Friday, 30 January 2009

Uma salada divinal

Ottolenghi é um café/restautrante/padaria/loja "gourmet" que começou um Islington, Norte de Londres e agora é uma cadeia. Ottolenghi é judeu e o parceiro na cozinha, palestiniano. As influências são mediterrânicas e do Médio Oriente e os preços são exorbitantes. Mas há um livro de receitas já publicado e aqui replico uma das receitas a que adicionei chili e sumo de laranja (nunca fui capaz de seguir religiosamente uma única receita)

Ingredientes

200 gr Feijão verde
200 gr Mangetouts (tipo de feijão verde)
70 gr avelãs
1 alho
1 dedo de chili fresco
3 colheres de óleo de avelã, noz ou azeite
1 laranja
cebolinho

Método

Ferve-se os feijoões verdes durante quatro minutos e os mangetouts durante um minuto em panelas separadas, junta-se e passa-se por água fria.
Assa-se as avelãs no forno durante cinco minutos, até tostadas e esmaga-se
Pica-se o alho, o cebolinho e o chili
Rala-se casca de laranja e espreme-se metade da laranja
Misturam-se os ingredientes e tempera-se com o óleo ou azeite e o sumo de laranja
Esta salada pode ser servida como acompanhmento de peixe...

Wednesday, 28 January 2009

5 Livros sobre Jornalismo

1-Scoop, Evelyn Waugh
Este romance é uma divertida crítica ao sensacionalismo de Fleet Street e ao mundo dos correspondentes estrangeiros no dealbar da II Guerra Mundial. Escrito em 1938, tem tons racistas e colonialistas nada politicamente correctos, mas a classe política e a aristocracia também não escapam ao estilo trocista de Waugh. Foi como correspondente, que o autor foi enviado pelo Daily Mail à Abissínia para cobrir a invasão das tropas de Mussolini- É nesta experiência que se baseou para escrever "Scoop". Aqui, o protagonista, William Boot, tímido e naive autor de coluna sobre natureza num jornal é enviado por engano para África, para fazer reportagens sobre o conflito iminente na fictícia Ishmaelia. Apesar de nunca ter saído de Inglaterra e preferir a vida bucólica, o protagonista consegue acidentalmente o "Scoop", ou "cacha". A lógica dos jornais, jornalistas, a maneira como se comportam e competem uns com os outros, é dissecada com efeitos cómicos. Evelyn Waugh é mais conhecido pela obra "Brideshead Revisited", de 1945.

2-The Journalist and the Murderer, Janet Malcolm
Este livro, publicado em 1990 é um fascinante ensaio sobre ética. A teoria de Malcom é de que "qualquer jornalista que não é demasiado estúpido ou convencido, sabe que o trabalho que faz é moralmente indefensível". Isto porque os jornalistas traem constantemente os "sujeitos" das reportagens, aproveitando-se da sua vaidade, ignorância ou solidão para aceder a informações.
A suposta "traição" é justificada com a liberdade de expressão, do direito das pessoas saberem a "verdade", da necessidade de ganhar a vida. A profissão de jornalista é despojada de roupagens morais e exposta através de um caso real. Um jornalista que se torna amigo de um homem acusado de ter morto a mulher e os filhos para depois o atraiçoar. Malcom acha que mesmo um assassino não merece ser enganado e levanta sérias questões sobre as responsabilidades dos repórteres face às pessoas que usam e entrevistam e face ao público

3-Hidden Agendas, John Pilger
O mais substancial e interessante ataque aos meios de comunicação social como cúmplices de governos tirânicos. Pilger não é apenas um correspondente de guerra, mas um activista e anticapitalista. O jornalista australiano tornou-se um cruzado pelos direitos dos povos oprimidos e esquecidos, um herói da esquerda, tendo ficado conhecido pelas suas reportagens em Timor Leste desde os anos 70, chamando a atenção para um país invisível nos notíciários e expondo as ligações e inércia dos governos ocidentais face à Indonésia. "Hidden agendas" analisa vários casos, como o da Birmânia, a manipulação da informação na guerra do Golfo, a tirania de Israel, as injustiças da África do Sul na época do apartheid e a história vergonhosa da Austrália no tratamento da população aborígene. Pilger não acredita que o jornalista deva ser imparcial ou objectivo, mas que é sua obrigação ter uma consciência social e tomar partido a favor da posição correcta e moral.
"a verdade é sempre subversiva, se assim não fosse, porque é que os governos usariam tantos esforços em suprimi-la?"

