Thursday 27 March 2008

Mousse de Limão

Esta receita foi adpatada de várias e acima de tudo simplificada. É uma sobremesa muito fácil, ráida e leve, com uma consistência celestial, que se pode servir em copos de vidro, com casca de limão ralada ou rodelas muito finas.

Coloco aqui uma versão mais "light":

Para 4 Pessoas

2 pacotes de mascarpone "light"
O sumo de cinco ou seis limões e a casa ralada
Se conseguirem encontrar: duas colheres de sopa de Lemon Curd (um doce de limão que se vende num frasco e que é feito com gemas de ovos, acuçar e limão, numa pasta muito macia e aromática)
5 colheres de sopa de mel
Açucar ou adoçante

Eu misturo cuidadosamente o mascarpone com o limão para não talhar, adicionado a casaca de limão ralada e o "lemon curd". Se ficar muito líquido, o meu truque é juntar amêndoas raladas para dar consistência. Ponha no frigorífico durante umas boas horas antes de servir. Com esta mesma base já fiz mousses de maracujá, manga, amoras e morangos.

Wednesday 12 March 2008

"Thank you for Not Reading", Dubravka Ugresic

Este livro de ensaios da escritora croata, Dubravka Ugresic é uma reflexão crítica sobre o estado da indústria livreira e a publicação e comércio de livros. A autora levanta questões como porque são publicados tantos livros, mas apenas uma pequena parcela é lida; porque é que os livros se tornaram um produto ao qual se aplicam as regras do mercado; como funcionam as propostas de livros e sinopses e os agentes literários (de maneira caótica e imprivisível)

Mas a ideia mais importante é a de que a cultura uniforme e estupidificante do estado totalitário que Ugresic conheceu sob a forma da antiga Jugoslávia (embora critique os nacionalismos e países que a substituiram) com as forças do mercado capitalismo. Na realidade não existe mais escolha, mas uma hegemonia semelhante. A carneirada é direccionada para certos livros, que a seu ver pecam pela falta de qualidade, sendo um dos seus ódios principais, o Alquimista de Paulo Coelho.

Ataques, Escândalos, Racismo e Machismo numa Sociedade Confusa

Samantha Power, uma assessora de Obama teve que se demitir depois de ter dito que Hillary Clinton era um "monstro". Estes comentários foram feitos ao jornal "Scotsman" e eram supostamente "off the record". É difícil de conceber que esta senhora que escreveu uma biografia do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello e ganhou o prémio Pulitzer não sabia que o "off the record" não existe. Uma entrevista não é uma conversa normal em que se pode dizer uma coisa e depois negá-la ou pedir para que essas declarações não sejam publicadas.
Entretanto, as atenções foram desviadas das eleições Primárias com a demissão forçada e arrastada de Eliot Spitzer, Governador de Nova Iorque por envolvimento numa rede de prostituição de alto luxo. Apesar de as relações entre Spitzer e Hillary Clinton serem ténues (ele apoia-a) alguns meios de comunicação social, na ânsia de atacar a candidata à nomeação Democrata já referiram que este escândalo lembra o caso das escapadelas de Bill Clinton. A pobre mulher de Spitzer lá apareceu ao lado dele, mostrando-se solidária e recordando o público das humilhações de Hillary, também leal ao marido adúltero. Mais uma vez, colunistas vêm questionar a experiência da Senadora de Nova Iorque, "cuja estadia na Casa Branca não lhe deu a experiência necessária para controlar o marido". Ou seja, não há tema que não sirva para denegrir as credenciais de Hillary.

Votar em Obama para aliviar a culpa

Separadamente, uma apoiante de Clinton, Geraldine Ferraro declarou que Obama "tinha sorte" de ser negro e de não ser mulher. O que ela queria reforçar era que o machismo é mais forte do que o racismo e que a raça é uma questão tão complexa que neste caso pode até estar a favorecer Obama (adorado pela imprensa que não aplica a mesma ferocidade que reserva para a sua rival)
Trevor Phillips, o presidente da Comissão para a Igualdade Racial e Direitos Humanos e uma das figuras mais importantes na comunidade afro-caribenha na Grã-Bretanha escreveu na revista "Prospect" que a eleição de Obama poderá prolongar as divisões raciais nos Estados Unidos. Na sua opinião, o entusiasmo da classe média branca com a campanha de Obama está associada à culpa colectiva e interiorizada por causa da escravatura. "Votar em Obama é uma negação fácil do racismo de cada pessoa. Desde que não tenha que viver ao lado dele. Obama ainda não conseguiu angariar votos em zonas brancas adjacentes a zonas negras". Phillips compara Obama a celebridades como Oprah Winfrey e Bill Cosby que têm um acordo tácito que lhes permite serem aceites e que implica porem de parte a questão racial.
O que tudo isto mostra é uma sociedade dividida, em termos de raças e de sexos, com valores morais confusos e hipócritas.
Obama luta pela unificação, mas esta exige a obilteração do passado. E é isso que Obama promete, uma América com um futuro harmonioso. Custa-me a acreditar que sem resolver e equilibrar as desigualdades esse projecto se possa concretizar.

