Samantha Power, uma assessora de Obama teve que se demitir depois de ter dito que Hillary Clinton era um "monstro". Estes comentários foram feitos ao jornal "Scotsman" e eram supostamente "off the record". É difícil de conceber que esta senhora que escreveu uma biografia do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello e ganhou o prémio Pulitzer não sabia que o "off the record" não existe. Uma entrevista não é uma conversa normal em que se pode dizer uma coisa e depois negá-la ou pedir para que essas declarações não sejam publicadas.
Entretanto, as atenções foram desviadas das eleições Primárias com a demissão forçada e arrastada de Eliot Spitzer, Governador de Nova Iorque por envolvimento numa rede de prostituição de alto luxo. Apesar de as relações entre Spitzer e Hillary Clinton serem ténues (ele apoia-a) alguns meios de comunicação social, na ânsia de atacar a candidata à nomeação Democrata já referiram que este escândalo lembra o caso das escapadelas de Bill Clinton. A pobre mulher de Spitzer lá apareceu ao lado dele, mostrando-se solidária e recordando o público das humilhações de Hillary, também leal ao marido adúltero. Mais uma vez, colunistas vêm questionar a experiência da Senadora de Nova Iorque, "cuja estadia na Casa Branca não lhe deu a experiência necessária para controlar o marido". Ou seja, não há tema que não sirva para denegrir as credenciais de Hillary.
Votar em Obama para aliviar a culpa
Separadamente, uma apoiante de Clinton, Geraldine Ferraro declarou que Obama "tinha sorte" de ser negro e de não ser mulher. O que ela queria reforçar era que o machismo é mais forte do que o racismo e que a raça é uma questão tão complexa que neste caso pode até estar a favorecer Obama (adorado pela imprensa que não aplica a mesma ferocidade que reserva para a sua rival)
Trevor Phillips, o presidente da Comissão para a Igualdade Racial e Direitos Humanos e uma das figuras mais importantes na comunidade afro-caribenha na Grã-Bretanha escreveu na revista "Prospect" que a eleição de Obama poderá prolongar as divisões raciais nos Estados Unidos. Na sua opinião, o entusiasmo da classe média branca com a campanha de Obama está associada à culpa colectiva e interiorizada por causa da escravatura. "Votar em Obama é uma negação fácil do racismo de cada pessoa. Desde que não tenha que viver ao lado dele. Obama ainda não conseguiu angariar votos em zonas brancas adjacentes a zonas negras". Phillips compara Obama a celebridades como Oprah Winfrey e Bill Cosby que têm um acordo tácito que lhes permite serem aceites e que implica porem de parte a questão racial.
O que tudo isto mostra é uma sociedade dividida, em termos de raças e de sexos, com valores morais confusos e hipócritas.
Obama luta pela unificação, mas esta exige a obilteração do passado. E é isso que Obama promete, uma América com um futuro harmonioso. Custa-me a acreditar que sem resolver e equilibrar as desigualdades esse projecto se possa concretizar.
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