4-Travels with Myself and Another, Martha Gellhorn
A jornalista e escritora americana Martha Gellhorn relata aqui as suas aventuras na China, Caraíbas, África, Israel e Rússia ao longo da sua carreira. É uma biografia, livro de viagens e conjunto de reportagens. "As suas piores viagens", como as descreveu.
Martha Gellhorn nasceu em 1908 no seio da classe média alta, mas cedo se interessou por escrever sobre a vida dos trabalhadores e dos que estavam à margem da sociedade no seu país, tendo escrito sobre a miséria na época da Grande Depressão.
Martha foi uma das primeiras mulheres correspondentes de guerra, tendo coberto a maioria dos grandes conflitos do século XX.
De 1940 a 1945 foi casada com o escritor Ernest Hemingway, com quem partilhava a ideologia e a maneira de estar na vida.

5-True Story: Murder, Memoir, Mea Culpa, Michael Finkel
Finkel conta a história fascinante de como foi despedido do New York por ter inventado parte de uma reportagem sobre as plantações de cacau na Costa do Marfim. Jornalista de topo num dos jornais mais prestigiosos do mundo, a sua reputação e carreira ficaram seriamente afectadas. O que é interessante é como ele explica o processo e as pressões e expectativas que o fizeram criar uma pessoa que teria entrevistado, mas que na realidade não existia. Antes de publicar a história, Finkel falou com o editor que basicamente lhe comunicou qual era a reportagem que queria, pelo que o jrnalista embelezou ou deturpou a verdade para produzir o que lhe era pedido. Caído em desgraça, o autor viu-se outra vez nas notícias quando um assassino, fugitivo do FBI usou o seu nome e identidade, o que o levou a investigar o caso. Este é um estudo sobre a fronteira entre a verdade e a mentira, a ambiguidade moral e a tentativa de reabilitação de um jornalista.

Monday, 26 January 2009

Viva a Kim Novak


Ontem vi pela segunda vez "Bell, Book and Candle" (1958) com a magnífica Kim Novak e James Stewart, reunidos no écran após aquele que é o meu filme preferido "Vertigo", de Hitchcock.
É uma comédia romântica em que Kim faz o papel de uma bruxa que se apaixona por um mortal. Muito poderia ser dito sobre as razões porque este par é tão fascinante, ele covencional e sério, ela excêntrica e misteriosa. Kim nunca escolheu papéis normais ou ligeiros, preferindo encarnar mulheres complexas e destabilizadas. Mas o mais interessante é quando vemos Kim e outras estrelas de cinema dos anos 50 e 60 e observamos como os seus corpos diferem dos das actrizes e modelos de hoje. A diferença é notável dos anos 80 e 90 para cá.
Há três décadas, a piscoterapeuta britânica, Susie Orbach identificou a gordura ou a obsessão com a gordura como uma questão feminista no livro "Fat is a feminist issue". A desigualdade entre os sexos seria a causa da ingestão compulsiva de alimentos e o facto das mulheres engordarem: para serem levadas a sério e tratadas sem frivolidades. Orbach identifica a raiz da maioria dos problemas de peso das mulheres na relação delas com as mães e destas com a comida.
Esta teoria, avançada em 1978, é extremamente datada e centra-se na ideia de que as mulheres querem se apagar como objectos de desejo sexual ao engordarem, à medida que continuam a fazer dietas ineficazes.
Na sua última obra, Orbach argumenta que as desordens alimentares e o sofrimento por causa da auto-imagem corporal não estão limitados a uma pequeno grupo, mas tornaram-se a regra geral. Vivemos numa sociedade obesa em que prevalecem as dietas e em que somos bombardeados com imagens de corpos considerados prefeitos, mas que no fundo são esqueléticos, emaciados e assexuados. Esse tornou-se o ideal de beleza no século XXI.
Ná época do pós-guerra, as mulheres podiam e deviam ter curvas, um sinal de saúde e prosperidade. Orbach nota que o corpo é agora um "projecto", sendo as pessoas responsáveis desde tenra idade em cultiva-lo para a magreza-beleza, recorrendo a qualquer meio, inclusive a cirurgia plástica.
O que tem isto a ver com Kim Novak? Tanto ela, como Ava Gardner, como a própria Marylin Monroe seriam postas em dietas hoje em dia pelos estúdios de Holywood. É de notar que Audrey Hepburn, considerada demasiado magra na altura esteja tanto na moda. Eu prefiro a Kim Novak.

