Tuesday 22 January 2008

Política e religião na corrida à Casa Branca





Muitos são os que pensam que o próximo presidente dos Estados Unidos dificilmente será pior do que George W. Bush. Na semana passada, uma sondagem de opinião ABC/Washington Post mostrava que a popularidade de Bush caiu abaixo dos 33%, a percentagem mais baixa desde que tomou as rédeas do poder em Janeiro de 2001. Nixon e Carter conseguiram ser ainda mais impopulares, mas nunca um presidente gerou a controvérsia, a ridicularização, a incongruência verbal, o absurdo a que Bush nos habitou nestes perigosos e conturbados anos.
Contudo, há dois candidatos à nomeação republicana que poderão vir a competir com o texano no capítulo das polémicas domésticas e internacionais. Mike Huckabee e Mitt Romney, ambos profundamente religiosos, de direita, pela defesa do “lobby” pró-armas, contra o aborto, contra os direitos dos homosexuais, pela “independência e segurança no sector da energia”, o que pode significar uma continuação da desastrosa política ambiental de Bush.
Mas convém distinguir entre Huckabee, ex-pastor da Igreja Baptista evangélica, que se pode argumentar ser fundamentalista cristão e o milionário Romney, que é Mormon, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Romney, que era governador do Massachusets mudou a posição face a alguns dos assuntos referidos anteriormente, tendo se tornado ainda mais conservador, partindo inicialmente de uma posição algo aberta e ambígua, num estado que é considerado bastante progressista.
Huckabee apela à chamada “Bible belt”, a região sudeste dos Estados Unidos, com fortes raízes protestantes, onde a prática da religião é ferverosa e intrínseca à cultura local. O ex-pastor e governador do Arkansas defende que “o papel da religião deve ser reforçado e “trazido para a esfera pública”. Huckabee comparou a homosexualidade à bestialidade e nega o evolucionismo, acreditando que a terra foi criada por Deus após o dilúvio há 10 mil anos. O desprezo pela ciência e o racionalismo está a ganhar cada vez mais adeptos nos Estados Unidos e não só.
Mas, o mais preocupante é que a doutrina do criacionismo seja ensinada nas escolas. (De pequeno se fanatiza o pepino). Os baptistas interpretam a bíblia de maneira literal e vêem como heresia ou blasfémia quaisquer divergências. E é aqui que surge o principal problema de Romney. Mau-grado ser visto como um sucesso em termos de gestão dos projectos a que esteve associado, como governador, em termos capilares (um dos pontos mais importantes para qualquer candidato que se preze. Não é por acaso que o Democrata, John Edwards gastou mais de 200 Euros num corte de cabelo) o facto de ser mormon é catastrófico para as suas aspirações políticas. O mormonismo é considerado um “culto”, no sentido pejorativo da palavra, fora da tradição cristã embora seja na verdade uma seita, na medida em que é como as Testemunhas de Jeová ou Adventistas do Sétimo Dia, um movimento separatista face a uma tradição protestante. Os mormons não aceitam a divina trindade, alguns praticam a poligamia e vivem em comunidades segregadas, além de acreditarem num Testamento alternativo (o Livro de Mormon) que conta que Jesus Cristo esteve nos Estados Unidos (em pesssoa) e dizem ter os arquivos genealógicos mais completos do mundo (para a salvação e baptismo de almas).
Quem será mais indicado para a Casa Branca? Do lado Democrata, os Metodistas Unidos (maior denominação protestante do país), Clinton e Edwards, o protestante da Igreja Unida de Cristo, Obama? Do lado Republicano temos o evangélico baptista Huckabee, o mormon Romney, o também evangélico bastista McCain ou o católico Giulliani? Mais chocante do que um candidato ser negro, do sexo feminino, divorciado (Giulliani vai no terceiro casamento) será um candidato que tiver a coragem de ser agnóstico ou ateu num país onde o fundamentalismo cristão é galopante.

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