Friday 11 January 2008

Hillary Clinton e a Misogenia Reinante



Apesar de as eleições norte-americanas não serem um tema óbvio para este blogue, serão acompanhas aqui, já que 2008 é um ano crucial com a escolha de um novo presidente, após oito anos de administração Bush. Esta corrida presidencial a todos diz respeito e tem impacto a nível global. O novo líder tomará decisões, que claro afectam o futuro de 300 milhões de americanos. Será que finalmente será implementado um sistema de saúde universal, será que as divisões politícas, económicas, socais e raciais poderão ser ultrapassadas, será que o cinismo, as desconfiança e desprezo pelo processo político poderão dar lugar a um novo optimismo, são as grandes questões. O próximo residente da Casa Branca vai herdar um difícil legado de intervenções militares falhadas, uma economia em queda e má vontade geral perante uma super-potência que se recusa a fazer face aos desafios do aquecimento global e cuja política externa contribuiu para radicalizar e alienar gente desde o Paquistão ao Iraque. Muito tem sido escrito e dito sobre o duelo Democrata entre o suposto "primeiro negro" e a suposta "primeira mulher", o que em si só paternalista é sintomático de como estes grupos tão dominantes em termos populacionais foram mantidos à margem do sistema político de Washington.
Hillary Clinton, a ex-primeira dama venceu as primárias para a nomeação do Partido Democrata em New Hampshire e logo se construiu uma narrativa em torno do facto de ela ter "quase chorado" e ter conseguido conquistar eleitoras, quando a maioria das sondagens indicam que as mulheres preferem Barack Obama. A célebre apresentadora de "talk shows" que se transformou numa influente "marca", Oprah também prefere Obama, mas as suas credenciais são duvidosas (apoiante do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger).
Os ataques a Hillary Clinton são incessantes e raramente políticos homens são acusados dos mesmos crimes: terem rugas, terem excesso de peso, terem um penteado fora de moda ou vestirem-se mal. Estas críticas são feitas de maneira mesquinha e revelam um ódio e desprezo misógino.
A senadora do estado de Nova Iorque não é apenas a ex-mulher do mulherengo Bill Blinton, humilhada em público, ridicularizada e penalizada por ter dito que o seu objectivo "não era fazer bolos" e não ter mudado o nome quando casou com Bill, como qualquer primeira dama que se preze. Ao contrário de Laura Bush, Hillary Rodham Clinton não existe para enfeitar e sorrir. Leal ao marido, sim, mas com um carisma, uma garra e inteligência a que não estamos habituados. Hillary Clinton faz discursos na campanha com homens na multidão que gritam "vai para casa fazer o jantar". Li artigos em que jornalistas (homens) simpatizam, com o pobre Bill Clinton por ter que viver com uma mulher tão masculina e mandona que o proibiu de comer pizzas e hamburgers e de fumar. Não admira que ele tenha tido tantas amantes...Outros escrevem que se ela ganhar será por causa do marido e da sua popularidade. É este o nível da análise política sobre a candidatura de uam mulher que tem a audacidade de não ser nova e cretina.
Os meios de comunicação descrevem-na ou como mulherzinha choramingona, emocional (um dos piores pecados para uma mulher no mundo dos negócios ou da política) incapaz e incompetente ou como "robot" desumana, fria e calculista. Bush pode chorar, Giulliani derramou muitas lágrimas e futebolistas e desportistas passam o tempo com a cara encharcada, tal é a sua dor ao perder ou ganhar. Em público, as mulheres normalmente não podem e não devem chorar, porque logo aparece alguém que vem dizer que são as "hormonas", a Tensão Pré-Menstrual ou a menopausa.
No caso de Hillary, o cinismo da imprensa interpretou aquele momento de vulnerabilidade como uma encenação estudada para cativar o eleitorado feminino, que claro é tão pouco sofisticado que se sente atraído apenas pelos fatos de bom corte, o sorriso e beleza de Barack Obama.
Apesar de toda a onda de entusiasmo em redor de Obama, Clinton como animal político que é teve que apertar com ele e lembrar que as recentes comparações com J.F. Kennedy são absurdas, que Obama não passou décadas no senado, nunca dirigiu nenhuma empresa ou organização, nem é veterano de guerra como o era, o idolatrado presidente assassinado em 1963. Após ter perdido em Iowa, Clinton não ganhou em New Hampshire porque lhe tremeu a voz, mas porque é uma lutadora com uma retórica realista, que sabe que as palavras mais gastas em campanhas eleitorais são "mudança" e "esperança".

2 comments:

Adriano Magesky said...

Concordo bastante com você. Ainda confio muito na indicação de Hillary. O que você acha?

catarina said...

Obrigada pelo seu comentário. Ainda há esperança de que Hillary seja nomeada para a candidatura dos Democratas, apesar do fenómeno Obama ser muito forte.