Monday, 19 January 2009

A un Gato, Jorge Luis Borges




No son más silenciosos los espejos

ni más furtiva el alba aventurera;

eres, bajo la luna, esa pantera que nos es dado divisar de lejos.

Por obra indescifrable de un decreto divino,

te buscamos vanamente;

más remoto que el Ganges y el poniente, tuya es la soledad, tuyo el secreto.

Tu lomo condesciende a la morosa caricia de mi mano.

Has admitido, desde esa eternidad que ya es olvido, el amor de la mano recelosa.

En otro tiempo estás.

Eres el dueño de un ámbito cerrado como un sueño.

Diaristas do século XVII-Samuel Pepys

Samuel Pepys, deputado e funcionário público documentou o reinado de Carlos II e Catarina de Bragança em diários que manteve de 1659 a 1669.

Os diários foram escritos do prisma pessoal do autor, em estenografia (com abreviaturas e códigos), pelo que não visavam a publicação. Durante dez anos, Pepys escreveu sobre a sua vida e acontecimentos históricos como a Restauração da monarquia, a grande peste de Londres, o grande incêndio de Londres, as guerras anglo-holandesas.

O diarista gostava de vinho e de ir ao teatro, descrevendo o ambiente dos teatros, reabertos por Carlos II, após o período terem sido encerrados pela república puritana de Cromwell. Os seis casos amorosos extra-matrimoniais foram descritos em detalhe e com nomes disfarçados, não fosse a mulher, Elizabeth ler o diário.

Nascido em Londres em 1633, Samuel Pepys frequentou a universidade de Cambridge, adquirindo conhecimentos de matemática e ciências, bem como uma fomação artística e musical.

Nos diários, Pepys refere-se diversas vezes a Catarina de Bragança, desde o relato da sua chegada a mexericos da corte. As primeiras impressões foram as seguintes: " pode lhe faltar charme, mas parece ter um ar bom, modesto e inocente".

O abandono, as humilhações e a tristeza da rainha portuguesa na corte libertina com Carlos II e as suas amantes são também relatadas. O seu desejo de produzir um herdeiro e a sua infertilidade são de igual modo motivo de comentário, assim como a sua visita às termas de Turnbridge Wells, na busca fútil de uma cura.

Como Catarina de Bragança, Samuel Pepys foi vítima da chamada conspiração papista, em que a Rainha e outros foram acusados formalmente no parlamento de fazer parte de uma conspiração para assassinar o rei. Muitos católicos foram perseguidos e mortos.
Contudo o rei nunca acreditou nas acusações e tanto a Rainha como o diarista foram ilibados.

Thursday, 15 January 2009

Maternidade-novo desporto competitivo

Um artigo de opinião publicado no Times de hoje irritou-me de tal maneira que decidi escrever aqui sobre o controverso e muito debatido tema da maternidade e o mercado de trabalho.
Tudo veio a propósito da ministra francesa da justiça, Rachida Dati que regressou ao trabalho após cinco dias depois de ter tido um bébé por cesariana. (Acho muito mais chocante que o ex-Primeiro ministro espanhol José-Maria Aznar possa ser o progenitor! )
De qualquer modo, o caso da super-ministra que apareceu magra e de saltos altos na reunião do executivo Sarkozy logo depois de ter tido o bébé inspirou uma senhora chamada Michelle Mone, que fundou e é directora duma empresa de "lingerie" a escrever o tal artigo. Michelle explica que a ministra foi obrigada a regressar ao trabalho imediatamente e que ela fez o mesmo. Porquê? porque tinha um negócio a gerir e para tal deu instruções ao marido e ao resto da família para tomarem conta da bébé. Esta interferiu com os planos do lançamento dum novo "soutien" da sua empresa e Michelle sentiu-se culpada, mas escolheu avançar com o negócio e esconder de quase toda a gente que tinha tido uma filha. A empresária dá a entender que o marido lhe deu muito apoio, embora a relação tenha sido afectada: " It affects your relationship with your husband because you have so many tasks to do that you've no time whatsoever; you don't want to be even in the same room as him."
Contudo, o mais peocupante para mim é a parte em que ela diz gerir a casa como um negócio: "My staff, the kids and my husband have key performance indicators and every Friday we get together with a flip chart and mark how the week has been."
Ou seja, a senhora está tão ocupada que nem quer ver o marido e trata a família como os empregados da empresa, com reuniões e avaliações da "performance".
Enquanto a motivação da ministra francesa e também de Sarah Palin, a candidata republicana (no escritório três dias após o parto-tempo recorde!) é a ambição politica e de avanço de carreira, a de Michelle é de ordem profisisonal, mas principalmente económica. Para ela é crucial ganhar dinheiro e que as suas crianças possam estudar em colégios privados e com um nível de vida bom.
Esta pressa em regressar ao trabalho e em retomar a carreira tem sido atacada na imprensa, tanto por conservadores tradicionalistas em defesa da família e da natureza "sagrada da maternidade" como por feministas que acham que as mulheres devem ususfruir dos direitos que conquistaram, como a licença de parto.
Para mim existem duas questões:
1-As mulheres devem ter o direito a escolher e a não serem julgadas e crucificadas (mesmo a Sarah Palin) por quererem ou terem que trabalhar, por não quererem amamentar, por terem pouco tempo para os filhos, por não se adequarem a uma imagem da "mãe e dona de casa perfeita".
2-Por outro lado, é lamentável que vivamos numa sociedade que as mulheres não podem ser mulheres e estar grávidas e ter filhos e tomar conta deles, sem terem que adoptar atitudes masculinas para serem respeitadas e ganharem credibilidade profissional. Ou seja, as características femininas têm que ser suprimidas (a própria Palin também escondeu a última gravidez durante 7 meses). As mulheres não podem ser emocionais ou chorar ou serem "hormonais". Por isso é comum mulheres em posições de poder serem extremamente rígidas e intolerantes face a outras mulheres. Uma colega gestora na minha empresa que tem uma filha disse que não gostava de contratar mulheres com crianças e que não lhes dava qualquer flexibilidade.

