mostram o que muitos já suspeitavam: Barack Obama não é um filho do povo. Como a maior parte dos políticos nos Estados Unidos é elitista, assim o descreveu o candidato Republicano, John McCain. Obama frequentou colégios e universidades de luxo, movimentando-se num meio culto, instruído e rico. Alguns acusam-no de estar desfazado da realidade da populaça americana, com a sua mentalidade ultra-conservadora, crença evangélica e medo-desprezo pelos valores urbanos e “estrangeiros”.

Os eleitores Democratas vão às urnas no dia 6 de Maio na Carolina do Norte e em Indiana, onde se espera que Obama recupere a vantagem sobre a sua adversária.
Contudo, são os “super-delegados” que votam no Congresso em Agosto que irão fazer a diferença. Analistas políticos têm referido que Hillary ganha nos estados importantes e cruciais para que o partido possa derrotar McCain.

O poder dos blogues


No entanto, os comentadores pensam que para Obama perder a nomaeção terá que cometer erros consideráveis. Uma lição que ele aprendeu no evento onde fez os tais comentários infelizes é a não ignorar os chamados cidadãos-jornalistas.
Ao fazer o discurso a um grupo de empresários californianos com o intuito de angariar fundos para a sua campanha, Obama pensou que podia estar à vontade, já que o evento era vedado à imprensa. Só que Mayhill Fower de 61 anos e uma “blogger” do “Huffington Post” estava presente.
Hoje em dia com o avanço da blogosfera, os meios de comunicação não só não podem ser controlados como como têm que repensar questões éticas. O mais interessante é que Mayhill é apoiante de Obama e contribui até dinheiro para a campanha. Ao gravar os comentários do candidato e ao aperceber-se do seu potencial para afectar a sua imagem quase imaculada, a “blogger” (bloguista?) questionou o que deveria fazer. Para a editora do “Huffington Post” não havia dúvida de que deontologicamente não se pode cobrir uma campanha e ocultar as facetas negativas dos políticos conforme as nossas convicções (também ela apoia entusiasticamente Obama). E assim, a gaffe, a grande “cacha do “Huffington” passou da blogosfera para outros meios de comunicação social.

Monday 21 April 2008

Diário de Uma Senhora da Província

Estou a saborear aos poucos, o "Diary of a Provincial Lady", de E.M. Delafield. Publicado em 1930 é um relato escrito na primeira pessoa, que é um pioneiro da chamada "Chick Lit", um rótulo um pouco pejorativo da "literatura leve para mulheres" ao género do "Diário da Bridget Jones".
De classe média-alta, a protagonista tem dois filhos, um marido (sempre a dormitar por trás do "Times"). Os seus dias são passados a gerir a casa, apesar de ter várias criados, uma cozinheira e uma "mademoiselle", encarregada da educação da filha. O filho tinha sido já despachado para um colégio interno. Robert, o marido é distraído, ausente e paternalista.
A Senhora da Província não trabalha, vive em Devon, numa pequena aldeia e movimenta-se na paisagem social, com visitas da mulher do Vigário, de jantares, almoços e "pic nics" aborrecidos.
A criadagem dá-lhe inúmeras dores de cabeça por estar sempre a queixar-se e despedir-se, pelo que ela é forçada a procurar substitutos, o que a deixa exausta. A sua conta tem o saldo negativo e ela tem que penhorar o anel de dimantes da avó, embora as aparências devam ser mantidas a todo o custo e ela continuar a comprar vestidos e chapéus "por não ter nada que vestir".
O diário é escrito num estilo divertido e a Senhora da Província torna-se particularmente exuberante quando viaja para Londres, França e Bruxelas com amigas.
A autora, que era jornalista e escreve este diário ficcional, mas profundamente autobiográfico foi convidada a publicá-lo em folhetins na revista feminista "Time and Tide". Após a publicação deste diário surgiu "The Provincial Lady in America" e "The Provincial Lady in Wartime", além de outros livros e peças de teatro, num corropio prolífico até à sua morte aos 51 anos.
Hoje em dia, a Senhora da Província teria um blogue, com conselhos úteis sobre como tratar os criados e como encontrar aquele vestido divino para uma "soirée literária".

Friday 11 April 2008

Virago:Uma editora de Mulheres para Mulheres

A editora Virago comemora os seus trinta anos em Maio, uma idade ainda jovem para o que se tornou uma institução do meio editorial britânico.
Com um grafismo inconfundível, as capas verdes, e a publicações de obras raras, a Virago inspira as mulheres que publicam livros escritos por mulheres, alguns dos quais tinham inicialmente sido marginalizados pelas grandes casas editoriais.
Para celebrar os seus 30 anos de existência, a Virago vai publicar em capa dura, obras que são agora clássicos, com introduções de escritores contemporâneos.
Um dos mais falados, porque difícil de encontrar nas livrarias é o "Diary of a Provincial Lady" de E M Delafield, que é um relato divertido de uma senhora que vive em Devon com uma bela casa, marido (sempre adormecido ou escondido por trás do "Times") e cuja razão principal de viver é manter as aparências.
A Virago na realidade criou autores de culto e salvou escritoras como a Daphne du Maurier (sobre quem já escrevi neste blog) de uma reputação que as rebaixa a uma categoria de meros "romances de cordel" ou "thrillers" ou o degradante conceito de "livros para mulheres", ou seja sobre sentimentos, emoções,a vida normal, a casa, os filhos, as relações.
Sem qualquer vergonha, a Virago assumiu-se como uma editora feminista.