Thursday 6 March 2008

Mais perto de um "dream ticket"?


Hillary venceu no Texas, Ohio e Rhode Island (que apesar de ser um daqueles estados minúsculos do Leste dos Estados Unidos, é considerado um bastião de activismo Democrata).


A senadora de Nova Iorque tem sido alvo de inúmeros ataques às mãos dos meios de meios de comunicação social e da campanha de Obama, tendo por sua vez optado por tácticas mais agressivas que podem podem vir a ter consequências negativas para o partido, cada vez mais dividido. Um anúncio recente em tempo de antena da campanha Clinton procura reforçar a ideia de que os Estados Unidos e o mundo estão em perigo se Hillary não estiver na Casa Branca. O anúncio na televisão mostra duas crianças a dormir e um telefone a tocar num ambiente de "suspense": "Quando o telefone toca a meio da noite na Casa Branca, quem é que voçê quer que atenda?". O seja, o sono dos justos só pode ser protegido por uma presidente com experiência.

Muitos analistas políticos acusam Clinton de querer mudar as regras do jogo, por ela ter dito que estas últimas vitórias mostran que é ela que ganha nos grandes estados, "naqueles que verdadeiramente contam". Os grupos de apoio da ex-primeira Dama são os mais velhos, os mais pobres, os latinos, as mulheres (brancas) os mais Democratas, no sentido em que Obama atrai independentes e gente despolitizada e até Republicanos, além dos mais instruídos, o voto negro e etc...O argumento da campanha de Clinton agora é que a sua base de apoio é crucial para uma vitória contra o Senador John MCain que assegurou esta semana a nomeação do Partido Republicano. A corrida Democrata continua aberta e poderá assim permanecer até à convenção do partido no Verão. Até lá esperemos que os candidatos se portem com dignidade para termos um "dream ticket", uma candidatura de sonho com Hillary à cabeça e Obama como vice-presidente.
Uma nota de interesse:
Ao contrário de campanhas passadas, esta trava-se também na internet (em blogs, no Youtube, nas redes de interacção). Pelo menos nenhum dos dois polítics anuncia centenas de milhares de "amigos", referindo-se às pessoas na sua rede de contactos como "apoiantes".
Página dos candidatos no Myspace
Página dos candidatos no Facebook

Tuesday 4 March 2008

Uma mulher de substância

Em poucas horas saberemos se a candidatura de Hillary Clinton chegou ao fim. Hoje votam os estados decisivos do Texas e Ohio. Os analistas procuram razões para a queda de popularidade da Senadora de Nova Iorque. Erros de estratégia e de organização da campanha, angariação incompleta de fundos, a falta de um plano B para responder ao fenómeno em torno de Obama ou a “Obama-mania”, ataques e propaganda negativa contra o seu rival, "bagagem" dos anos 90 e da presidência do marido, Bill Clinton ou factores associados à personalidade e apresentação de Hillary. Os meios de comunicação têm sido implacáveis e criticam-na principalmente pela escolha das roupas, corte de cabelo e tom de voz estridente mais do que pelo conteúdo dos seus discursos e retórica nas dezenas de debates em que participa.
Ninguém contesta que Hillary é uma mulher inteligente, com experiência e substância. Mas isso normalmente é visto com suspeita e ela é acusada de ambição desmedida, de ser demasiado masculina e de ter uma sede insaciável de poder. A mensagem pouco conta face a uma candidatura como a de Obama. Aguardamos notícias do outro lado do Atlântico.

Saturday 1 March 2008

Aldrabice na cozinha ou ir contra o "zeitgeist"


Como Cozer um Ovo

Delia Smith, que é uma instituição da culinária britânica lançou recentemente um novo livro: "How to Cheat At Cooking". Delia é famosa desde os anos 70, por ter sido a pioneira dos cozinheiros que simplificam a arte sagrada da culinária e ensinam "truques" para impressionar convidados em jantares com um mínino de esforço. "To do a Delia" é uma expressão que significa isso mesmo e que entrou no vocabulário idiomático inglês.

Esta senhora iniciou a sua carreira com colunas em jornais, passando depois para a televisão e para a publicação de livros e patrocínio de ingredientes, tendo ganho uma verdadeira fortuna e alcançado a fama. Ultimamente Delia desapareceu de algum modo, abrindo as portas para Jamie Oliver, Nigella Lawson, Rick Stein, Gordon Ramsay e outros.

