Tuesday 2 November 2010

Brownies do Jamie Oliver

Tenho feito esta receita várias vezes e é infalível. Funciona muito bem com cerejas, nozes ou frutos secos que se queiram adicionar. Para o Halloween fiz umas decorações em açucar cor de laranja a imitar abóboras para pôr em cada brownie. São relativamente fáceis, deliciosos e congelam-se bem ou duram uns bons dias em caixa de latão ou em recipiente de plástico. Aquecidos no micro-ondas com gelado por cima são divinais. Cada vez gosto e admiro mais o Jamie Oliver que criou esta receita para o restaurante dele, 15, um dos seus projectos sociais em que jovens sem-abrigo e de meios pobres são treinados nas artes culinárias.

Ingredientes:
250g manteiga sem sal
200 chocolate preto (pelo menos 70% de cacau) de boa qualidade
80g de cacau em pó peneirado
65g farinha peneirada
1 colher de chá de fermento
350 g de açucar (eu ponho 300 e já cheguei a pôr 250 para brownies menos doces)
4 ovos

Método
Forre uma forma com papel para bolos e aqueça o forno a 180 graus.
Em banho maria, derreta o chocolate e a manteiga
Numa taça grande misture o cacau, a farinha e o fermento, adicione a mistura de chocolate e manteiga derretida e mexa bem (eu uso uma batedeira eléctrica)
Junte os ovos um a um e mexa até obter uma consistência macia.
Deite na forma e coza 25 minutos. Ao contrário de outros bolos, o garfo não tem que vir limpo, porque os brownies querem-se moles por dentro.
Deixe arrefecer e corte em quadrados

Tuesday 12 October 2010

Booker Prize 2010

Será hoje anunciado o vencedor do prestigioso prémio literário "Booker". A lista de seleccionados é a seguinte:
Peter Carey-Parrot and Olivier in America
Emma Donoghue-Room
Damon Galgut-In a Strange Room
Howard Jacobson-The Finkler Question
Andrea Levy-The Love Song
Tom McCarthy-C

Monday 4 October 2010

A sombra do que fomos, Luis Sepúlveda

"Quando regressaste do exílio? Quis responder que do exílio não se regressa, que qualquer intenção de o fazer é um engano, uma tentativa absurda de habitar um país guardado na memória. Tudo é belo no país da memória, não há tremores e até a chuva é grata no país da memória"

Sunday 3 October 2010

Sunday 15 August 2010

Serões da Província-Corridas de sapos

Um amigo nosso que veio ficar cá em casa ontem à noite e mora em Londres sugeriu que eu escrevesse um blogue sobre a minha aldeia. A verdade é que este blogue já existe e as crónicas "Serões da Província" devem ser actualizadas. Cá vai:


A aldeia continua completamente adormecida e imersa numa bruma já quase outonal. O tempo esteve razoável até meados de Julho, mas depois decidiu que estamos na Inglaterra e não convém termos ilusões mediterrânicas. Não há perigo disso, pois tem chovido quase todos os dias e à noite faz uma arajem fria. A grande novidade é que o padre foi promovido a bispo (anglicano) e vai para Bristol, levando com ele a mulher e crianças que vi na festa da aldeia. Este foi o acontecimento do ano, com pequenas tendas a vender doces de fruta e bolos, jogos e uma mostra de tractores que entusiasmaram muitos miúdos e graúdos. Foi o meu segundo evento na aldeia, após uma estranha noite numa "gala" de caridade para angariar fundos para a escola. Havia uma separação entre a "creme de la creme" da terra, com o vigário, os médicos, o "senhor feudal" do sítio e o povo. Algumas senhoras estavam de vestidos compridos, mau-grado o frio , a chuva e o facto de estarmos numa espécie de barracão a assitir a um rídiculo leilão de sapos de cartolina. Para cada corrida dos tais sapos, tinhamos que apostar num deles e depois puxar uns cordéis para ver que sapo ganhava. Foi uma das noites mais aborrecidas e insólitas da minha vida. O pessaol da aldeia estava entusiasmadissimo, até que a electricidade foi abaixo e tivemos que comer à luz das velas e tentar vislumbrar os sapos. Houve discursos e falou-se da coragem e do espírito de perseverança dos aldeões, na face da adversidade e tudo por uma boa causa, como se em vez de ter faltado a luz por causa duma tempestade, estivessem a ser bombordeados pelos Nazis.
Outra grande novidade, mas que não surpreende ninguém é a venda do pub, . Este estabelecimento demora várias horas a servir uma sanduiche, diversas vezes não tem água gaseificada, coca-cola ou bebidas que não sejam alcoólicas, até porque é gerido por um senhor embriagado e mal-encarado que não gosta de ter clientes e prefere beber a tarde inteira em silêncio com um homem com ar campónio e t-shirt a dizer Los Angeles que está sempre sentado ao pé do bar. Vai-se lá saber onde irá passar os dias quando o pub arranjar comprador.
Entretanto um grupo amador está a tentar montar uma peça de teatro e houve uma zaragatazita entre os organizadores de um concerto de música clássica na igreja e um comité para debater obras a fazer na paróquia porque as datas dos eventos coincidiam. É assim a vida de uma aldeia movimentada. Em Setembro vai haver um concurso de vegetais que vão competir em termos de tamanho e aparência geral. Infelizmente não vou cá estar...