http://www.virago.co.uk/

Lista de livros da Virago que recomendo
  • The Clothes on their backs, Linda Grant. Uma rapariga tímida descobre que tem um tio extravagante, que a leva numa viagem ao passado e aos segredos que a família emigrante escondeu
  • The Women´s room, Marilyn French. Um clássico do feminismo dos anos 70. Um grupo de mulheres reúne-se para partilhar experiências
  • Rebecca, Daphe du Maurier. A inexperiente narradora casa com um homem 20 anos mais velho, o viúvo rico e misterioso, Max de Winter. A presença da primeira mulher, Rebecca é dominante e como defendeu a autora do livro este é um "estudo sobre o ciúme"
  • Heartburn, Nora Ephron. A autora do guião de "When Harry Met Sally" e outros filmes escreve histórias caústicas sobre relações amorosas. Aqui, Rachel Samstat, que adora cozinhar e produz receitas de culinária para um jornal pinta um retrato agridoce da sua paixão e casamento com um jornalista egocêntrico. No meio surgem receitas e o que elas significam para a protagonista.

Thursday 27 March 2008

Mousse de Limão

Esta receita foi adpatada de várias e acima de tudo simplificada. É uma sobremesa muito fácil, ráida e leve, com uma consistência celestial, que se pode servir em copos de vidro, com casca de limão ralada ou rodelas muito finas.

Coloco aqui uma versão mais "light":

Para 4 Pessoas

2 pacotes de mascarpone "light"
O sumo de cinco ou seis limões e a casa ralada
Se conseguirem encontrar: duas colheres de sopa de Lemon Curd (um doce de limão que se vende num frasco e que é feito com gemas de ovos, acuçar e limão, numa pasta muito macia e aromática)
5 colheres de sopa de mel
Açucar ou adoçante

Eu misturo cuidadosamente o mascarpone com o limão para não talhar, adicionado a casaca de limão ralada e o "lemon curd". Se ficar muito líquido, o meu truque é juntar amêndoas raladas para dar consistência. Ponha no frigorífico durante umas boas horas antes de servir. Com esta mesma base já fiz mousses de maracujá, manga, amoras e morangos.

Wednesday 12 March 2008

"Thank you for Not Reading", Dubravka Ugresic

Este livro de ensaios da escritora croata, Dubravka Ugresic é uma reflexão crítica sobre o estado da indústria livreira e a publicação e comércio de livros. A autora levanta questões como porque são publicados tantos livros, mas apenas uma pequena parcela é lida; porque é que os livros se tornaram um produto ao qual se aplicam as regras do mercado; como funcionam as propostas de livros e sinopses e os agentes literários (de maneira caótica e imprivisível)

Mas a ideia mais importante é a de que a cultura uniforme e estupidificante do estado totalitário que Ugresic conheceu sob a forma da antiga Jugoslávia (embora critique os nacionalismos e países que a substituiram) com as forças do mercado capitalismo. Na realidade não existe mais escolha, mas uma hegemonia semelhante. A carneirada é direccionada para certos livros, que a seu ver pecam pela falta de qualidade, sendo um dos seus ódios principais, o Alquimista de Paulo Coelho.

Ataques, Escândalos, Racismo e Machismo numa Sociedade Confusa

Samantha Power, uma assessora de Obama teve que se demitir depois de ter dito que Hillary Clinton era um "monstro". Estes comentários foram feitos ao jornal "Scotsman" e eram supostamente "off the record". É difícil de conceber que esta senhora que escreveu uma biografia do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello e ganhou o prémio Pulitzer não sabia que o "off the record" não existe. Uma entrevista não é uma conversa normal em que se pode dizer uma coisa e depois negá-la ou pedir para que essas declarações não sejam publicadas.
Entretanto, as atenções foram desviadas das eleições Primárias com a demissão forçada e arrastada de Eliot Spitzer, Governador de Nova Iorque por envolvimento numa rede de prostituição de alto luxo. Apesar de as relações entre Spitzer e Hillary Clinton serem ténues (ele apoia-a) alguns meios de comunicação social, na ânsia de atacar a candidata à nomeação Democrata já referiram que este escândalo lembra o caso das escapadelas de Bill Clinton. A pobre mulher de Spitzer lá apareceu ao lado dele, mostrando-se solidária e recordando o público das humilhações de Hillary, também leal ao marido adúltero. Mais uma vez, colunistas vêm questionar a experiência da Senadora de Nova Iorque, "cuja estadia na Casa Branca não lhe deu a experiência necessária para controlar o marido". Ou seja, não há tema que não sirva para denegrir as credenciais de Hillary.