Na última década, a culinária deixou de ser um "niche" e passou a ser levada extemamente a sério, tendo gerado um interesse no público comparável à obsessão britânica com propriedades, venda e decoração de casas, competindo por espaço em programas de televisão e "reality shows". Assim, a um programa sobre um casal à procura da sua "casa de sonho", segue-se um programa em que cozinheiros amadadores tentam convencer um júri de "gourmets" ou um "celebrity chef" de que são a pessoa certa para um lugar num restaurante de alto luxo.

No seu apogeu, Delia Smith ensinou a cozinhar ou a "enganar na cozinha" a gerações de jovens estudantes e pessoas sem talento e sem tempo com o seu estilo prático e desmistificador, tendo ficado célebre com um capítulo em como "cozer um ovo".

O panorama mudou drasticamente. Hoje em dia, a tendência da classe média é para passar horas em mercados reais ou virtuais à procura de produtos alimentares, o chamado "sourcing". A proveniência dos alimentos é crucial, daí a moda despoletada por cozinheiros "in" como Jamie Oliver de cultivar hortas, ou pelo menos de ter ervas aromáticas em vasos. Além disso é imprescindível tornar-se amigo íntimo do talhante, do homem da peixaria e da mercearia para assegurar que os alimentos são biológicos, que no caso da carne e do peixe, que os animais foram bem tratados e a proveniência é sustentável e não causa extinção de espécies, ou aquecimento do planeta por terem sido importados dos antípodas.

Este tipo de consumidor "gourmet" quer ter a certeza de que os ingredientes são locais e não contêm poluentes, químicos, aditivos estranhos e que têm "valor nutritivo". Os vegetais são do jardim, do mercado local ou das imediações sendo trazidos numa caixa semanal cobertos de terra e com o ar feioso, mas saudável da agricultura biológica. Com estes produtos, o adepto de Jamie Oliver vai elaborar pratos complicados, em que tudo é confeccionado pelo próprio dentro do possível. Por exemplo, a massa deve ser feita em casa, assim como o pão, os bolos, os molhos que acompanham ou fazem parte de uma receita.


Porno-Culinária

O último programa de Nigella Lawson, o "Nigela Express" ensinava como peparar sumptuosas refeições que impressionam, embora sejam ultra-rápidas. Na realidade, envolviam sempre imenso trabalho, não que a voz e as formas sensuais da decotada Nigella a lamber os dedos e a cozinhar bombas calóricas o deixassem antever. Nigella é pornografia gastronómica e em sintonia com a sobre-sexualização da sociedade actual (se não existe este termo deixem-me inventá-lo que eu estudei sociologia).

E eis que surge de novo Delia com receitas que usam uma série de ingredientes congelados, enlatados, empacotados e pulverizados que supostamente nos facilitam a vida, com o seu ar despachado e até um pouco severo de presidente de clube de futebol. Desde a sua abdicação da coroa da Rainha da cozinha britânica, tem gerido o seu adorado Clube de Futebol de Norwich.

Será que existe lugar para a Delia na culinária actual? A "marca" em si, dada a sua fama está suficientemente estabelecida e o livro está já no top da lista de "bestsellers".

Segundo esta veterana, o que falta nestes extravagantes tempos é uma certa dose (mais do que uma pitada) de realismo. A sofisticação dos "cozinheiros-celebridade" fazem com que as pessoas se sintam diminuídas e incapazes de fazer um prato decente. Poderiamos acrescentar, que como diria Nigel Slater (um dos meus preferidos, juntamente com Rick Stein) há uma grande concorrência entre os "chefs" principalmente masculinos, um machismo da colher de pau, se me é permitido. É tudo muito científico e e elaborado com o objectivo de ganhar prémios, "estrelas michellin" ou para os amadores, elogios da mulher (que depois tem que limpar a cozinha onde o marido usou todos os utensílios, panelas e deixou um rastro de destruição, mas deve sentir-se eternamente grata).

Muitos são os que assistem a horas de porno-culinária sem saber estrelar um ovo, acabando por comer refeições pré-feitas e "takeaways".

Apesar da simpatia pela causa dos frangos de aviário, a moda das hortas, da cozinha molecular com os seus complexos princípios, a influência da gastronomia estrangeira, as fusões culinárias e a sensualidade dos souflés, nunca devemos subestimar o factor preguiça e a dificuldade de fazer uma jantar "super-simples" de "humus com pimentos vermelhos", seguida de uma "tarte de cebolas caramelizadas" e "mini-pavlovas", como aconselha a Nigella.