Friday 23 July 2010

Casacos de peles e homofobia

Ontem vi um filme inacreditável com o Cary Grant e a Doris Day. Apesar de adorar o Cary Grant, que personifica o carisma, o estilo, o humor da época e gostar imenso de ver filmes passados numa altura em que beber cocktails ao almoço é considerado normal e as pessoas se vestiam bem e tinham telefones verdes limão (no caso deste filme particular) fiquei estupefacta com a mensagem do "That touch of mink" de 1962. Estava-se a entrar nos anos 60 e este filme mostra tudo o que aterrorizava a mentalidade conservadora dos Estados Unidos no dealbar da revolução social que ocorre nesta década: A desintegração da família, a emancipação das mulheres, a existência de outras relações que não as tradicionais, a possibilidade de outros pontos de vista.
Cary Grant é um homem de negócios de sucesso, Doris Day é uma secretária desempregada provinciana, com valores sólidos que se enamora dele. Ora, Cary Grant não quer casar, mas quer dormir com ela, tentando seduzi-la com jantares, viagens às Bermudas e casacos de pele. Este filme desaprova seriamente do sexo antes do casamento e tenta mostrar de uma maneira divertida com uma série de peripécias, em que a secretária tenta escapar-se aos truques do Cary Grant, uma das vezes dizendo-lhe até que tinha "um tio socialista", uma revelação destinada a dissuadi-lo de tentar partilhar o leito antes de ter a aliança firmemente no dedo. Antecipando as comédias românticas em que as mulheres não passam de umas tontas, que só fazem disparates e pensam em casamentos, Doris Day que não está muito interessada em trabalhar, fica inebriada com as fatiotas (de facto deslumbrantes) e os casacos de pele (dispenso).
Mas o mais chocante é uma personagem secundária, Roger, o melhor amigo, assistente de Cary Grant que reforça a comédia com alguns comportamentos absurdos. Um mal-entendido com o psiquiatra que o trata há anos faz com que este pense que Roger está envolvido com o patrão. O que é sinistro é o analista achar que Roger está completamente louco e destabilizado, que tem continuar a análise "mas com outro terapeuta". O psiquiatra decide que tem que estudar mais em Viena, o berço de Freud, sendo o caso tão sério. Roger continua a falar de Cary Grant e a contar do casamento (como calculam ele cede e casa com Doris Day) o que tem um efeito cómico, por parecer que é ele que casa com Grant, mas ao mesmo tempo mostra como a homosexualidade era vista como uma condição psiquiátrica grave. A grande ironia é que Grant era bisexual, segundo um dos seus biógrafos. Apesar de ter casado cinco vezes, viveu 12 anos com um actor amigo, Randolph Scott. Com uma infância extremamente infeliz e sob uma enorme pressão de Holywood, é possível que ele, como outros tenham tido que fingir serem heterosexuais, participando até em filmes homofóbicos.

Friday 16 July 2010

Pãezinhos com chouriço

Nunca tive muito jeito para pães e bolos e a minha avó costumava dizer que eu não "tinha mão para massas". 20 e tal anos em dietas causaram-me uma séria fobia de açucares e hidratos de carbono, que agora ultrapassei. Enquanto que para fazer entradas e pratos principais pode-se inventar e não seguir receitas à risca, para fazer sobremessas, bolos e pães, as medidas têm que estar absolutamente correctas. Com esta nova atitude científica perante a arte de amassar e da pastelaria e doçaria, iniciei-me talvez numa paixão que pode durar uma vida inteira. Demora horas, mas é relaxante e não há nada como comer pão acabado de fazer.

Estes pães são deliciosos e relativamente fáceis.


