Wednesday 12 March 2008

Ataques, Escândalos, Racismo e Machismo numa Sociedade Confusa

Samantha Power, uma assessora de Obama teve que se demitir depois de ter dito que Hillary Clinton era um "monstro". Estes comentários foram feitos ao jornal "Scotsman" e eram supostamente "off the record". É difícil de conceber que esta senhora que escreveu uma biografia do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello e ganhou o prémio Pulitzer não sabia que o "off the record" não existe. Uma entrevista não é uma conversa normal em que se pode dizer uma coisa e depois negá-la ou pedir para que essas declarações não sejam publicadas.
Entretanto, as atenções foram desviadas das eleições Primárias com a demissão forçada e arrastada de Eliot Spitzer, Governador de Nova Iorque por envolvimento numa rede de prostituição de alto luxo. Apesar de as relações entre Spitzer e Hillary Clinton serem ténues (ele apoia-a) alguns meios de comunicação social, na ânsia de atacar a candidata à nomeação Democrata já referiram que este escândalo lembra o caso das escapadelas de Bill Clinton. A pobre mulher de Spitzer lá apareceu ao lado dele, mostrando-se solidária e recordando o público das humilhações de Hillary, também leal ao marido adúltero. Mais uma vez, colunistas vêm questionar a experiência da Senadora de Nova Iorque, "cuja estadia na Casa Branca não lhe deu a experiência necessária para controlar o marido". Ou seja, não há tema que não sirva para denegrir as credenciais de Hillary.

Votar em Obama para aliviar a culpa

Separadamente, uma apoiante de Clinton, Geraldine Ferraro declarou que Obama "tinha sorte" de ser negro e de não ser mulher. O que ela queria reforçar era que o machismo é mais forte do que o racismo e que a raça é uma questão tão complexa que neste caso pode até estar a favorecer Obama (adorado pela imprensa que não aplica a mesma ferocidade que reserva para a sua rival)
Trevor Phillips, o presidente da Comissão para a Igualdade Racial e Direitos Humanos e uma das figuras mais importantes na comunidade afro-caribenha na Grã-Bretanha escreveu na revista "Prospect" que a eleição de Obama poderá prolongar as divisões raciais nos Estados Unidos. Na sua opinião, o entusiasmo da classe média branca com a campanha de Obama está associada à culpa colectiva e interiorizada por causa da escravatura. "Votar em Obama é uma negação fácil do racismo de cada pessoa. Desde que não tenha que viver ao lado dele. Obama ainda não conseguiu angariar votos em zonas brancas adjacentes a zonas negras". Phillips compara Obama a celebridades como Oprah Winfrey e Bill Cosby que têm um acordo tácito que lhes permite serem aceites e que implica porem de parte a questão racial.
O que tudo isto mostra é uma sociedade dividida, em termos de raças e de sexos, com valores morais confusos e hipócritas.
Obama luta pela unificação, mas esta exige a obilteração do passado. E é isso que Obama promete, uma América com um futuro harmonioso. Custa-me a acreditar que sem resolver e equilibrar as desigualdades esse projecto se possa concretizar.

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