Friday 12 October 2007

Mais vale tarde do que nunca

Doris Lessing: Prémio Nobel da Literatura

Doris Lessing é uma daquelas escritoras que mereciam o mais prestigiado prémio literário há décadas. A certa altura a octagenária disse, com a franqueza que lhe é característica, que o influente júri de Estocolmo “não gostava muito dela”. A sua reacção foi de extrema surpresa, segundo o "Times" que relata que ela tinha ido às compras e veio a saber que tinha ganho o prémio Nobel pelos jornalistas que estavam à porta de sua casa. "Tinha-me esquecido de que iam anunciar o vencedor do prémio. O meu nome está na "shortlist" há tantos anos (...) não me posso entusiasmar com isto todos os anos", declarou com naturalidade. Na realidade, muitos críticos literários que pensavam que o italiano Claudio Magris ou o americano Philip Roth eram escolhas mais prováveis também ficaram surpreendidos.

Filha do Império britânico, Doris Lessing nasceu na antiga Pérsia (Irão) em 1919, cresceu na Rodésia (Zimbabué), onde o pai tinha uma quinta. Em 1949 mudou-se para Londres onde reside.

A prolífica escrita de Doris Lessing tem um aspecto visionário e apocalíptico, tratando de temas como o racismo, o comunismo, o feminismo terrorismo e a destruição do ambiente.
O seu livro mais conhecido e controverso é “The Golden Notebook” (1962) a complexa história de uma escritora que está bloqueada e que escreve em quatro cadernos de cores diferentes, numa narrativa fragmentada sobre as várias partes da sua vida e a sua tentativa de se libertar dos padrões sociais exigidos às mulheres. Não é um livro para se ler por gosto ou para nos divertirmos. É um livro pesado que convida à análise e expressa sérias opiniões sobre política, sociedade, psicologia além de documentar uma vida interior em turbilhão.
Com uma carreira de 50 anos, Doris Lessing tem uma obra variada e produziu romances sociais, políticos e de semi-ficção científica.

Sobre necessidade da ficção proferiu: "It is my belief that we value narrative because the pattern is in our brain. Our brains are patterned for storytelling, for the consecutive".

E é isso que ela tem feito, contado histórias que mais do que reflectirem ou interpretarem o mundo actual, mostram um futuro possível, na maioria dos casos bastante deprimente.

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