6 Pãezinhos médios

Ingredientes:

meio quilo de farinha e mais 200 gr para amassar

1 colher de chá de fermento

3 colheres de sopa de açucar

3 colheres de sopa de sal

2 ovos e uma gema à parte

meio copo pequeno de água

meio copo pequeno de leite

Rodelas de chouriço


Método:
Acenda o forno a 180 graus.
Coloca-se a farinha peneirada numa taça grande e mistura-se com o fermento açucar e sal, faz-se um buraco no meio e adiciona-se o leite e a água, incorporando bem, depois junta-se os ovos, mexendo sempre. Deixa-se a massa descansar durante meia hora tapada. Amassa-se a seguir, em superfície enfarinhada e juntando o resto da farinha até obter uma consistência elástica, mas ainda mais para o líquido. Fazem-se bolinhas, pondo rodelas de chouriço no interior de cada pão e pincela-se com a gema de ovo. Leve a forno quente durante 20 minutos em tabuleiro polvilhado de farinha.

Tuesday 29 June 2010

Tapenade/pasta de azeitona

Costumava comer tapenade quando estava em Lyon, França e ia aos restaurantes do Paul Bocuse, em torno das regiões gastronómicas francesas, o sul, norte, Este e Oeste. Le Sud era o meu preferido já que oferecia comida da Provença, mais leve, com algumas opções vegetarianas, o que era raro em Lyon. Esta receita de tapenade é muito simples e é deliciosa com pão ou tostas.

Ingredientes:
300 gr de azeitonas pretas descaroçadas
5 colheres de sopa de azeite,
salsa
50gr de anchovas em azeite

Método:
Bata com a varinha mágica, deite um fio de azeite por cima e sirva

Sunday 6 June 2010

Cheesecake de limão



Ingredientes

4 limões
300 gr leite condensado
150 gr natas
200 gr cream cheese, queijo creme tipo philadelphia
100 gr bolachas
75 gr manteiga

Método

Colocar as bolachas num saco de plástico transparente e bater com o rolo da massa até ficarem em migalhas. Derreter a manteiga ao lume e juntar as bolachas esmigalhadas, aquecer até começarem a endurecer.

Tirar do lume e pôr numa forma com "fundo falso" e fazer uma base alisando com uma colher.
Bater as natas, queijo e leite condensado com sumo dôs limões e com raspas de casca de limão até obter uma mistura cremosa e homógenea. Espanhar por cima da da base de bolachas e alisar com uma faca. Põr no frigorífico durante a noite para alcançar a consistência certa. No dia seguinte, retirar com cuidado a forma, tendo cuidado para não despegar a base do creme. Deitar casca de limão ralada em cima e servir.

Friday 7 May 2010

Impasse eleitoral e do poleiro não saio

Os britânicos foram às urnas ontem e ninguém ganhou, dizem os comentadores políticos e a comunicação social, embora estejamos ainda à espera dos últimos resultados. Na realidade, o Partido Conservador venceu sem maioria absoluta. Isso significa, neste estranho sistema, que o actual Primeiro-ministro, o Trabalhista Gordon Brown pode continuar no governo. Não foi eleito, tendo ascendido ao poder quando Tony Blair se demitiu e tendo evitado convocar eleições por não ter pressa nenhuma de legitimar o seu cargo, Brown não parece inclinado a aceitar a derrota e apresentar a demissão à Rainha, que por seu lado também não tem o poder para influenciar absolutamente nada. Isto é suposto ser o berço da democracia parlamentar e o exemplo máximo de como um país deve ser gerido. O problema é que os deputados andavam todos a meter dinheiro ao bolso num escândalo de corrupção grave, que o público está desiludido, que não existe aqui um Obama, um político com o carisma e a coragem para fazer frente ao "establishment" e toda a gente anda só preocupada com os mercados, esses abstractos seres que querem estabilidade, porque senão daqui a pouco não estamos na Madeira, mas estamos na Grécia. Os Liberais Democratas querem uma reforma eleitoral profunda para um sistema de representação proporcional, o que os faria aumentar o número de deputados. Na Grã-Bretanha vota-se em candidatos do círculo eleitoral e não no partido, ou seja, a terceira maior força política, o Partido Liberal Democrata e os "pequenos" saem sempre a perder.
O povo votou, mais de dois milhões preferem os conservadores, o que não é suficiente. O líder David Cameron tentou mudar a imagem dos "Tories", mas a memória é uma coisa interessante e muitos não esquecem os governos conservadores dos últimos anos e até séculos. Um partido, que foi contra a abolição da escravatura, a criação do serviço nacional de saúde, a estipulação do salário mínimo nacional. Estes avanços nas condições de vida das pessoas fazem parte das conquistas e do património ideológico dos trabalhistas e dos liberais. No entanto, com um líder como Brown, que representa tudo o que pior pode haver num político: falta de princípios, interesse exclusivo no poder, falta de respeito pelos colegas, adversários e população em geral e falta de lealdade deve haver muita gente que começa a achar que Tony Blair, não fosse aquele pequeno, gigantesco erro da guerra do Iraque, não era tão medíocre assim...

