Tuesday 5 July 2011

Manifesto anti-Bimby

Só um tema suficientemente controverso e apaixonante me poderia fazer regressar a este espaço durante a minha ausência na pátria lusa. E não é o novo governo, a "troika", a profunda crise da economia e finanças, o facto de Portugal ser considerado "lixo" pelas agências de notação, nem outros assuntos prementes da actualidade, mas a Bimby. Ora, eu já tinha tido um contacto remoto com este aparelho de nome absurdamente rídiculo através de amigos portugueses, mas nunca tinha visto e interagido com uma, nem me tinha apercebido do seu impacto na vida portuguesa. Infelizmente não possuo dados sobre as vendas de Bimby em Portugal, mas ela é descconhecida na Grã-Bretanha e uma busca pouco científica assegurou-me da sua pouca divulgação noutros países. Porquê?
Nos jornais e revistasem Portugal há receitas para a Bimby, há livros, há gente na televisão, que diabo, a falar da Bimby.
Como o Ikea, a Bimby é possivelmente um dos males importados do norte da Europa que mais divide os casais e a população em geral. No Ikea, homens carrancudos arrastam-se sem entusiasmo, desejosos de irem apenas para o café comer iguarias suecas (pelo menos essa é a minha experiência). Há os que acham que o Ikea foi a melhor invenção depois da roda e da pólvora e os que acham que é uma aldrabice baratucha e de má qualidade que nos obriga a montar as coisas mais básicas e até panelas (comprei panelas que se tinha que aparafusar as tampas e os cabos) e nos cega com uma
miríade de objectos coloridos inúteis que nós passamos a acreditar que precisamos para que a nossa vida se torne subitamente mais escandinava.
A Bimby é semelhante, dividindo opiniões e criando conflictos. Para uns é a salvação na cozinha, ali a moer, cortar, triturar, cozer, misturar e a fazer barulhinhos irritantes e estridentes, qual robô da Guerra das Estrelas. Para outros é uma afronta.
Para mim é mais do que uma afronta é um verdadeiro escândalo que nos distancia do que é cozinhar. Fazer comida demora tempo, exige esforço, exige atenção. Não quer dizer que consigamos sempre cozinhar assim. Mas vale a pena tentar. Compreendo que seja um aparelho útil, mas só de olhar para as instruções me agonia, devida a uma fobia técnica instransponível. Tinha que ter sido inventada pelos alemães com o seu amor do prático e da maquinaria e também da distorção culinária. Os ingleses têm fama de ter má gastronomia, o que desde há 10 ou 15 anos para cá não é merecida. Os alemães por seu turno não só culpam os espanhóis dos pepinos supostamente contaminados, como não querem ajudar a Grécia e Portugal e acham que somos países pouco civilizados a viver à conta do norte da Europa. Mas o desplante máximo para mim é a Bimby, a grande vingança alemã contra o "slow food", o modo de vida do sul da Europa e do Mediterrâneo. Aos poucos os portugueses vão se tornando clones, como no livro e filme "Stepford Wives", donas-de-casa robotizadas e germanizadas, mesmo que pensem que estão a fazer bacalhau e pastéis de nata na Bimby.

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