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Tuesday, 1 July 2008

O centro ou o abismo para quem quer ser um reformador?




Como nunca fui apoiante incondicional de Obama não me supreende nem me desilude por aí além que ele tenha mudado de ideias numa série de políticas, na ânsia sôfrega de captar votos e mostrar-se um candidato mais moderado e do "centro". É isso que faz a maioria dos políticos. O problema é que Obama é supostamente diferente e um reformador, capaz de galvanizar o povo e inspirar a nova geração.

Quando ninguém sabia quem ele era, o senador de Illinois defendeu que as campanhas partidárias deviam ser financiadas pelos cofres públicos e que deviam ser estabelecidos limites claros ao angariamento de fundos. Agora, como candidato do Partido Democrata e o político que mais dinheiro conseguiu arrecadar na história das campanhas políticas norte-americanas, Obama decidiu que as contribuições privadas e sem limites fixos são perfeitamente aceitáveis.

Mais grave é o facto de Barack Obama ter voltado atrás em posições como o controlo das armas de fogo e a oposição à pena de morte, assuntos que mostravam as suas credenciais progressistas. A questão é que a direita conservadora nunca vai votar nele e os milhões que o idoltram pelo que ele representa (ou a ideia abstracta do que acreditam que ele simboliza) o seu carisma, capacidade de inspirar gente apolítica vão ficar cada vez mais desiludidos. A estratégia da "moderação", se é isso que significa a pena de morte, não funcionou para Al Gore, nem para John Kerry...

Friday, 20 June 2008

A vida depois de Hillary

Depois da desistência de Hillary Clinton, o Partido Democrata quer apenas mostrar uma frente unida e esperar que a "Obama-mania" não dê lugar à fadiga face a um candidato que é quase "bom demais para ser verdade". E quem será número 2? Al Gore demorou até vir a público apoiar Obama, mas está claramente a fazer-se ao lugar...

Saturday, 10 May 2008

Hillary não desiste

A maioria dos comentadores aponta que é impossível para Hillary Clinton ganhar a nomeação do Partido Democrata, após as últimas primárias. Não só Barack Obama venceu em mais estados, com percentagens mais elevadas, mas está a angariar cada vez mais apoios entre os super-delegados. A campanha está falida, os membros do partido preferem Obama, o arrastar da batalha interna beneficia os republicanos. Porque é que a mulher não se cala e desaparece, grita um coro de vozes, que a equiparam a Glenn Close no filme Atracção Fatal.
Contudo, Hillary não desiste. Com um número superior de super-delegados, as sondagens indicam vitórias para Clinton em estados que ainda não votaram. A candidata espera que a recontagem dos votos no Michigan e Florida que foram anulados revitalizem-na e reforçem a sua estratégia de avançar até à convenção do partido em Agosto. Obama não convence o eleitorado completamente e alguns duvidam que ele possa fazer face a John McCain. Uma gaffe ou escândalo catastróficos por parte de Obama são a única salvação para a campanha de Hillary.

Thursday, 24 April 2008

A gaffe de Obama na Pensilvânia "Tacanha"


Os Democratas da Pensilvânia responderam à gaffe de Barack Obama ao dar uma vitória inequívoca a Hillary Clinton (10% de vantagem), fazendo assim com que a corrida à nomeação se arraste mais uns meses. Para os que ainda não notaram, Obama não é perfeito e o messias que vai salvar os Estados Unidos e o mundo após oito anos de governo Bush. Carismático, capaz de inspirar uma geração apática e bem-falante, o candidato “distraiu-se” e disse a uma audiência de empresários em São Francisco que a classe baixa na Pensilvânia era “amarga” e tacanha, que reage à falta de oportunidades económicas e socais virando-se para a posse de armas de fogo, a religião fanática e a xenofobia. Estes comentários mostram o que muitos já suspeitavam: Barack Obama não é um filho do povo. Como a maior parte dos políticos nos Estados Unidos é elitista, assim o descreveu o candidato Republicano, John McCain. Obama frequentou colégios e universidades de luxo, movimentando-se num meio culto, instruído e rico. Alguns acusam-no de estar desfazado da realidade da populaça americana, com a sua mentalidade ultra-conservadora, crença evangélica e medo-desprezo pelos valores urbanos e “estrangeiros”.