Saturday 10 April 2010

O magnífico género da comédia romântica

Há algum tempo que queria escrever sobre o fascinante tema da comédia romântica. Esta deriva das "screwball comedies" que surgiram nos anos 30, que um crítico descreveu como "comédias sexuais sem sexo". Trata-se de uma farsa excêntrica em que existe romance, misturado com uma série de peripécias e incongruências. O meu favorito é "Bringing up Baby" de 1938 com Katherine Hepburn e o magífico Cary Grant. Um dos meus actores preferidos, Grant era perfeito para estes filmes com o seu carisma, porte e com um sentido de humor subtil e sarcástico. Por seu lado Katherine Hepburn era uam força da natureza, que não tinha uma beleza clássica a la Grace Kelly, mas exalava inteligência e carácter.
Hoje em dia, muitas comédias românticas têm um guião previsível que é mais ou menos assim com algumas variações: Há uma solteirona gira, mas reprimida com algum sucesso profissional e nenhuma sorte nos amores, cuja mãe quer que case. Uso o termo solteirona, mas refiro-me no fundo a uma mulher de 30 anos no máximo, considerada já entradota nestes filmes. Ora esta protagonista às vezes tem um gato e um apartamento sofisticado e um grupo de amigas. Aliás na comédia romântica há sempre o melhor ou a melhor amiga do casal, que eventualmente podem até juntar-se (ver When Harry Met Sally). O papel destes é ouvir as histórias de cada um para os encorajar e para que a acção possa avançar e serem também cómicos (ver You´ve Got Mail)
Logo no início, a protagonista conhece um homem que normalmente não gosta e que depois se apercebe que é a sua alma gémea. Este processo implica interesse por outros homens que parecem perfeitos mas não o são e implica que ambos tenham gostos e excentricidades semelhantes que são vistas aqui como determinantes para a ideia que "foram feitos um para o outro". Depois de vários eventos, o casal junta-se. É uma fórmula previsível mas que funciona. Depois os sub-géneros da comédia romântica, como os que se centram em casamentos (My best friend´s wedding). Existe também a comédia romântica com pretensões intelectuais e não há nada pior.
Cada década tem a sua face ou casal para este tipo de filmes, como por exemplo Meg Ryan e Tom Hanks nos anos 80 e 90 ou Dorris Day e Rock Hudson nos ano 50. a comédia romântica infelizmente, para uma apreciadora como eu, tem vindo a piorar muito e muitas recentes são extremamente reducionistas e machistas, mostrando as mulheres como tontas obcecadas por compras e casamentos. Na altura da Meg Ryan, as personagens ainda eram jornalistas ou donas de livrarias, agora o mais a que podemos aspirar é a fisgar um homem, que aliás é a mensagem do Sex and the City.
Para mim há dois grandes nomes neste género: Nancy Myers e Nora Ephron.
O mais recente filme de Nancy Myers é It´s complicated com Merryl Streep e Alec Baldwin, a comédia romântica para a malta de meia idade. Myers realizou a Holyday que eu adoro e o fantástico Baby Boom com Diane Keaton, em que ela é uma executiva nos anos 80 com chumaços e sobretudos daqueles muito compridos que se vê com um bébé a ter que abidicar da carreira e a fazr doce de maçã no campo. Nora Ephron realizou When Harry met Sally (a Bíblia da comédia romântica) Heartburn, baseado no romance que eal escreveu e que é fabuloso (o filme é com a Merryl Streep e o Jack Nicholson) e Sleepless em Seattle entre outros.