Votar em Obama para aliviar a culpa

Separadamente, uma apoiante de Clinton, Geraldine Ferraro declarou que Obama "tinha sorte" de ser negro e de não ser mulher. O que ela queria reforçar era que o machismo é mais forte do que o racismo e que a raça é uma questão tão complexa que neste caso pode até estar a favorecer Obama (adorado pela imprensa que não aplica a mesma ferocidade que reserva para a sua rival)
Trevor Phillips, o presidente da Comissão para a Igualdade Racial e Direitos Humanos e uma das figuras mais importantes na comunidade afro-caribenha na Grã-Bretanha escreveu na revista "Prospect" que a eleição de Obama poderá prolongar as divisões raciais nos Estados Unidos. Na sua opinião, o entusiasmo da classe média branca com a campanha de Obama está associada à culpa colectiva e interiorizada por causa da escravatura. "Votar em Obama é uma negação fácil do racismo de cada pessoa. Desde que não tenha que viver ao lado dele. Obama ainda não conseguiu angariar votos em zonas brancas adjacentes a zonas negras". Phillips compara Obama a celebridades como Oprah Winfrey e Bill Cosby que têm um acordo tácito que lhes permite serem aceites e que implica porem de parte a questão racial.
O que tudo isto mostra é uma sociedade dividida, em termos de raças e de sexos, com valores morais confusos e hipócritas.
Obama luta pela unificação, mas esta exige a obilteração do passado. E é isso que Obama promete, uma América com um futuro harmonioso. Custa-me a acreditar que sem resolver e equilibrar as desigualdades esse projecto se possa concretizar.

Thursday 6 March 2008

Mais perto de um "dream ticket"?


Hillary venceu no Texas, Ohio e Rhode Island (que apesar de ser um daqueles estados minúsculos do Leste dos Estados Unidos, é considerado um bastião de activismo Democrata).


A senadora de Nova Iorque tem sido alvo de inúmeros ataques às mãos dos meios de meios de comunicação social e da campanha de Obama, tendo por sua vez optado por tácticas mais agressivas que podem podem vir a ter consequências negativas para o partido, cada vez mais dividido. Um anúncio recente em tempo de antena da campanha Clinton procura reforçar a ideia de que os Estados Unidos e o mundo estão em perigo se Hillary não estiver na Casa Branca. O anúncio na televisão mostra duas crianças a dormir e um telefone a tocar num ambiente de "suspense": "Quando o telefone toca a meio da noite na Casa Branca, quem é que voçê quer que atenda?". O seja, o sono dos justos só pode ser protegido por uma presidente com experiência.

Muitos analistas políticos acusam Clinton de querer mudar as regras do jogo, por ela ter dito que estas últimas vitórias mostran que é ela que ganha nos grandes estados, "naqueles que verdadeiramente contam". Os grupos de apoio da ex-primeira Dama são os mais velhos, os mais pobres, os latinos, as mulheres (brancas) os mais Democratas, no sentido em que Obama atrai independentes e gente despolitizada e até Republicanos, além dos mais instruídos, o voto negro e etc...O argumento da campanha de Clinton agora é que a sua base de apoio é crucial para uma vitória contra o Senador John MCain que assegurou esta semana a nomeação do Partido Republicano. A corrida Democrata continua aberta e poderá assim permanecer até à convenção do partido no Verão. Até lá esperemos que os candidatos se portem com dignidade para termos um "dream ticket", uma candidatura de sonho com Hillary à cabeça e Obama como vice-presidente.
Uma nota de interesse:
Ao contrário de campanhas passadas, esta trava-se também na internet (em blogs, no Youtube, nas redes de interacção). Pelo menos nenhum dos dois polítics anuncia centenas de milhares de "amigos", referindo-se às pessoas na sua rede de contactos como "apoiantes".
Página dos candidatos no Myspace
Página dos candidatos no Facebook

Tuesday 4 March 2008

Uma mulher de substância

Em poucas horas saberemos se a candidatura de Hillary Clinton chegou ao fim. Hoje votam os estados decisivos do Texas e Ohio. Os analistas procuram razões para a queda de popularidade da Senadora de Nova Iorque. Erros de estratégia e de organização da campanha, angariação incompleta de fundos, a falta de um plano B para responder ao fenómeno em torno de Obama ou a “Obama-mania”, ataques e propaganda negativa contra o seu rival, "bagagem" dos anos 90 e da presidência do marido, Bill Clinton ou factores associados à personalidade e apresentação de Hillary. Os meios de comunicação têm sido implacáveis e criticam-na principalmente pela escolha das roupas, corte de cabelo e tom de voz estridente mais do que pelo conteúdo dos seus discursos e retórica nas dezenas de debates em que participa.
Ninguém contesta que Hillary é uma mulher inteligente, com experiência e substância. Mas isso normalmente é visto com suspeita e ela é acusada de ambição desmedida, de ser demasiado masculina e de ter uma sede insaciável de poder. A mensagem pouco conta face a uma candidatura como a de Obama. Aguardamos notícias do outro lado do Atlântico.