Os eleitores Democratas vão às urnas no dia 6 de Maio na Carolina do Norte e em Indiana, onde se espera que Obama recupere a vantagem sobre a sua adversária.
Contudo, são os “super-delegados” que votam no Congresso em Agosto que irão fazer a diferença. Analistas políticos têm referido que Hillary ganha nos estados importantes e cruciais para que o partido possa derrotar McCain.

O poder dos blogues


No entanto, os comentadores pensam que para Obama perder a nomaeção terá que cometer erros consideráveis. Uma lição que ele aprendeu no evento onde fez os tais comentários infelizes é a não ignorar os chamados cidadãos-jornalistas.
Ao fazer o discurso a um grupo de empresários californianos com o intuito de angariar fundos para a sua campanha, Obama pensou que podia estar à vontade, já que o evento era vedado à imprensa. Só que Mayhill Fower de 61 anos e uma “blogger” do “Huffington Post” estava presente.
Hoje em dia com o avanço da blogosfera, os meios de comunicação não só não podem ser controlados como como têm que repensar questões éticas. O mais interessante é que Mayhill é apoiante de Obama e contribui até dinheiro para a campanha. Ao gravar os comentários do candidato e ao aperceber-se do seu potencial para afectar a sua imagem quase imaculada, a “blogger” (bloguista?) questionou o que deveria fazer. Para a editora do “Huffington Post” não havia dúvida de que deontologicamente não se pode cobrir uma campanha e ocultar as facetas negativas dos políticos conforme as nossas convicções (também ela apoia entusiasticamente Obama). E assim, a gaffe, a grande “cacha do “Huffington” passou da blogosfera para outros meios de comunicação social.

Thursday, 6 March 2008

Mais perto de um "dream ticket"?


Hillary venceu no Texas, Ohio e Rhode Island (que apesar de ser um daqueles estados minúsculos do Leste dos Estados Unidos, é considerado um bastião de activismo Democrata).


A senadora de Nova Iorque tem sido alvo de inúmeros ataques às mãos dos meios de meios de comunicação social e da campanha de Obama, tendo por sua vez optado por tácticas mais agressivas que podem podem vir a ter consequências negativas para o partido, cada vez mais dividido. Um anúncio recente em tempo de antena da campanha Clinton procura reforçar a ideia de que os Estados Unidos e o mundo estão em perigo se Hillary não estiver na Casa Branca. O anúncio na televisão mostra duas crianças a dormir e um telefone a tocar num ambiente de "suspense": "Quando o telefone toca a meio da noite na Casa Branca, quem é que voçê quer que atenda?". O seja, o sono dos justos só pode ser protegido por uma presidente com experiência.

Muitos analistas políticos acusam Clinton de querer mudar as regras do jogo, por ela ter dito que estas últimas vitórias mostran que é ela que ganha nos grandes estados, "naqueles que verdadeiramente contam". Os grupos de apoio da ex-primeira Dama são os mais velhos, os mais pobres, os latinos, as mulheres (brancas) os mais Democratas, no sentido em que Obama atrai independentes e gente despolitizada e até Republicanos, além dos mais instruídos, o voto negro e etc...O argumento da campanha de Clinton agora é que a sua base de apoio é crucial para uma vitória contra o Senador John MCain que assegurou esta semana a nomeação do Partido Republicano. A corrida Democrata continua aberta e poderá assim permanecer até à convenção do partido no Verão. Até lá esperemos que os candidatos se portem com dignidade para termos um "dream ticket", uma candidatura de sonho com Hillary à cabeça e Obama como vice-presidente.
Uma nota de interesse:
Ao contrário de campanhas passadas, esta trava-se também na internet (em blogs, no Youtube, nas redes de interacção). Pelo menos nenhum dos dois polítics anuncia centenas de milhares de "amigos", referindo-se às pessoas na sua rede de contactos como "apoiantes".
Página dos candidatos no Myspace
Página dos candidatos no Facebook