Saturday 3 April 2010

The Secret History, Donna Tartt


Ontem disse a uns amigos que tinha acabado de ler este romance ou thriller. "É sobre incesto, não é?", perguntou a minha amiga que tinha lido o livro há dez anos. Por acaso não é sobre incesto. É interessante como nos esquecemos de livros que lemos ou como ficamos com uma certa imagem ou ideia que nos marcou particularmente. Apesar de haver uam relação incestuosa, eu diria que é sobre a dinâmica de um grupo de colegas e um professor numa universidade fictícia americana. É um "campus novel" por excelência, em que a acção é passada no ambiente intelectual, claustrofóbico e elitista duma faculdade. O protagonista conta a história da perspectiva mista de participante, mas ao mesmo tempo sente-se excluido do círculo de eleitos do professor de grego. O professor controla e influencia este pequeno grupo com os seus ideais estéticos clássicos, desdenhando a moralidade convencional. A personagem mais fascinante é o líder dos alunos, Henry, um poliglota ultra-inteligente, culto, frio e calculista. Publicado em 1992, este romance parece às vezes um pouco datado, embora seja possível que existam personagens semelhantes em universidades americanas de luxo, hoje em dia.
Com referências eruditas, romance, crime, chantagem, paranóia, conflito, lê-se bem, mau-grado ser demasiado longo. É um daqueles exemplos de um bom livro que se torna medíocre para o fim, ou seja arrasta-se nas últimas 100 ou 50 páginas e conclui de uma maneira um pouco atabalhoada, como se fosse numa direcção e depois perdesse o norte. Acontece a muitos.
Exemplos de "campus novels"
Nice work, David Lodge
The War between the Tates, Alison Lurie
Disgrace, J.M Coetzee
Human Stain, Philip Roth

Tuesday 30 March 2010

Institucionalização do "bullying"

Hoje li com espanto que o Partido Conservador continua em queda nas sondagens. Quanto mais notícias negativas aparecem sobre os Trabalhistas, mais aumenta a popularidade do Primeiro-ministro, Gordon Brown. Recordemos que este nunca foi eleito e ascendeu ao cargo quando Tony Blair finalmente se demitiu. O controverso livro do jornalista Andrew Rawnsley "The end of the party" traz alegações bem fundamentadas de que Brown grita, intimida e trata muito mal os ministros, secretários, colaboradores, empregados e colegas. O próprio ministro das finanças, Alistair Darling admitiu ter sido atacado verbalmente e uma organização de ajuda a pessoas que sofrem de intimidação persistente ou "bullying"em escolas ou no trabalho confirmou ter recebido chamadas de pessoas que trabalham em Downing Street.
Curiosamente esta atitude de Gordon Brown parece ter conquistado os corações do povo britânico. Que nos meios financeiros da "City" e em muitas empresas esses comportamentos sejam a norma, não é novidade, mas a institucionalização e vanglorização da falta de respeito, intimidação, pressão desnecessária e humilhação, normalmente de subalternos em diversas esferas profissionais parece agora estar a generalizar-se.

Thursday 25 March 2010

Asneiras em jornalismo de rádio

1-Correr para o estúdio com papéis e chegar ofegante para ler as notícias e sem metade dos papéis tendo que improvisar
2-Rir durante notícias sérias devido a ataques de riso inesperados
3-Discutir com arqui-inimigo e co-apresentador nos intervalos entre ir para o ar
4-Ir para estúdio com os copos
5-Comer e sujar equipamento durante a apresentação de programas noticiosos
6-Insistir em passar música dos Smith e Green Day em programas culturais para as audiências erradas
7-Encher chouriços com comentadores chatos porque não se arranjou mais nada
8-Enganos variados que são atribuidos a "dificuldades técnicas"
9-Fazer barulho em estúdio
10-Não aparecer para apresentar programa deixando ouvintes aos milhões pendurados
Sou culpada do 1, 2, 3, 6, 8 e ocasionalmente 9, também por "razões técnicas"

Saturday 20 March 2010

Livros maus

A última edição da American Book Review traz um artigo sobre o que constitui um mau livro. Eu já me tinha referido a este tema no "posting" sobre a digitalização e como não se perde nada em haver versões electrónicas de livros para "deitar fora".
É muito relativo, mas os professores universitários de literatura que contribuem para este artigo concordam que muitos destes livros conseguiram enganar os críticos e os público de que eram obras de grande originalidade e envergadura, quando denotam a preguiça, o narcisismo, a arrogância e presunção dos escritores acima de tudo.
Que o "Código Da Vinci", os livros do James Bond são medíocres não há dúvida, mas esta lista também desmistifica clássicos o "Great Gatsby", "Women in love", o que é controverso. Por exemplo "Revolutionary road" é considerado um livro mau porque não diz nada de novo, no entanto nos anos 50, escrever sobre casais suburbanos e a calustrofobia do enquadramento social era revolucionário, além de que o livro está bem escrito, as personagens bem observadas e pormenores sobe o relacionamento entre as pessoas são bem captados. Por isso, este top 40 dos livros maus não me convence totalmente...
Um dos académicos diz que os livros maus o enraivecem, e eu identifico-me com isso, são irritantes, na perca de tempo que nos propõem, quando há tantos livros bons para ler. Uma ideia interessante é que escrever um livro mau implica esforço, tanto como escrever um livro bom.
Uma das entrevistadas para o artigo, dizia que todos os anos punha um livro mau na lista de leitura dos alunos do curso de literatura para ver se eles eram capazes de o identificar. É curioso que tenha escolhido uns contos da Isabel Allende, que muita gente gosta e que eu abomino. O realismo mágico é algo que não me diz absolutamente nada. Talvez haja um consenso sobre certos livros ignóbeis, mas decerto que os gostos variam. Há pessoas que adoram o Harry Potter, todos os livros de vampiros que estão na moda, o Dan Brown e as suas conspirações. É verdade que a intriga pode ser relativamente boa e o estilo horrendo. O John Grisham escreve intrigas empolgantes sobre casos jurídicos que me interessam imenso, mas a escrita é tão cheia de clichés e simplista, tão profundamente má que é uma afronta, mesmo na praia.