Saturday 1 March 2008

Aldrabice na cozinha ou ir contra o "zeitgeist"


Como Cozer um Ovo

Delia Smith, que é uma instituição da culinária britânica lançou recentemente um novo livro: "How to Cheat At Cooking". Delia é famosa desde os anos 70, por ter sido a pioneira dos cozinheiros que simplificam a arte sagrada da culinária e ensinam "truques" para impressionar convidados em jantares com um mínino de esforço. "To do a Delia" é uma expressão que significa isso mesmo e que entrou no vocabulário idiomático inglês.

Esta senhora iniciou a sua carreira com colunas em jornais, passando depois para a televisão e para a publicação de livros e patrocínio de ingredientes, tendo ganho uma verdadeira fortuna e alcançado a fama. Ultimamente Delia desapareceu de algum modo, abrindo as portas para Jamie Oliver, Nigella Lawson, Rick Stein, Gordon Ramsay e outros.

Na última década, a culinária deixou de ser um "niche" e passou a ser levada extemamente a sério, tendo gerado um interesse no público comparável à obsessão britânica com propriedades, venda e decoração de casas, competindo por espaço em programas de televisão e "reality shows". Assim, a um programa sobre um casal à procura da sua "casa de sonho", segue-se um programa em que cozinheiros amadadores tentam convencer um júri de "gourmets" ou um "celebrity chef" de que são a pessoa certa para um lugar num restaurante de alto luxo.

No seu apogeu, Delia Smith ensinou a cozinhar ou a "enganar na cozinha" a gerações de jovens estudantes e pessoas sem talento e sem tempo com o seu estilo prático e desmistificador, tendo ficado célebre com um capítulo em como "cozer um ovo".

O panorama mudou drasticamente. Hoje em dia, a tendência da classe média é para passar horas em mercados reais ou virtuais à procura de produtos alimentares, o chamado "sourcing". A proveniência dos alimentos é crucial, daí a moda despoletada por cozinheiros "in" como Jamie Oliver de cultivar hortas, ou pelo menos de ter ervas aromáticas em vasos. Além disso é imprescindível tornar-se amigo íntimo do talhante, do homem da peixaria e da mercearia para assegurar que os alimentos são biológicos, que no caso da carne e do peixe, que os animais foram bem tratados e a proveniência é sustentável e não causa extinção de espécies, ou aquecimento do planeta por terem sido importados dos antípodas.

Este tipo de consumidor "gourmet" quer ter a certeza de que os ingredientes são locais e não contêm poluentes, químicos, aditivos estranhos e que têm "valor nutritivo". Os vegetais são do jardim, do mercado local ou das imediações sendo trazidos numa caixa semanal cobertos de terra e com o ar feioso, mas saudável da agricultura biológica. Com estes produtos, o adepto de Jamie Oliver vai elaborar pratos complicados, em que tudo é confeccionado pelo próprio dentro do possível. Por exemplo, a massa deve ser feita em casa, assim como o pão, os bolos, os molhos que acompanham ou fazem parte de uma receita.


Porno-Culinária

O último programa de Nigella Lawson, o "Nigela Express" ensinava como peparar sumptuosas refeições que impressionam, embora sejam ultra-rápidas. Na realidade, envolviam sempre imenso trabalho, não que a voz e as formas sensuais da decotada Nigella a lamber os dedos e a cozinhar bombas calóricas o deixassem antever. Nigella é pornografia gastronómica e em sintonia com a sobre-sexualização da sociedade actual (se não existe este termo deixem-me inventá-lo que eu estudei sociologia).

E eis que surge de novo Delia com receitas que usam uma série de ingredientes congelados, enlatados, empacotados e pulverizados que supostamente nos facilitam a vida, com o seu ar despachado e até um pouco severo de presidente de clube de futebol. Desde a sua abdicação da coroa da Rainha da cozinha britânica, tem gerido o seu adorado Clube de Futebol de Norwich.

Será que existe lugar para a Delia na culinária actual? A "marca" em si, dada a sua fama está suficientemente estabelecida e o livro está já no top da lista de "bestsellers".

Segundo esta veterana, o que falta nestes extravagantes tempos é uma certa dose (mais do que uma pitada) de realismo. A sofisticação dos "cozinheiros-celebridade" fazem com que as pessoas se sintam diminuídas e incapazes de fazer um prato decente. Poderiamos acrescentar, que como diria Nigel Slater (um dos meus preferidos, juntamente com Rick Stein) há uma grande concorrência entre os "chefs" principalmente masculinos, um machismo da colher de pau, se me é permitido. É tudo muito científico e e elaborado com o objectivo de ganhar prémios, "estrelas michellin" ou para os amadores, elogios da mulher (que depois tem que limpar a cozinha onde o marido usou todos os utensílios, panelas e deixou um rastro de destruição, mas deve sentir-se eternamente grata).

