Friday 27 July 2012

50 Shades of Grey: Triunfo da Misoginia

Não é a primeira vez que em debruço sobre a temática dos livros maus e aqui vou-me concentrar num livro péssimo. 50 Shades of Grey. O maior fenómeno de vendas do mundo editorial desde os disparates do Código Da Vinci de Dan Brown e as suas conspirações fajutas e medíocres. Depois do Harry Potter, que é apenas literatura para crianças de qualidade, mas baseada em meros clichés ter sido avidamente consumido por adultos infantilizados e obcecados com mundos irreais, vieram os vampiros, O Twilight e companhia são literatura juvenil que também atraiu os tais adultos tontos com interesse em histórias de adolescentes e crenças irracionais em amores eternos, vampiros e lobisomens. Em Dan Brown, o herói tem um "apêndice" feminino, secundário para enfeitar as suas aventuras. Harry Potter também tem uma amiga bruxinha, mas é ele, o caixa de óculos, que é o protagonista. A personagem central da série literária e cinematográfica dos vampiros é Bella, que se apaixona por um vampiro com quem casa, ele é o predador que quer sangue novo, ela é a presa que se subjuga, despojando-se até da sua humanidade pelo "amor".
Até que chegamos a 50 Shades of Grey, 60 anos depois da primeira onda feminista, temos um novo fenómeno editorial com um bestseller de literatura erótica para mulheres. Aqui, a nossa personagem central era uma "Maria ninguém" como Bella, até ter conhecido um milionário poderoso de quem se torna "escrava sexual". Para muitos "fazedores de opinião" misóginos esta é a prova de que as mulheres gostam de pormografia e adoram ter um papel submisso. O livro (e as suas sequelas e as cópias que inspirou) é extremamente mal escrito, absurdo e cretino. O sexo é repetitivo, degradante para as mulheres e ridículo. Leiam Marquês de Sade se gostam de sado-masoquismo, leiam boa literatura erótica. O problema aqui não é o erotismo e a conclusão fácil e conveniente que as mulheres aderiram à pornografia que se tornou agora "mainstream". Não. Meus amigos, o problema é que estamos a falar de livros muito maus com conceitos retrógados e que nos continuam a manter subjugadas às fantasias de violação, violência e perversidade que nos oprimem e mantêm no nosso lugar. Mesmo que a autora seja uma mulher, este livro não liberta as mulheres, agrilhoadas, escravizadas para o prazer masculino. As mulheres que são apenas julgadas com base no seu aspecto fisíco e cada vez mais "performance" sexual. Desmistificar o sexo não faz mal, mas que seja um sexo consensual, livre e saudável. Não venham dizer que a prostituição e a  pornografia são aceitáveis, porque não são e não é por razões morais. São uma indústria que desumaniza, oprime e corrói as mulheres, mesmo que elas tenham lucro e sejam participantes voluntárias. Este livrinho, escrito por uma mulher faz-nos regredir décadas. É perigoso e perpetua mitos como a dicotomia virgem-prostituta, que as mulheres querem ser possuídas e subjugadas e transformadas em objectos. O machismo e a desigualdade entre os sexos triunfaram se as próprias mulheres se convenceram de que é isto que querem, se se resignam a ler sorrateiramente e a debater entre risinhos adolescentes esta afronta, enquanto se increvem em mais uma aula de como dançar como num clube de strip-tease (pole dancing) e se endividam para pagar operações cirúrgicas para aumentar os seios e se inspiram na moda sado-masoquista porque assim se sentem "mais livres".

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