Tuesday 9 March 2010

"Working Girl"

Uma rara insónia levou-me a rever um filme piroso dos anos 80, que adorei. "Working girl" com a Melanie Griffiths é um daqueles filmes que se julga vagamente feminista e anti-elitista, mas que na realidade é um veículo para a ideia de que a mulher vence quando usa charmes femininos e alcança o direito de ter ela própria a sua secretária, um escritório, uma pasta de cabedal e um horário intenso cheio de reuniões e negócios. O que é divertido aqui, para além do corte de cabelo inicial da protagonista, do facto de ela usar mini saia e ténis no caminho para o emprego, o descabimento do Harrison Ford (que só sabe representar em filmes de acção) é que a premissa do filme desabaria no mundo actual. Melanie Griffiths é uma secretária da Sigourney Weaver que é malandra e aproveita-se das ideias dela sem lhe dar crédito e a trata mal. Quando parte a perna num acidente de ski e fica fora da jogada durante uma semana ou duas, a Melanie corta o cabelo, veste as roupas da chefe para conseguir fazer valer os seus brilhantes planos no mundo dos negócios, juntamente com o Harrison Ford, claro. Hoje em dia, nada disto poderia acontecer, porque a chefe teria internet, blackberry, iPhone, sabe-se lá que mais e saberia logo que a secretária lhe estava a passar a perna, na realidade em busca de recongecimento e justiça social.
No fim, Melanie Griffiths arranja um novo emprego e fica com o Harrison Ford que entretanto roubou à Sigourney Weaver, no meio disto tudo ainda lhe aspira a casa em cuecas e saltos altos. Que mensagens confusas...será o início da nova vaga encabeçada por Madonna, disfarçada de feminismo, que acabou na realidade por matar as verdadeiras aspirações de igualdade e degradar a posição das mulheres?