Muitos são os que assistem a horas de porno-culinária sem saber estrelar um ovo, acabando por comer refeições pré-feitas e "takeaways".

Apesar da simpatia pela causa dos frangos de aviário, a moda das hortas, da cozinha molecular com os seus complexos princípios, a influência da gastronomia estrangeira, as fusões culinárias e a sensualidade dos souflés, nunca devemos subestimar o factor preguiça e a dificuldade de fazer uma jantar "super-simples" de "humus com pimentos vermelhos", seguida de uma "tarte de cebolas caramelizadas" e "mini-pavlovas", como aconselha a Nigella.

Thursday 28 February 2008

Catarina de Bragança-duas imagens







Catarina de Bragança em duas pinturas-

Monday 25 February 2008

Arroz de Polvo da Tia Idalina












Ingredientes

Arroz carolino
Um polvo fresco ou congelado
6 cebolas médias
Um dente de alho
Azeite
Um ramo de salsa
Três dedos de vinho tinto de qualidade


Método

Primeiro põe-se a água a fever numa panela de pressão ou normal com uma cebola inteira. Quando estiver a ferver mete-se lá o polvo "até encarquilhar os tentáculos", segundo a Tia Idalina o que demora apenas uns minutos. Retira-se o polvo e deixa-se a água levantar fervura outra vez. Volta-se a colocar o polvo e deixa-se cozer (meia hora na panela de pressão) (uma hora ou uma hora e 15 minutos na panela normal) em lume médio.
Quando o polvo estiver cozido tira-se e corta-se aos bocados e guarda-se a água. Faz-se um refogado com muita cebola, azeite e o dente de alho. Estufa-se o polvo que deve estar agora delicioso e tenro.
Deita-se o vinho e deixa-se evaporar e um raminho de salsa atado com um cordel. Junta-se a água de cozer o polvo ("para ficar malandrinho tem que ser 4 chávenas de água para 1 de arroz, dependendo do número de pessoas. O arroz coze em 15 minutos. Serve-se logo. "O segredo é muita cebola e vinho de qualidade" diz a Tia Idalina.
A acompanhar, tanto se pode beber vinho branco como tinto, mas eu e a Tia Idalina preferimos branco.

Sunday 24 February 2008

Londres-Um Guia Pessoal e Transmissível


Greenwich II

Os meus locais preferidos em Greenwich, Londres SE10, para comprar comida, comer e beber




Creaky Shed, 20 Royal Hill
Uma mercearia fabulosa com uma óptima apresentação (o que é raro) onde se encontram todos os legumes e frutas da estação, em lindos cestos e caixas rústicas além de ervas aromáticas. Aqui há vegetais interessantes como cogumelos variados, beterrabas, cougettes e berngelas bébés. Os donos são simpáticos e sorridentes. Não apetece voltar aos super-mercados, depois de uma visita ao Creaky Shed

Royal Teas 76 Royak Hill
Um café diferente que se especializa em chás e que está decorado com dezenas de frascos de vários tamanhos com chás de aromas penetrantes. A comida é agradável, principalmente bolos e pequenos-almoços, como o vegetariano, com "crudités"e hummus.

Cafe Buenos Aires 86 Royal Hill
O meu café favorito, que é também delicatessen de comida argentina (queijos, pães, pastelaria, chouriços, massas, doces e especialidades latino-americanas). O dono era um fotógrafo tipo "paparazzo" e há inúmeras fotografias de celebridades a rirem ou apenas supreendidas no acto de sair à rua. As sandes de queijo são maravilhosas, assim como o chocolate quente para beber nas grandes poltronas de cabedal e ouvir tangos. Aconselho as "empanadas" de queijo e espinafres.

Cheeseboard, 26 Royal Hill
Uma loja especializada em queijos, que vende pão, tostinhas, bolachas vinhos. Aqui encontram-se queijos ingleses, franceses, suiços, italianos e espanhóis. Por vezes há Saint Marcellin, que eu adoro, mas normalmente compro queijo de cabra com alho e pimenta. Uma delícia.

Fishmonger 73 Trafalgar Road-Circus Street/ rear of 26 Royal Hill
Duas peixarias do mesmo domo que se entitula "Director de Peixe", mas merece o título. A escolha é estonteante. A maioria dos super-meracdos oferecem apenas 4 ou 5 variedades (salmão, bacalhau fresco, atum, truta, camarões). Aqui há lulas, mariscos, tamboril, dourada, robalo, caranguejo, anchovas. O dono e os empregados são doutorados em peixe e aconselham receitas e quantidades ao cliente. A decoração é sofisticada, com gosto e a venda de livros de cozinha e ingredientes que acompanham as espécies píscicolas (limão, alcaparras, ervas, azeites aromatizados, sal, etc..).