Tuesday, 4 March 2008

Uma mulher de substância

Em poucas horas saberemos se a candidatura de Hillary Clinton chegou ao fim. Hoje votam os estados decisivos do Texas e Ohio. Os analistas procuram razões para a queda de popularidade da Senadora de Nova Iorque. Erros de estratégia e de organização da campanha, angariação incompleta de fundos, a falta de um plano B para responder ao fenómeno em torno de Obama ou a “Obama-mania”, ataques e propaganda negativa contra o seu rival, "bagagem" dos anos 90 e da presidência do marido, Bill Clinton ou factores associados à personalidade e apresentação de Hillary. Os meios de comunicação têm sido implacáveis e criticam-na principalmente pela escolha das roupas, corte de cabelo e tom de voz estridente mais do que pelo conteúdo dos seus discursos e retórica nas dezenas de debates em que participa.
Ninguém contesta que Hillary é uma mulher inteligente, com experiência e substância. Mas isso normalmente é visto com suspeita e ela é acusada de ambição desmedida, de ser demasiado masculina e de ter uma sede insaciável de poder. A mensagem pouco conta face a uma candidatura como a de Obama. Aguardamos notícias do outro lado do Atlântico.

Wednesday, 6 February 2008

Super Terça-Feira



Democratas em corrida aberta à Casa Branca


Uma das campanhas mais renhidas para a nomeação do partido Democrata e do Partido Republicano para a escolha do candidato à Casa Branca. O moderado John McCain, que alguns ultra-conservadores odeiam mais do que desprezam os Clinton vai claramente à frente. O evangélico Mike Huckabee conseguiu pelo menos cinco estados importantes e alguns analistas acreditam que ele permanece na corrida com a esperança de ser candidato à vice-presidência, como número dois de McCain.
Mas a batalha entre Hillary e Obama está longe de ter terminado. Barack Obama possui o carisma e a capacidade para unificar e motivar o eleitorado e até conseguir que republicanos votem nele, por não estar “contaminado” e apostar na retórica da “mudança”. O movimento espontâneo que ele gerou e o apoio de celebridades e sectores variados da sociedade reforçaram uma candidatura que parecia inicialmente fraca. A comunidade latina, os mais velhos, os eleitores tradicionais e mesmo muitos afro-americanos preferem Clinton. Obama é um fenómeno da classe média instruida, com instrução e uma aberração numa América conservadora, ultra-religiosa e fechada sobre si própria.
Até agora, Obama venceu em 13 estados e Hillary apenas 8, embora a ex-Primeira Dama tenha conseguido ganhar estados cruciais como a Califórnia e Nova Iorque e angariar mais delegados com uma pequena margem. Ambos podem celebrar vitórias com alguma cautela e contenção. Faltam ainda estados como o Texas e o Ohio entre outros. Qual vai ser o factor decisivo na escolha entre uma mulher branca e de meia idade com experiência e tendências maquiavélicas e um homem negro mais jovem que é um enigma? E quem é mais liberal ou conservador. Quem é mais de “esquerda”, se quisermos?


Aborto: Hillary é pró-escolha e votou em várias leis nesse sentido
Obama não apareceu para votar em diversas situações controversas em leis relativas ao aborto, defendendo que “as mulheres devem ter o direito a escolher juntamente com o seu médico, a sua família e o clero”

Economia: Hillary quer combater as desigualdades sociais, cortar benefícios fiscais a empresas e investir na criação de postos de trabalho
Obama quer ajudar a classe média, reformar o sector da saúde e educação

Iraque: O grande trunfo de Obama, que votou desde o início contra a guerra, embora tenha também aprovado um aumento dos fundos financeiros a serem aplicados nas operações militares no iraque
Hillary apoiou a invasão, que depois admitiu ter sido um erro. Votou contra o reforço das tropas e defende uma estratégia de retirada gradual

