Wednesday 9 January 2008

Flashback dos anos 80

A energia contagiante da aeróbica


Hoje fui a uma aula de aeróbica, um estilo de exercício (ou mesmo uma forma de vida) que começou nos anos 80, era em que atingiu o seu apogeu e que nas últimas décadas, eu e milhões de outras pessoas substituíram pelo ioga e pilates. Contudo, vale a pena analisar a aula de aeróbica em toda a sua complexidade semiótica. Para mim, a experiência foi um flashback das minhas tentativas (falhadas) de me tornar um clone da Jane Fonda nos anos 80. Nessa altura eu frequentava o Keep Fit em Lisboa. A aeróbica fazia-me suar, não por causa dos pulos e passos de dança que parece que os participantes tomaram anfetaminas, mas devido a sentimentos de pânico puro. Pânico de ver mulheres em "maillots" que deixam pouco à imaginação, em cima de "collants" coloridas, com meias de lá sem pé e fitas na cabeça a controlar as volumosas cabeleiras com permanentes horrendas. Infelizmente também eu ostentava uma permanente mais discreta, mas preferia o preto às cores garridas que eram compulsivas na altura. E, trajando fato de treino ou calções e T-shirt tremia de medo das aulas de aeróbica.

A minha descoordenação crónica e a tendência para fazer abdominais e flexões à maneira militar e não feminina inspiraram sentimentos de frustação em muitas professoras ou instrutoras da modalidade. A verdade é que sempre fui incapaz de agitar os braços e as pernas alternadamente, e ainda virar a cabeça e bater palmas de modo sério. Por isso, a minha estratégia era esconder-me no fundo da sala ("estúdio" na terminologia em causa) e evitar os espelhos. Mas, o mulherio competitivo da aeróbica (no ioga também existe, de forma diferente) não perdoa e costumava suspirar e lançar-me olhares de fúria ou pena, por eu estragar o quadro. Como se estivessem a encenar para dançar com o Patrick Swayze no "Dirty Dancing".

Nada mudou na simbologia da aeróbica. Ainda há mulheres que se vestem à anos 80 (embora já não usem "maillots", graças a Deus), a música reflecte a época com tendência para o Phil Collins, Wham, o Flashdance e o Footloose e os filmes absurdos de pessoas irreverentes cujo crime principal é quererem dançar e contagiar multidões que saltam para as ruas, género "Fame". Nestes casos, ninguém fica muito indignado, a não ser os "maus" que são contra a dança.

A aula estava a abarrotar (quanto menos espaço para os pulos, melhor) e a música ultra-animada competia com os gritos da instrutora, loura, atlética com fato cor-de-rosa e maquilhagem a escorrer na face sorridente. O grupo dava passos para a frente e para trás e para os lados, de repente todos corriamos com os braços no ar, como se o mundo fosse acabar.

E quase acabou para mim. Claro, que não conseguia seguir nem a "coreografia" nem o ritmo.

Finalmente era altura de levantarmos pesos e fazer abdominais, enquanto a simpática instrutora berrava para nos motivar. "Livrem-se dos quilos do Natal", "este exercício é para os braços, querem ter asas de morcego?, "Mexam-me esses rabos". Ou seja nada mudou...só falta aparecer o Kevin Bacon, que não esqueçamos, no clássico "Footloose" vivia numa terreola em que a dança foi proíbida...Se calhar com razão.


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