Friday 12 February 2010

2010: o ano da digitalização do livro

A Apple lançou o iPad, um aparelho que é leitor de e-books, mistura de computador portátil e "smartphone" e vai competir directamente com o Kindle da Amazon. Porque é que eu estou a falar de tecnologia neste blog sobre livros? Porque o "tipping point", ou o ponto de não retorno ou de viragem se quisermos, de como as pessoas vão ler livros já foi ultrapassado.
Os livros electrónicos e os aparelhos para os ler já existem há algum tempo, mas estão agora a generalizar-se com uma rapidez estonteante e nada vai alterar o curso desta mudança profunda a caminho da digitalização.
A própria definição do livro como objecto, como conceito e entidade está em causa. A sua integridade, se quisermos está a ser atacada. Mas não pensem, meus queridos leitores que me vou juntar aqueles que lamuriam o fim dos livros e das bibliotecas. Aqueles que falam do cheiro das páginas, da relação íntima com o livro físico, dos que colecionam obessessivamente e os que compram livros por "terem pena de os deixar maltratados na loja" como li no outro dia, num artigo sobre bibliófilos. Jorge Luis Borges escreveu que o paraíso é uma biblioteca e quem gosta de livros identifica-se com essa comparação.
Há vários anos que iniciei a difícil, mas libertadora tarefa de doar livros a bibliotecas, amigos, sotãos variados, garagens, lojas em segunda mão e caridade. Bibliófilos estremeceriam a pensar nesses livros encaixotados, a sofrer com a humidade e o escuro, as suas páginas eruditas cerradas, a amarelecerem, as suas palavras paralisadas por este triste destino.
A verdade é que apesar de também achar as bibiotecas e livrarias locais de refúgio, de encontro com novos temas, novos autores, novas ideias, há livros para guardar e para admirar e há livros para ler e deitar fora, de preferência para serem lidos por outros ou alguns para serem destruídos, reciclados e transformados em coisas mais úteis. Que heresia, ouço já bradar os que mitificam e tratam os livros como algo de sublime. Sejamos honestos, por terem a forma de "livro", nem todas as publicações merecem este grau de embasbacamento e idolatração. Não estamos a falar de edições antigas, nem de obras culturais de envergadura, que naturalmente devem ser preservadas em museus-bibliotecas. Não seria melhor para o ambiente, por razões de espaço, de conveniência que certos livros pudessem ser descarregados electronicamente e lidos em qualquer lado, transportados com facilidade numa viagem, por exemplo?
Há anos, andei a carregar uma mala pesadissima na América latina com livros para me durarem 15 dias, que ia deixando em aeroportos. Recordo-me de ter acabado de ler um livro sobre uma lésbica judia ortodoxa em Londres que em deixou insatisfeita por ter um final mal resolvido. Não só me irritou o facto de o livro insistir em transportar-me de volta para Londres, quando eu estava num aeropoto no México (adoro ler livros passados nos locais que visito) como a autora não pensou nas consequências de não acabar de uma forma que fazia sentido, pelo que logo o abandonei, as suas 300 páginas e capa dura e pesada numa cadeira, talvez para serem lidos e irritarem outra pessoa? Há livros muito mauzinhos.
Ao contrário dos CDs de música que não instigam qualquer espécie de enamoramento, os livros sempre inspiraram este misto de respeito, afeição, quando não de pura obssessão. Ninguém vai queimar os livros na grande fogueira da digitalização. O livro não vai desaparecer, porque os seres humanos são tácteis e os computadores não se podem levar para a cama e para o banho tão facilmente e não são objectos tão bonitos. Contudo, este ano a viragem está a ocorrer. O livro digitalizou-se.

Saturday 23 January 2010

A era da atenção

Ultimamente tenho andado a pensar na internet. Não é uma coisa em que a maioria das pessoas pensem, mas uma coisa que usam sem pensar, que se tornou parte das nossas vidas diárias, do nosso trabalho e do nosso lazer. A geração que tem agora 20 anos não sabe o que é viver sem esta rede que está em transformação profunda e que transformou radicalmente a maneira como vivemos, comunicamos e talvez mesmo os nossos próprios processos cognitivos. Será ir longe demais considerar que os nossos cérebros se alteram por terem acesso constante e imediato a todo este manacial de informação? E não se trata apenas de pura informação, mas dos contactos íntimos e sociais desencadeados pela nossa presença "online".

A minha atribulada relação com a internet começou cedo, quando no início dos anos 90 ia para o técnico usar o computador do meu pai, cujo diálogo com estes seres remonta à década anterior. Tivemos o Spectrum onde jogávamos jogos repetitivos e de uma simplicidade absurda que estão agora na moda outra vez pela sua qualidade "retro" e usávamos estes computadores primitivos para escrever trabalhos para a escola, fazendo sair da enorme impressora aqueles rolos de folhas com os furos de lado que se amontoavam no chão do escritório. Assim o computador era para mim uma máquina de escrever, mais eficiente porque não se tinha que usar Tippex, aquele liquido branco para limpar o texto e uma máquina para jogar Tétris, Chucky Egg, Pac Man e Jet Set Willy.

Mas com a internet, incialmente usada em universidades e para correio electrónico apercebi-me do seu potencial para fazer pesquisa e como veículo para me deleitar em deambulações inúteis. Os modems eram super-lentos e não existia a Google, quase ninguém tinha e-mail. Os motores de busca eram o Altavista, o Lycos e outros que foram desaparecendo, esmagados peal supremacia googlica.

A internet tem sofrido rápidas mudanças, com avanços em termos de rapidez, estruturação, adesão de utilizadores, sofisticação dos meios de comunicação e pesquisa da informação bem como a digitalização de materiais escritos. Na era da informação, criou-se a ideia de que se algo ou alguém não está na internet é porque não existe.

Com o excesso de informação e a natureza social da "web 2.0", a fase iniciada em meados da década passada, em que a partilha da informação, os contactos e redes sociais dominam o uso da internet começa-se a falar da "era da atenção".

Já não basta apenas existir na internet e usá-la, mas é necessário participar, opinar, comunicar, transmitir. Daí a explosão dos Blogs e a ascenção do Facebook, do Twitter, do Youtube, da Wikipedia, do Flickr. O conteúdo passa a ser produzido pelos utilizadores, que deixam de ser consumidores passivos dos mídia. Esta revolução está a ter um enorme impacto nos meios de comunicação tradicionais e implica uma democratização e desvalorização de conceitos como objectividade, veracidade, autoridade.