Segurança: Posições muito semelhantes. Hillary apoiou as “Leis patriotas” que dão poderes sem precedentes às autoridades para investigarem e suprimirem o que interpretam como terrorismo. Obama votou contra esta legislação, mudando depois de ideias

Aquecimento global: Hillary concorda com um limite às emissões de dióxido de carbono por parte dos Estados Unidos, investimento em tecnologias “verdes” e regras mais rígidas para indústrias poluentes. Obama defende um um corte de 80% nas emissões de gases que causam o aquecimento do planeta até 2050, quer que os Estados Unidos se tornem a nação que lidera os esforços para facer face às mudanças climatéricas

Saúde: Um tema fundamental da política interna. Ambos defendem acesso universal ao sistema de saúde, já que só os que têm seguros privados podem pagar tratamentos e medicamentos (Muitas seguradoras tentam encontrar maneiras de não dar cobertura, como mostrou Michael Moore no documentário "Sicko"). Quando era Primeira Dama, Hillary tentou implementar uma reforma que daria acesso ao sistema de saúde aos mais pobres, que foi considerada um falhanço, devido a bloqueios políticos, principalmente por parte dos Republicanos

Emigração ilegal: Políticas parecidas de reforma das leis de emigração, intensificação do controlo das fronteiras, penalização dos que contractam emigrantes ilegais e apoio de atribuição de cidadania para clandestinos em determinados casos

Fonte: BBC

Tuesday, 29 January 2008

Será que Bill quer sabotar Hillary?



Na minha opinião o machismo poderá ser um factor mais prevalente do que o racismo na eventual escolha do candidato à nomeação Democrata. Hillary Clinton terá que se confrontar com poderosos inimigos não só na direita neo-conservadora, como no seio dos Democratas que acham que uma mulher é menos capaz do que um homem. Como já referi, nos comícios da ex-primeira Dama há homens que gritam para ela lhes fazer o jantar ou engomar camisas. Mas será que o próprio marido lhe está consciente ou inconscientemente a sabotar a campanha? Primeiro adormeceu num sermão numa igreja, que deve ter sido chatíssimo no dia de homenagem a Martin Luther King (a mensagem não é mais positiva) e nas últimas semanas tem atacado Barack Obama de um modo tão agressivo que lhe está a entregar a vitória de bandeja. Além de ter vencido na Carolina do Sul, Obama conta agora com um apoio de peso: Edward Kennedy, irmão do presidente assassinado nos anos 60 e um ícon do partido assim como outros dois membros do "clã" Kennedy vieram a público dizer que Obama é o candidato da nova geração. Uma das razões pelas quais a respeitada elite democrata decidiu escolher Barack em vez de Hillary são os ataques, o tom de Bill Clinton e o facto ede ter introduzido o "tema raça" na corrida eleitoral. Também a escritora afro-americana, vencedora do prémio Nobel, Toni Morisson retirou o apoio à senadora de Nova Iorque apostando em Obama. E não esqueçamos que ela tinha declarado que "clinton foi o primeiro presidente negro" nos Estados Unidos, tais eram as suas credenciais de integração racial. Ou seja Bill Clinton, que era considerado o grande trunfo de Hillary está a tornar-se num empecilho e embaraço...será que é porque não lhe agrada o papel secundário de esposo?