Theatre of Wine, 75 Trafalgar Road
Uma loja de vinhos fundada por uma dupla de actores que decidiu explorar a teatralidade do vinho com provas imaginativas e temáticas, não só por região, mas por gastronomia, datas específicas (no dia de S. Valentim era com vinhos que combinam bem com chocolates) combinações interessantes de vinhos, comparações de reservas, vinhos e queijos, etc...Encontram-se aqui vinhos especiais de pequenos e médios produtores de todo o mundo. Uma escolha magnífica de vinhos portugueses, que nunca aparecem nos super-mercados. O dono é uma simpatia e adora ajudar a escolher vinhos para pratos específicos.

Davy´s 161, Greenwich High Road
Um bar-restaurante e loja de vinhos, onde também se fazem provas. O bar é escuro e decorado com mobília antiga, barris e gravuras do século XIX. Um dos poucos sítios onde há vinho do Porto branco sêco. A comida é típica inglesa.

Saturday 23 February 2008

Prosa em vez de Prozac






"One sheds one´s sickness in books"
D H Lawrence

Descobri que existe um programa de incentivo à leitura e de apoio terapêutico no norte de Inglaterra chamado "Bilioterapia", cujo lema é "Prosa em vez de Prozac". Tratam-se de clubes de leitura para grupos de pessoas com problemas psicológicos ou doenças mentais, desde depressão, a ansiedade, a senilidade (aqui a poesia é mais eficaz), dependências, desordens bipolares e outras. A ideia por trás desta iniciativa é que a leitura pode ser uma cura, os livros podem ter um efeito calmante (a mim nada me acalma mais do que estar numa biblioteca ou livraria, rodeada de estantes).
A experiência do grupo ajuda, claro, os participantes a sentirem-se menos isolados mas o facto de que têm que ler um livro para depois o debater distrai-os dos sintomas e o conteúdo é suposto anima-los ou faze-los pensar ou pôr as coisas em perspectiva. O programa "Get into Reading" foi fundado por Jane Davis, editora da revista "The Reader", juntamente com o departamento de saúde mental do Serviço Nacional de Saúde.
Mas a história mais engraçada é que a ideia surgiu a Jane Davis após ter lido o deprimente Shikasta de Doris Lessing (um romance de ficção científica ou realismo mágico) sobre o miserabilismo da condição humana. Davis escreveu à autora a dizer que o livro lhe tinha causado um esgotamento. Doris Lessing, que venceu o prémio Nobel e escreveu dezenas de obras respondeu por carta com um conselho: Leia mais...e a oferecer-lhe dinheiro para comprar livros.
Jane Davis assim fez e compreendeu que os livros aparentemente deprimentes podem ter um papel positivo na nossa sanidade mental.

Livros do Programa "Get into Reading":


Little Women, Louisa M Alcott (as relações de quatro irmãs durante a Guerra Civil americana)

The Kite Runner, Khaled Hosseini (vida no Afeganistão durante o regime dos Talibãs e a fuga que os papagaios de papel proporcionam)


Notes from a Small Island, Bill Bryson (leve e divertido, as impressões de um americano sobre a Inglaterra)


The Lauries, Edith Wharton (o dilema de uma jovem rica na Nova Iorque do início do século XX)

Friday 22 February 2008

Atonement, Ian McEwan

Ainda não vi o filme, nomeado para vários Óscares (incluindo a categoria de Melhor Filme) mas aconselho vivamente a leitura de Atonement, Expiação. Há muitos anos que não lia um livro que além de ser impossível pôr de lado é de uma perfeição perturbante, no estilo, na linguagem, na "voz" ou "vozes" narrativas, na história, nos detalhes, no ambiente, nas emoções que provoca, na densidade das personagens. Expiação é um daqueles livros que não queremos nunca que acabe, em que queremos entrar e em que o próximo livro em que pegarmos vai ser uma desilusão a não ser que seja um clássico de uma qualidade inquestionável. Este romance é pois um clássico instântaneo embora não tenha ganho o prestigiado Prémio Booker.
Ao contrário de muitos livros, Expiação melhora à medida que se vai lendo até à última página.
A acção passa-se em 1935 na mansão da família Tallis. Briony é uma menina mimada de 13 anos e com uma imaginação fértil que quer ser escritora e escreve peças de teatro e pequenos contos. O facto de ela ser escritora é crucial para o autor, Ian McEwan que teve que insistir que este facto fosse incorporado no argumento do filme. Na ânsia da simplificação, o filme pretendia omitir as aspirações literárias da criança, que são no fundo centrais à intriga.
Briony sente-se perturbada com a relação estranha entre a irmã, Cecilia e o filho do jardineiro, Robbie. A vida de várias pessoas é transtornada irremediavelmente com a revelação de que Lola, uma prima de Briony e Cecilia foi violada numa gruta, nas imediações dos jardins da mansão Tallis. Briony acusa Robbie e é esse pecado que terá que expiar para o resto da vida.
A sua precocidade misturada com infantilidade profunda faz com que ela se convença e consiga convencer os outros (com a excepção de Cecilia) e a polícia de que Robbie é um predador sexual.
A premissa é muito simples: Como é que uma mentira consegue destruir tantas vidas, quem é inocente e quem é culpado, quais as diferenças entre os vários tipos de mentiras. Será que o amor ou a promessa do amor é capaz de sustentar os horrores da guerra, da prisão, da infelicidade extrema?
Expiação toca nos grandes temas da vida e da literatura: a absurda desumanização da guerra, as divisões sociais na Inglaterra, a ambiguidade moral. Acima de tudo é sobre o papel da ficção e a ilusão que esta confere de que a realidade pode ser manipulada. O escritor é como um Deus ao moldar e controlar a história e os "fantoches" que são as suas personagens, mas será mesmo assim? Por favor, leiam este livro...