A geração google não está a habituada a pagar pelo acesso à informação na internet e estamos a atravessar um período crucial para os jornais e outras publicações escritas, editoras, bibliotecas e outros "guardiões" tradicionais da informação e do conhecimento. Ou se redefinem e encontram novas funções e maneiras de sobreviver ou estão condenados

A "web 3.0" que é a fase em que estamos a entrar aponta para uma internet semântica, que compreende o que estamos à procura, que liga todos os aspectos da nossa vida digital (a única?) com uma nova elegante e inteligente arquitectura que está a faltar neste oceano de informaçao.

Friday 15 January 2010

"Personal History", Katharine Graham


Estou a ler com grande vagar a biografia de Katharine Graham, que geriu o Washington Post durante duas décadas. Este livro fascinante ganhou o prémio Pulitzer em 1998 e é uma história fascinante sobre um dos mais prestigiosos jornais do mundo, durante a segunda metade do século passado. Nascida numa família judia milionária e excêntrica, Katharine conta como o pai comprou o jornal num leilão de empresas na bancarrota e como ela e marido Phil o conseguiram tornar num sucesso editorial e financeiro. As suas impressões do jornalismo como se fazia antigamente, as considerações deontológicas , as descrições de personagens na redação do Washington Post e os bastidores do Watergate, que levou à demissão do Presidente Nixon são narradas à mistura com a história pessoal de uma mulher que se afirmou num universo masculino.

Friday 8 January 2010

Modas e tendências em Culinária

O Food Channel analisa as modas em alimentação e culinária da última década, incluindo pratos, sabores, "chefs", alimentos, movimentos, inovações em restaurantes e etc...
Vale a pena ver quais as tendências previstas para a próxima década
www.foodchannel.com

Wednesday 6 January 2010

Leitora-um perfil

Estamos numa nova década e tenho andado a pensar numa lista dos meus livros preferidos dos últimos dez anos. No entanto, esta lista não me aparece facilmente, não a consigo compilar, por falta de tempo e principalmente porque penso apenas nos livros que não li.
Talvez seja também necessária uma lista dos artigos que queria aqui escrever e não posso, mas isso é outro tema.
A escritora espanhola Rosa Montero defendeu que há um certo género de pessoas que "lêem contra o tempo", ou numa corrida para tentar ler o máximo antes da morte. Há os que lêem os livros mais do que uma vez, os que lêem partes de livros, outros que nunca acabam os livros.
Sendo este um espaço sobre leitura é importante definir o meu perfil de leitor:

1-Nunca leio o mesmo livro duas vezes (há tantos livros que quero ler que não me posso dar a esse luxo).
2-É rarissimo não acabar um livro, tem que ser muito mau para não me forçar a terminá-lo (acho que devemos isso ao autor no momento em que escolhemos ler).
3-Gosto de ter livros à minha volta mas deixei de ter uma relação fisíca com os livros no sentido em que me desfiz de vários caixotes cheios e mantenho outros numa garagem húmida (os livros não são pessoas).
4-Às vezes leio vários livros ao mesmo tempo.
5-Adoro a ideia do "livro dentro do livro", por exemplo um conjunto de romances da Alison Lurie em que uma personagem surge num livro e depois é referenciada ou aparece como personagem secundária noutro. No Jpod de Douglas Coupland, a personagem principal, Ethan e os colegas falam de Douglas Coupland e Ethan até se cruza com ele num avião.
6-Queria ler "Guerra e paz", mas faz-me imenso sono.
7-Não suporto o Harry Potter. É interessante que nesta última década os livros mais vendidos tenham a ver com universos mágicos, vampiros, ocultismo e conspirações religiosas. As pessoas não parecem querer ficção realista sobre temas mundanos (a minha preferida).
8-Gosto cada vez mais de biografias, não sei porquê, talvez por serem (na sua maioria) escritas por pessoas mais velhas com uma tendência para relativizar e analisar.
9-Leio poucos livros de história por ter estudado este tema na universidade e associa-lo a "ler por dever".
10-Quase nunca consegui ter uma conversa proveitosa sobre um livro. Se calhar duas pessoas a ler o mesmo livro estão na realidade a ler livros diferentes.
11-Quando viajo gosto de ler um livro que tenha a ver com o sítio para onde vou ou seja passado nesse sítio
12-Não gosto de prosa poética
Para já é isto...