Tuesday, 22 January 2008

Política e religião na corrida à Casa Branca





Muitos são os que pensam que o próximo presidente dos Estados Unidos dificilmente será pior do que George W. Bush. Na semana passada, uma sondagem de opinião ABC/Washington Post mostrava que a popularidade de Bush caiu abaixo dos 33%, a percentagem mais baixa desde que tomou as rédeas do poder em Janeiro de 2001. Nixon e Carter conseguiram ser ainda mais impopulares, mas nunca um presidente gerou a controvérsia, a ridicularização, a incongruência verbal, o absurdo a que Bush nos habitou nestes perigosos e conturbados anos.
Contudo, há dois candidatos à nomeação republicana que poderão vir a competir com o texano no capítulo das polémicas domésticas e internacionais. Mike Huckabee e Mitt Romney, ambos profundamente religiosos, de direita, pela defesa do “lobby” pró-armas, contra o aborto, contra os direitos dos homosexuais, pela “independência e segurança no sector da energia”, o que pode significar uma continuação da desastrosa política ambiental de Bush.
Mas convém distinguir entre Huckabee, ex-pastor da Igreja Baptista evangélica, que se pode argumentar ser fundamentalista cristão e o milionário Romney, que é Mormon, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Romney, que era governador do Massachusets mudou a posição face a alguns dos assuntos referidos anteriormente, tendo se tornado ainda mais conservador, partindo inicialmente de uma posição algo aberta e ambígua, num estado que é considerado bastante progressista.
Huckabee apela à chamada “Bible belt”, a região sudeste dos Estados Unidos, com fortes raízes protestantes, onde a prática da religião é ferverosa e intrínseca à cultura local. O ex-pastor e governador do Arkansas defende que “o papel da religião deve ser reforçado e “trazido para a esfera pública”. Huckabee comparou a homosexualidade à bestialidade e nega o evolucionismo, acreditando que a terra foi criada por Deus após o dilúvio há 10 mil anos. O desprezo pela ciência e o racionalismo está a ganhar cada vez mais adeptos nos Estados Unidos e não só.
Mas, o mais preocupante é que a doutrina do criacionismo seja ensinada nas escolas. (De pequeno se fanatiza o pepino). Os baptistas interpretam a bíblia de maneira literal e vêem como heresia ou blasfémia quaisquer divergências. E é aqui que surge o principal problema de Romney. Mau-grado ser visto como um sucesso em termos de gestão dos projectos a que esteve associado, como governador, em termos capilares (um dos pontos mais importantes para qualquer candidato que se preze. Não é por acaso que o Democrata, John Edwards gastou mais de 200 Euros num corte de cabelo) o facto de ser mormon é catastrófico para as suas aspirações políticas. O mormonismo é considerado um “culto”, no sentido pejorativo da palavra, fora da tradição cristã embora seja na verdade uma seita, na medida em que é como as Testemunhas de Jeová ou Adventistas do Sétimo Dia, um movimento separatista face a uma tradição protestante. Os mormons não aceitam a divina trindade, alguns praticam a poligamia e vivem em comunidades segregadas, além de acreditarem num Testamento alternativo (o Livro de Mormon) que conta que Jesus Cristo esteve nos Estados Unidos (em pesssoa) e dizem ter os arquivos genealógicos mais completos do mundo (para a salvação e baptismo de almas).
Quem será mais indicado para a Casa Branca? Do lado Democrata, os Metodistas Unidos (maior denominação protestante do país), Clinton e Edwards, o protestante da Igreja Unida de Cristo, Obama? Do lado Republicano temos o evangélico baptista Huckabee, o mormon Romney, o também evangélico bastista McCain ou o católico Giulliani? Mais chocante do que um candidato ser negro, do sexo feminino, divorciado (Giulliani vai no terceiro casamento) será um candidato que tiver a coragem de ser agnóstico ou ateu num país onde o fundamentalismo cristão é galopante.

