Wednesday 28 January 2009

5 Livros sobre Jornalismo

1-Scoop, Evelyn Waugh
Este romance é uma divertida crítica ao sensacionalismo de Fleet Street e ao mundo dos correspondentes estrangeiros no dealbar da II Guerra Mundial. Escrito em 1938, tem tons racistas e colonialistas nada politicamente correctos, mas a classe política e a aristocracia também não escapam ao estilo trocista de Waugh. Foi como correspondente, que o autor foi enviado pelo Daily Mail à Abissínia para cobrir a invasão das tropas de Mussolini- É nesta experiência que se baseou para escrever "Scoop". Aqui, o protagonista, William Boot, tímido e naive autor de coluna sobre natureza num jornal é enviado por engano para África, para fazer reportagens sobre o conflito iminente na fictícia Ishmaelia. Apesar de nunca ter saído de Inglaterra e preferir a vida bucólica, o protagonista consegue acidentalmente o "Scoop", ou "cacha". A lógica dos jornais, jornalistas, a maneira como se comportam e competem uns com os outros, é dissecada com efeitos cómicos. Evelyn Waugh é mais conhecido pela obra "Brideshead Revisited", de 1945.

2-The Journalist and the Murderer, Janet Malcolm
Este livro, publicado em 1990 é um fascinante ensaio sobre ética. A teoria de Malcom é de que "qualquer jornalista que não é demasiado estúpido ou convencido, sabe que o trabalho que faz é moralmente indefensível". Isto porque os jornalistas traem constantemente os "sujeitos" das reportagens, aproveitando-se da sua vaidade, ignorância ou solidão para aceder a informações.
A suposta "traição" é justificada com a liberdade de expressão, do direito das pessoas saberem a "verdade", da necessidade de ganhar a vida. A profissão de jornalista é despojada de roupagens morais e exposta através de um caso real. Um jornalista que se torna amigo de um homem acusado de ter morto a mulher e os filhos para depois o atraiçoar. Malcom acha que mesmo um assassino não merece ser enganado e levanta sérias questões sobre as responsabilidades dos repórteres face às pessoas que usam e entrevistam e face ao público

3-Hidden Agendas, John Pilger
O mais substancial e interessante ataque aos meios de comunicação social como cúmplices de governos tirânicos. Pilger não é apenas um correspondente de guerra, mas um activista e anticapitalista. O jornalista australiano tornou-se um cruzado pelos direitos dos povos oprimidos e esquecidos, um herói da esquerda, tendo ficado conhecido pelas suas reportagens em Timor Leste desde os anos 70, chamando a atenção para um país invisível nos notíciários e expondo as ligações e inércia dos governos ocidentais face à Indonésia. "Hidden agendas" analisa vários casos, como o da Birmânia, a manipulação da informação na guerra do Golfo, a tirania de Israel, as injustiças da África do Sul na época do apartheid e a história vergonhosa da Austrália no tratamento da população aborígene. Pilger não acredita que o jornalista deva ser imparcial ou objectivo, mas que é sua obrigação ter uma consciência social e tomar partido a favor da posição correcta e moral.
"a verdade é sempre subversiva, se assim não fosse, porque é que os governos usariam tantos esforços em suprimi-la?"

4-Travels with Myself and Another, Martha Gellhorn
A jornalista e escritora americana Martha Gellhorn relata aqui as suas aventuras na China, Caraíbas, África, Israel e Rússia ao longo da sua carreira. É uma biografia, livro de viagens e conjunto de reportagens. "As suas piores viagens", como as descreveu.
Martha Gellhorn nasceu em 1908 no seio da classe média alta, mas cedo se interessou por escrever sobre a vida dos trabalhadores e dos que estavam à margem da sociedade no seu país, tendo escrito sobre a miséria na época da Grande Depressão.
Martha foi uma das primeiras mulheres correspondentes de guerra, tendo coberto a maioria dos grandes conflitos do século XX.
De 1940 a 1945 foi casada com o escritor Ernest Hemingway, com quem partilhava a ideologia e a maneira de estar na vida.

5-True Story: Murder, Memoir, Mea Culpa, Michael Finkel
Finkel conta a história fascinante de como foi despedido do New York por ter inventado parte de uma reportagem sobre as plantações de cacau na Costa do Marfim. Jornalista de topo num dos jornais mais prestigiosos do mundo, a sua reputação e carreira ficaram seriamente afectadas. O que é interessante é como ele explica o processo e as pressões e expectativas que o fizeram criar uma pessoa que teria entrevistado, mas que na realidade não existia. Antes de publicar a história, Finkel falou com o editor que basicamente lhe comunicou qual era a reportagem que queria, pelo que o jrnalista embelezou ou deturpou a verdade para produzir o que lhe era pedido. Caído em desgraça, o autor viu-se outra vez nas notícias quando um assassino, fugitivo do FBI usou o seu nome e identidade, o que o levou a investigar o caso. Este é um estudo sobre a fronteira entre a verdade e a mentira, a ambiguidade moral e a tentativa de reabilitação de um jornalista.

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