Wednesday 20 February 2008

Londres-Um guia pessoal e transmissível


Greenwich II


Os meus locais preferidos em Greenwich, Londres SE10, para comprar comida, comer e beber



Comer

Creaky Shed, 20 Royal Hill

Uma mercearia fabulosa com uma óptima apresentação (o que é raro) onde se encontram todos os legumes e frutas da estação, em lindos cestos e caixas rústicas além de ervas aromáticas. Aqui há vegetais interessantes como cogumelos variados, beterrabas, cougettes e berngelas bébés. Os donos são simpáticos e sorridentes. Não apetece voltar aos super-mercados, depois de uma visita ao Creaky Shed



Royal Teas 76 Royak Hill

Um café diferente que se especializa em chás e que está decorado com dezenas de frascos de vários tamanhos com chás de aromas penetrantes. A comida é agradável, principalmente bolos e pequenos-almoços, como o vegetariano, com "crudités"e hummus.

Cafe Buenos Aires 86 Royal Hill

O meu café favorito, que é também delicatessen de comida argentina (queijos, pães, pastelaria, chouriços, massas, doces e especialidades latino-americanas). O dono era um fotógrafo tipo "paparazzo" e há inúmeras fotografias de celebridades a rirem ou apenas supreendidas no acto de sair à rua. As sandes de queijo são maravilhosas, assim como o chocolate quente para beber nas grandes poltronas de cabedal e ouvir tangos. Aconselho as "empanadas" de queijo e espinafres.



Cheeseboard, 26 Royal Hill

Uma loja especializada em queijos, que vende pão, tostinhas, bolachas vinhos. Aqui encontram-se queijos ingleses, franceses, suiços, italianos e espanhóis. Por vezes há Saint Marcellin, que eu adoro, mas normalmente compro queijo de cabra com alho e pimenta. Uma delícia.



Fishmonger 73 Trafalgar Road-Circus Street/ rear of 26 Royal Hill

Duas peixarias do mesmo domo que se entitula "Director de Peixe", mas merece o título. A escolha é estonteante. A maioria dos super-meracdos oferecem apenas 4 ou 5 variedades (salmão, bacalhau fresco, atum, truta, camarões). Aqui há lulas, mariscos, tamboril, dourada, robalo, caranguejo, anchovas. O dono e os empregados são doutorados em peixe e aconselham receitas e quantidades ao cliente. A decoração é sofisticada, com gosto e a venda de livros de cozinha e ingredientes que acompanham as espécies píscicolas (limão, alcaparras, ervas, azeites aromatizados, sal, etc..).

Beber

Theatre of Wine, 75 Trafalgar Road

Uma loja de vinhos fundada por uma dupla de actores que decidiu explorar a teatralidade do vinho com provas imaginativas e temáticas, não só por região, mas por gastronomia, datas específicas (no dia de S. Valentim era com vinhos que combinam bem com chocolates) combinações interessantes de vinhos, comparações de reservas, vinhos e queijos, etc...Encontram-se aqui vinhos especiais de pequenos e médios produtores de todo o mundo. Uma escolha magnífica de vinhos portugueses, que nunca aparecem nos super-mercados. O dono é uma simpatia e adora ajudar a escolher vinhos para pratos específicos.