Friday, 11 January 2008

Hillary Clinton e a Misogenia Reinante



Apesar de as eleições norte-americanas não serem um tema óbvio para este blogue, serão acompanhas aqui, já que 2008 é um ano crucial com a escolha de um novo presidente, após oito anos de administração Bush. Esta corrida presidencial a todos diz respeito e tem impacto a nível global. O novo líder tomará decisões, que claro afectam o futuro de 300 milhões de americanos. Será que finalmente será implementado um sistema de saúde universal, será que as divisões politícas, económicas, socais e raciais poderão ser ultrapassadas, será que o cinismo, as desconfiança e desprezo pelo processo político poderão dar lugar a um novo optimismo, são as grandes questões. O próximo residente da Casa Branca vai herdar um difícil legado de intervenções militares falhadas, uma economia em queda e má vontade geral perante uma super-potência que se recusa a fazer face aos desafios do aquecimento global e cuja política externa contribuiu para radicalizar e alienar gente desde o Paquistão ao Iraque. Muito tem sido escrito e dito sobre o duelo Democrata entre o suposto "primeiro negro" e a suposta "primeira mulher", o que em si só paternalista é sintomático de como estes grupos tão dominantes em termos populacionais foram mantidos à margem do sistema político de Washington.
Hillary Clinton, a ex-primeira dama venceu as primárias para a nomeação do Partido Democrata em New Hampshire e logo se construiu uma narrativa em torno do facto de ela ter "quase chorado" e ter conseguido conquistar eleitoras, quando a maioria das sondagens indicam que as mulheres preferem Barack Obama. A célebre apresentadora de "talk shows" que se transformou numa influente "marca", Oprah também prefere Obama, mas as suas credenciais são duvidosas (apoiante do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger).
Os ataques a Hillary Clinton são incessantes e raramente políticos homens são acusados dos mesmos crimes: terem rugas, terem excesso de peso, terem um penteado fora de moda ou vestirem-se mal. Estas críticas são feitas de maneira mesquinha e revelam um ódio e desprezo misógino.
A senadora do estado de Nova Iorque não é apenas a ex-mulher do mulherengo Bill Blinton, humilhada em público, ridicularizada e penalizada por ter dito que o seu objectivo "não era fazer bolos" e não ter mudado o nome quando casou com Bill, como qualquer primeira dama que se preze. Ao contrário de Laura Bush, Hillary Rodham Clinton não existe para enfeitar e sorrir. Leal ao marido, sim, mas com um carisma, uma garra e inteligência a que não estamos habituados. Hillary Clinton faz discursos na campanha com homens na multidão que gritam "vai para casa fazer o jantar". Li artigos em que jornalistas (homens) simpatizam, com o pobre Bill Clinton por ter que viver com uma mulher tão masculina e mandona que o proibiu de comer pizzas e hamburgers e de fumar. Não admira que ele tenha tido tantas amantes...Outros escrevem que se ela ganhar será por causa do marido e da sua popularidade. É este o nível da análise política sobre a candidatura de uam mulher que tem a audacidade de não ser nova e cretina.
Os meios de comunicação descrevem-na ou como mulherzinha choramingona, emocional (um dos piores pecados para uma mulher no mundo dos negócios ou da política) incapaz e incompetente ou como "robot" desumana, fria e calculista. Bush pode chorar, Giulliani derramou muitas lágrimas e futebolistas e desportistas passam o tempo com a cara encharcada, tal é a sua dor ao perder ou ganhar. Em público, as mulheres normalmente não podem e não devem chorar, porque logo aparece alguém que vem dizer que são as "hormonas", a Tensão Pré-Menstrual ou a menopausa.
No caso de Hillary, o cinismo da imprensa interpretou aquele momento de vulnerabilidade como uma encenação estudada para cativar o eleitorado feminino, que claro é tão pouco sofisticado que se sente atraído apenas pelos fatos de bom corte, o sorriso e beleza de Barack Obama.
Apesar de toda a onda de entusiasmo em redor de Obama, Clinton como animal político que é teve que apertar com ele e lembrar que as recentes comparações com J.F. Kennedy são absurdas, que Obama não passou décadas no senado, nunca dirigiu nenhuma empresa ou organização, nem é veterano de guerra como o era, o idolatrado presidente assassinado em 1963. Após ter perdido em Iowa, Clinton não ganhou em New Hampshire porque lhe tremeu a voz, mas porque é uma lutadora com uma retórica realista, que sabe que as palavras mais gastas em campanhas eleitorais são "mudança" e "esperança".