Saturday 23 January 2010

A era da atenção

Ultimamente tenho andado a pensar na internet. Não é uma coisa em que a maioria das pessoas pensem, mas uma coisa que usam sem pensar, que se tornou parte das nossas vidas diárias, do nosso trabalho e do nosso lazer. A geração que tem agora 20 anos não sabe o que é viver sem esta rede que está em transformação profunda e que transformou radicalmente a maneira como vivemos, comunicamos e talvez mesmo os nossos próprios processos cognitivos. Será ir longe demais considerar que os nossos cérebros se alteram por terem acesso constante e imediato a todo este manacial de informação? E não se trata apenas de pura informação, mas dos contactos íntimos e sociais desencadeados pela nossa presença "online".

A minha atribulada relação com a internet começou cedo, quando no início dos anos 90 ia para o técnico usar o computador do meu pai, cujo diálogo com estes seres remonta à década anterior. Tivemos o Spectrum onde jogávamos jogos repetitivos e de uma simplicidade absurda que estão agora na moda outra vez pela sua qualidade "retro" e usávamos estes computadores primitivos para escrever trabalhos para a escola, fazendo sair da enorme impressora aqueles rolos de folhas com os furos de lado que se amontoavam no chão do escritório. Assim o computador era para mim uma máquina de escrever, mais eficiente porque não se tinha que usar Tippex, aquele liquido branco para limpar o texto e uma máquina para jogar Tétris, Chucky Egg, Pac Man e Jet Set Willy.

Mas com a internet, incialmente usada em universidades e para correio electrónico apercebi-me do seu potencial para fazer pesquisa e como veículo para me deleitar em deambulações inúteis. Os modems eram super-lentos e não existia a Google, quase ninguém tinha e-mail. Os motores de busca eram o Altavista, o Lycos e outros que foram desaparecendo, esmagados peal supremacia googlica.

A internet tem sofrido rápidas mudanças, com avanços em termos de rapidez, estruturação, adesão de utilizadores, sofisticação dos meios de comunicação e pesquisa da informação bem como a digitalização de materiais escritos. Na era da informação, criou-se a ideia de que se algo ou alguém não está na internet é porque não existe.

Com o excesso de informação e a natureza social da "web 2.0", a fase iniciada em meados da década passada, em que a partilha da informação, os contactos e redes sociais dominam o uso da internet começa-se a falar da "era da atenção".

Já não basta apenas existir na internet e usá-la, mas é necessário participar, opinar, comunicar, transmitir. Daí a explosão dos Blogs e a ascenção do Facebook, do Twitter, do Youtube, da Wikipedia, do Flickr. O conteúdo passa a ser produzido pelos utilizadores, que deixam de ser consumidores passivos dos mídia. Esta revolução está a ter um enorme impacto nos meios de comunicação tradicionais e implica uma democratização e desvalorização de conceitos como objectividade, veracidade, autoridade.

A geração google não está a habituada a pagar pelo acesso à informação na internet e estamos a atravessar um período crucial para os jornais e outras publicações escritas, editoras, bibliotecas e outros "guardiões" tradicionais da informação e do conhecimento. Ou se redefinem e encontram novas funções e maneiras de sobreviver ou estão condenados

A "web 3.0" que é a fase em que estamos a entrar aponta para uma internet semântica, que compreende o que estamos à procura, que liga todos os aspectos da nossa vida digital (a única?) com uma nova elegante e inteligente arquitectura que está a faltar neste oceano de informaçao.

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