Friday 22 February 2008

Atonement, Ian McEwan

Ainda não vi o filme, nomeado para vários Óscares (incluindo a categoria de Melhor Filme) mas aconselho vivamente a leitura de Atonement, Expiação. Há muitos anos que não lia um livro que além de ser impossível pôr de lado é de uma perfeição perturbante, no estilo, na linguagem, na "voz" ou "vozes" narrativas, na história, nos detalhes, no ambiente, nas emoções que provoca, na densidade das personagens. Expiação é um daqueles livros que não queremos nunca que acabe, em que queremos entrar e em que o próximo livro em que pegarmos vai ser uma desilusão a não ser que seja um clássico de uma qualidade inquestionável. Este romance é pois um clássico instântaneo embora não tenha ganho o prestigiado Prémio Booker.
Ao contrário de muitos livros, Expiação melhora à medida que se vai lendo até à última página.
A acção passa-se em 1935 na mansão da família Tallis. Briony é uma menina mimada de 13 anos e com uma imaginação fértil que quer ser escritora e escreve peças de teatro e pequenos contos. O facto de ela ser escritora é crucial para o autor, Ian McEwan que teve que insistir que este facto fosse incorporado no argumento do filme. Na ânsia da simplificação, o filme pretendia omitir as aspirações literárias da criança, que são no fundo centrais à intriga.
Briony sente-se perturbada com a relação estranha entre a irmã, Cecilia e o filho do jardineiro, Robbie. A vida de várias pessoas é transtornada irremediavelmente com a revelação de que Lola, uma prima de Briony e Cecilia foi violada numa gruta, nas imediações dos jardins da mansão Tallis. Briony acusa Robbie e é esse pecado que terá que expiar para o resto da vida.
A sua precocidade misturada com infantilidade profunda faz com que ela se convença e consiga convencer os outros (com a excepção de Cecilia) e a polícia de que Robbie é um predador sexual.
A premissa é muito simples: Como é que uma mentira consegue destruir tantas vidas, quem é inocente e quem é culpado, quais as diferenças entre os vários tipos de mentiras. Será que o amor ou a promessa do amor é capaz de sustentar os horrores da guerra, da prisão, da infelicidade extrema?
Expiação toca nos grandes temas da vida e da literatura: a absurda desumanização da guerra, as divisões sociais na Inglaterra, a ambiguidade moral. Acima de tudo é sobre o papel da ficção e a ilusão que esta confere de que a realidade pode ser manipulada. O escritor é como um Deus ao moldar e controlar a história e os "fantoches" que são as suas personagens, mas será mesmo assim? Por favor, leiam este livro...

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