No Reino Unido, em que a lei estipula que a entidade empregadora tem que pagar apenas 90% do salário durante seis semanas, em que existe muito pouca flexibilidade para mães que trabalham e em que as creches custam os olhos da cara, a maternidade não é valorizada, quando muito é santificada dum modo irrealista.
O que as mulheres não percebem é que são elas que se têm que respeitar a si próprias e respeitar as escolhas das outras mulheres, sem perder de vista a construção dum sistema mais justo. Talvez assim, possamos escapar ao individualismo, egoísmo, materialismo e concorrência desenfreada dum modelo social tipicamente masculino em que o trabalho e o lucro se sobrepõem às relações familiares e à solidariedade social.
A feminista Germaine Greer disse: "se a igualdade significa o direito a partilhar os lucros da tirania económica, é incompatível com a emancipação. Liberdade num mundo que não é livre é apenas uma luz verde para a exploração".
O mesmo se pode dizer da maternidade. A utopia é que as mulheres recebam salários iguais aos homens, que ser mãe, trabalhadora ou não, seja uma actividade a que é dado o devido valor e não "masculinizada" e tornada um desporto competitivo.

http://women.timesonline.co.uk/tol/life_and_style/women/families/article5518256.ece

Wednesday, 7 January 2009

Feiras no gelo e curiosidades do século XVII


Um programa recente da BBC Rádio sobre Feiras no gelo, que ocorreram no rio Tamisa em Londres entre o século XVI e XIX inspirou-me a escrever sobre os cronistas Samuel Pepys e John Evelyn que documentaram o reinado de Carlos II e Catarina de Bragança no século XVII. O país atravessava a chamada “Mini-Idade do Gelo” e 1683-84 foi um ano particularmente frio em que Tamisa congelou. John Evelyn descreve assim a feira:
“Carruagens deslocaram-se de Westminster a Temple como se andassem na rua, viam-se trenós, jogos em que buldogues atacam um touro, corridas de cavalos, fantoches, bancadas de comida, pessoas bêbadas, o que parecia um triunfo bacanal ou um carnaval sobre a àgua”.
Os diaristas surgem no século XVII e tanto Evelyn como Pepys são essenciais para compreender como viviam as pessoas na época da Restauração. Após ter vivido em França e Itália, no exílio durante a República de Cromwell, John Evelyn regressa a Inglaterra em 1652 e instala-se na casa da família da mulher em Deptford no sul de Londres (não longe da minha própria residência modesta e vitoriana).
Interessado em jardins, horticultura, ciência, tecnologia, cultura, era versátil, estudioso e curioso por natureza, tornando-se membro fundador da “Royal Society” e presença regular na corte, pago por Carlos II para escrever e fazer relatórios sobre assuntos de ordem pública. Assim como Pepys era um bibiófilo, cuja biblioteca continha 3,859 e 822 panfletos quando morreu em 1706.

(continua)