Davy´s 161, Greenwich High Road


Um bar-restaurante e loja de vinhos, onde também se fazem provas. O bar é escuro e decorado com mobília antiga, barris e gravuras do século XIX. Um dos poucos sítios onde há vinho do Porto branco sêco. A comida é típica inglesa,

Tuesday 19 February 2008

"Women Are Never Front-Runners"/Gloria Steinem

Mais um artigo no Times este fim de semana sobre a falta de gosto a vestir de Hillary Cliton (neste caso o crime máximo é um fato castanho) e o contraste com o estilo impecável e o corte superior dos fatos de Barack Obama. Será que esta eleição não passa de um concurso de beleza onde ser jovem e atraente conta mais do que a experiência, a ideologia e o programa político dos candidatos?
Obama continua a insinuar que Hillary não passa de uma mulher irracional e como tal incapaz de tomar as rédeas do país. É uma pena que o lema da mudança, o mantra do fenómeno que é Obama não sirva para lutar por um grupo que só teve direito ao voto 50 anos depois deste ter sido concedido aos homens negros nos Estados Unidos. No debate de 21 de Janeiro Hillary insistiu em falar de igualdade racial e entre os sexos, referindo que enquanto as mulheres recebem salários mais baixos do que os homens, as mulheres negras são as mais prejudicadas.
Este artigo da feminista Gloria Steinem no New York Times vale a pena:
http://www.nytimes.com/2008/01/08/opinion/08steinem.html

Wednesday 6 February 2008

Super Terça-Feira



Democratas em corrida aberta à Casa Branca


Uma das campanhas mais renhidas para a nomeação do partido Democrata e do Partido Republicano para a escolha do candidato à Casa Branca. O moderado John McCain, que alguns ultra-conservadores odeiam mais do que desprezam os Clinton vai claramente à frente. O evangélico Mike Huckabee conseguiu pelo menos cinco estados importantes e alguns analistas acreditam que ele permanece na corrida com a esperança de ser candidato à vice-presidência, como número dois de McCain.
Mas a batalha entre Hillary e Obama está longe de ter terminado. Barack Obama possui o carisma e a capacidade para unificar e motivar o eleitorado e até conseguir que republicanos votem nele, por não estar “contaminado” e apostar na retórica da “mudança”. O movimento espontâneo que ele gerou e o apoio de celebridades e sectores variados da sociedade reforçaram uma candidatura que parecia inicialmente fraca. A comunidade latina, os mais velhos, os eleitores tradicionais e mesmo muitos afro-americanos preferem Clinton. Obama é um fenómeno da classe média instruida, com instrução e uma aberração numa América conservadora, ultra-religiosa e fechada sobre si própria.
Até agora, Obama venceu em 13 estados e Hillary apenas 8, embora a ex-Primeira Dama tenha conseguido ganhar estados cruciais como a Califórnia e Nova Iorque e angariar mais delegados com uma pequena margem. Ambos podem celebrar vitórias com alguma cautela e contenção. Faltam ainda estados como o Texas e o Ohio entre outros. Qual vai ser o factor decisivo na escolha entre uma mulher branca e de meia idade com experiência e tendências maquiavélicas e um homem negro mais jovem que é um enigma? E quem é mais liberal ou conservador. Quem é mais de “esquerda”, se quisermos?


Aborto: Hillary é pró-escolha e votou em várias leis nesse sentido
Obama não apareceu para votar em diversas situações controversas em leis relativas ao aborto, defendendo que “as mulheres devem ter o direito a escolher juntamente com o seu médico, a sua família e o clero”

Economia: Hillary quer combater as desigualdades sociais, cortar benefícios fiscais a empresas e investir na criação de postos de trabalho
Obama quer ajudar a classe média, reformar o sector da saúde e educação

Iraque: O grande trunfo de Obama, que votou desde o início contra a guerra, embora tenha também aprovado um aumento dos fundos financeiros a serem aplicados nas operações militares no iraque
Hillary apoiou a invasão, que depois admitiu ter sido um erro. Votou contra o reforço das tropas e defende uma estratégia de retirada gradual

Segurança: Posições muito semelhantes. Hillary apoiou as “Leis patriotas” que dão poderes sem precedentes às autoridades para investigarem e suprimirem o que interpretam como terrorismo. Obama votou contra esta legislação, mudando depois de ideias

Aquecimento global: Hillary concorda com um limite às emissões de dióxido de carbono por parte dos Estados Unidos, investimento em tecnologias “verdes” e regras mais rígidas para indústrias poluentes. Obama defende um um corte de 80% nas emissões de gases que causam o aquecimento do planeta até 2050, quer que os Estados Unidos se tornem a nação que lidera os esforços para facer face às mudanças climatéricas

Saúde: Um tema fundamental da política interna. Ambos defendem acesso universal ao sistema de saúde, já que só os que têm seguros privados podem pagar tratamentos e medicamentos (Muitas seguradoras tentam encontrar maneiras de não dar cobertura, como mostrou Michael Moore no documentário "Sicko"). Quando era Primeira Dama, Hillary tentou implementar uma reforma que daria acesso ao sistema de saúde aos mais pobres, que foi considerada um falhanço, devido a bloqueios políticos, principalmente por parte dos Republicanos

Emigração ilegal: Políticas parecidas de reforma das leis de emigração, intensificação do controlo das fronteiras, penalização dos que contractam emigrantes ilegais e apoio de atribuição de cidadania para clandestinos em determinados casos

Fonte: BBC